Outros bem mais sábios

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Ao subirem a última colina antes que o terreno se estendesse em uma planície, Mia fez a carruagem parar. Costumava apreciar o momento em que Feuer, a fortaleza central dos Guardiões no país, finalmente surgia a sua frente. A planície abaixo se espalhava ao longe, cortada por um pequeno rio, com o vilarejo aninhado as suas margens. Então, na margem oposta, o terreno subia novamente, imenso, sólido e implacável, criando a posição defensiva natural em que estava Feuer.

Ela se lembrou das outras vezes em que tinha parado ali para encher os pulmões de ar: quando tinha matado pela primeira vez, logo após descobrir sobre o seu pai e cavalgado descontroladamente para longe de seu reino opressor. E mais recentemente, em uma ocasião feliz, quando tinha recebido a carta de sua professora avisando sobre sua mãe e voltou em plena missão para vê-la mais uma vez; seus companheiros nunca a culparam ou julgaram e agradecia imensamente por isso. A lembrança fez o cansaço sumir. Sua mãe estava ali, em algum lugar, segura.

-Chegamos- ela disse a Stern, o único dos companheiros que estava sentado na direção da carruagem com ela.

-Não enquanto ficarmos aqui perdendo tempo- ele respondeu calmamente

-Certo, vamos descer.

Ainda havia trabalhadores nos campos e eles ergueram o olhar de suas tarefas rotineiras de arar e semear quando ouviram o som dos cascos e da carruagem. Vários acenaram, reconhecendo a alma gêmea de Mariele, que era bem popular entre os agricultores. Por um breve momento, eles se perguntaram que notícias os Guardiões estariam trazendo, então deram de ombros e voltaram ao trabalho. Fosse o que fosse o Conselho era mais qualificado do que eles para lidar com elas.

Os cascos dos cavalos se moveram ruidosamente por alguns instantes sobre a ponte removível em cima do rio e finalmente iniciaram a última subida até o castelo. Passaram pelo portão principal, cumprimentando os guardas, e trotaram para o pátio, o som dos cascos dos cavalos mudando ao sair da ponte de madeira para a superfície de pedregulhos do átrio. Ali havia mais pessoas passando de um lado para o outro e elas olhavam os Guardiões com a curiosidade comum ao povo mais simples quando presenciava qualquer coisa que fugisse da rotina.

Ao se aproximarem do estábulo, uma das cavalariças mais jovens correu ansiosamente para recebê-los. Mia saltou para o chão, a garota se atirou nos braços da jovem Torre e as duas ficaram abraçadas, sentindo a presença uma da outra. Stern, Mariele e Klaus, que agora tinham saído da parte de trás da carruagem, pararam para olhar e sorrir para o jovem casal indiferente a tudo ao redor.

-Você voltou- Pauline sussurrou, a voz abafada pelo fato de o rosto estar apertado contra o material áspero da capa simples de pano que Mia usava.

-Estou de volta- ela concordou.

O leve aroma do perfume simples de Pauline enchia suas narinas e os cabelos morenos tocavam levemente a sua face. Depois de um longo momento Mia foi atingida por um leve golpe em sua cabeça e teve que interromper o abraço para manter o equilíbrio. Mariele as olhava um tanto constrangida.

-Parem com isso. Tem gente olhando.

Então logo atrás dela, com sua habitual leveza e descaso, apareceu Stern, com os facões, a besta e o arco. Ele as olhou de cima a baixo enquanto suspirava.

-Esses jovens libidinosos.

Pauline riu enquanto cumprimentava os dois.

-Olá, Prinz. É um honra vê-lo novamente.

-Por favor, me chame de Stern. Depois de tudo, acho que nós já passamos da fase do temor respeitoso.

Agora foi a vez de Klaus aparecer rindo, carregava uma caixa com toda a sua armadura e pertences.

Depois da EscuridãoWhere stories live. Discover now