Calçado em boas intenções

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- Olá, quem é você? Bom, não importa. Seja bem-vinda. Já que você é a nova porta-voz significa que algo aconteceu com Lerax, mas sua voz não está aqui, então suponho que não tenha sido destruído. Eu ficarei aqui bem perto, para que possa falar sem alertar as outras. Oh, perdoe minha grosseria. Nunca contei a você sobre as outras... você ouve elas também, certo? Como nós elas já foram porta-vozes, mas agora estão aqui, usando o que sabem para guiar os Anima. Bem, isso não é totalmente verdade. Algumas são antigas, outras novas, mas elas... mudaram. Acho que a Escuridão as transformou do mesmo jeito que fez com você.

"É o fim"

"Não acredito que ela foi escolhida"

"Precisamos ajudá-la"

- No que está pensando? Eu sei. Ouço os seus pensamentos. Você está pensando em se desativar. Não é tarde demais para se perder totalmente, ninguém vai julgá-la, ninguém nem ao menos saberá, mas a Escuridão se aproxima. Ela tem fome de vida, até mesmo anseia por isso. E ela pegou o seu general. Mesmo que esteja perdido ainda temos uma vaga noção de onde ele está e embora seu corpo seja um com as Trevas agora, sua mente ainda resiste, ele precisa descansar. Você não pode deixá-lo como está. Você precisa tentar.

"Ela não vai conseguir"

"Uma falha e será o fim"

"Fraca"

"É impossível"

"Ela é tudo o que temos"

- E então Apex, vamos lá?

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- Quase não parece fazer diferença - disse Klaus, sentado no banco de janela no quarto dele e de Stern, na estalagem. - Não importa se são dez ou dois Sanguessugas, nunca conseguiríamos vencer. Mas com esse número a única coisa que muda é o fato de que não podemos nos dar ao luxo de voltar para relatar isso aos superiores, a vila seria destroçada antes.

- Você acha que já não pensamos nisso? - Mia tinha o costume de esquecer como a gentileza era algo bom. - Quero dizer, a única opção é prender eles lá dentro e torcer pra morrerem de fome.

Klaus lançou um olhar irritado a ela.

- Isso é covarde demais pra mim, melhor acabar com tudo de uma vez.

Ele se inclinou para frente, fitando através dos painéis da janela. Os vultos escuros dos moradores transitavam pelas ruas com calma despreocupação.

- Bom, prefiro ser uma covarde viva a uma estúpida estraçalhada - afirmou Mia, com frieza na voz. -Ou será que você esqueceu que eu estou noiva?

- Parem de discutir - Mariele estava encostada na parede, tentando entalhar runas nas pedras que trouxera da Cidadela. São marcas e símbolos com a capacidade de manter, por certo período de tempo, o poder de um Nome. Infelizmente são poucas as palavras que podem ser transformadas em runas graças ao fato de que a energia acumulada é muito grande para a maioria dos materiais. Os mais recomendados são madeira de carvalho, folha de sabugueiro, quartzo e pele de animais. - Essa situação é séria, precisamos pensar com calma. Coloquem as coisas em perspectiva.

- Marie, você me conhece há cinco anos - disse Klaus. - Quando foi que já coloquei as coisas em perspectiva? Vocês me dizem em quem bater e eu bato, me dizem o que falar e eu falo. Pensar não é comigo.

Antes que ela pudesse responder a porta se abriu e Stern no quarto, trazendo um livro encadernado em couro marrom. Ele o segurava de tal maneira que encobria o título, mas todo Guardião sabe reconhecer um Bestiário, o registro completo de todas as criaturas existentes, suas forças e fraquezas. Seus olhos encontraram os dela e ele meneou a cabeça levemente, depois virou-se para Mia e Klaus. Os batimentos cardíacos de Mariele aceleraram por alguns instantes para depois se regularem, a tensão que sentia se dissipou. Ficar longe dele nunca era bom para ela.

Depois da EscuridãoWhere stories live. Discover now