4 | Estamos acorrentados ao horror

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— Acorda, dengo — ouvi Trevor sussurrando no meu ouvido, o jeito brincalhão que eu tanto amava. — Precisa levantar.

Abri um sorriso tímido e virei meu rosto para o travesseiro, típico de quem estava envergonhado por estar sendo acordado. Nem eu mesmo gostaria de ver meu reflexo desfiado agora.

— Depende da hora — murmurei.

Ele achou graça.

— São 7:25.

— Oh. Ainda é cedo.

— Não para mim.

Com um riso, me espreguicei na cama e abri meus olhos sonolentos para encarar o belo homem já arrumado sentado ao meu lado.

— Você sempre tem que começar o dia melhor que eu? — Tapei meu rosto.

— O que quer dizer?

— Você está lindo.

Seus dedos roçaram por dentro da minha regata e alcançaram meu peito.

— Como se você não fosse todo dia — disse ele, todo risonho. — Seu corpo é bem macio.

— E ele é somente seu.

Meu inconsciente glorificou de pé, sua maneira exagerada de ser me fazendo rir internamente.

— Não sabe o quanto eu esperei para ouvir isso. — Trevor balançou a cabeça, os olhos afáveis. — Venha, Fonseca preparou o melhor café da manhã da sua vida.

Assenti e me sentei.

— Levarei menos de dez minutos para me arrumar — murmurei, observando-o com uma expressão divertida.

— Tá okay. — Ele beijou minha testa e se levantou. — Eu não tive tempo para comprar sua escova de dente ainda, então pode usar a minha.

— Acho que nunca comprarei uma nova.

Trevor riu.

— Posso lidar com isso. — Ele me lançou uma piscadela e saiu do quarto.

Ah, minha nossa. Sim, eu poderia me acostumar a vê-lo assim sem me importar, e de certa forma fico feliz por Will ter me ameaçado — pois jamais aceitaria morar com Trevor sem antes pensar com muita calma, o que poderia levar dias ou meses. Talvez eu nem tivesse uma resposta após um bom tempo, quem sabe? Mas agora eu percebia que era isso o que eu queria mesmo: acordar todas as manhãs e me deparar com a pessoa que eu amo ao meu lado. Não havia lado negativo nisso.

Me levantei da cama em seguida e, antes de acertar a entrada do banheiro, dei uma olhada relutante na sala de pintura — que estava fechada — e pensei em como estaria seu estado caso eu entrasse dentro dela. Será que eu deveria entrar, afinal? É uma privacidade de Trevor... Mordi o lábio e fiquei parado, simplesmente encarando-a de perto, como se fosse uma porta para o inferno, e tentando decidir o que fazer. Okay, é rapidinho.

Andei até ela, a mente turbilhada, e a abri — surpreendida por estar destrancada — apertando os olhos, o receio de encontrar sabe-se lá o que falando alto. Quando dei liberdade de volta à minha visão, uma brancura deu as caras. Não havia nenhum quadro e nenhuma mancha espalhada: parecia que nunca havia ocorrido um caos aqui; ou como se Trevor nunca tivesse usado o local para desenhar suas pinturas.

Estava simplesmente vazio.

Não sei qual reação eu deveria formar, mas supus que o que eu via agora era melhor para Trevor. Se ele decidiu limpar por completo o lugar, eu estava feliz por ele. Talvez ele pudesse retornar a dedicar seu tempo de volta às pinturas mais à frente — e se isso fosse realmente acontecer, eu gostaria de ajudá-lo, caso ele quisesse. Pobre Harper... Sinto tanto por ele.

EU ENTREGO MINHA VIDA A VOCÊWhere stories live. Discover now