11 | Olá, passado

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O decorrer da semana se passou tranquilamente — ausente de ameaças. Nem parecia que eu estava passando por apuros poucos dias atrás, mas essa estranheza me deixou confortável ao mesmo tempo.

O único ponto negativo estava com Heitor, que continuava em seu humor cada vez mais decrescente. Isso estava me deixando louco e irritado também, como se sua gelidez verbal estivesse me conduzindo ao declínio consigo.

— Aconteceu alguma coisa? — indaguei a ele, soando o mais desinteressado que eu conseguia, antes de sair do trabalho na quarta-feira.

Ele me lançou um olhar de desdém.

— Não. Só tenho muita coisa para fazer — falou, fechando a cara depois.

— Eu fiz algo?

— Nem tudo gira em torno de você, Chris.

Soltei o ar devagar. Então vá se foder, caralho, resmunguei em pensamento, dando meia volta com um revirar dos olhos oculto. Eu ainda havia cogitado fazer isso em sua frente, já que meus dias estavam contados aqui, porém decidi continuar na formalidade e deixar minha infantilidade comigo.

— Ah, e eu preciso que chegue um pouco mais cedo amanhã — avisou antes que eu abandonasse o corredor.

Me virei de novo para ele, a testa franzida. Ah, pronto...

— Por quê?

— Não vai dar tempo de fechar uns processos, por isso me recorri a você. — Seus olhos vieram ao meu encontro, tão desinteressados quanto o dono.

Fiquei parado uns segundos.

— Hum. Tchau.

Ele não respondeu, e foi melhor assim.

Na saída, Lheo segurou meu braço e me arrastou para meu carro com um sorriso triunfante, o que só poderia significar que ele encontrou um rapaz para um relacionamento sério ou ganhou na loteria. Acho que, no fim, eu só poderia investir minha suspeita na primeira tese.

— O deus grego veio hoje na minha sala — disse, os olhos arregalados e a mão direita no coração. — Uh. Ele é muito gostoso!

— Quem? — Já suspeitei de que ele referia-se a Trevor, apesar de que ele nunca fosse pisar aqui.

— Não me lembro do nome. Aquele seu amigo loiro, que apareceu no restaurante um dia desses.

Ergui as sobrancelhas.

— Paul?

— É! — disse altivamente, feliz. — Esse mesmo.

Uma confusão me pegou sobre isso.

— Na sua sala? — repeti.

— Bem, não exatamente. Na sua, mas você estava em horário de almoço. Disse que queria falar com você.

Assenti sem me focar muito nisso ao mesmo tempo em que me focava. Eu não queria falar com ele por nada, mas, após o ocorrido com as fotos — e considerando ainda mais o fato de que ele queria ser mais que meu amigo —, eu me via na obrigação de conversar com Paul. Eu só não estava conseguindo entender o porquê de ele querer me ver. Teria a ver com as fotografias? Talvez para pedir desculpas?

— Este é o número dele. — Lheo me entregou um papel verde e quadriculado. — Ele pediu para você ligar assim que eu te comunicasse. Com um sorriso destruidor, claro — derreteu-se ele depois.

Dei um sorriso, quase levado ao riso.

— Vocês dariam um belo casal — argumentei enquanto analisava o número, mais porque eu queria que Paul saísse de uma vez por todas do meu pé. Em seguida, olhei para Lheo, dando-lhe um abraço. — Eu vou indo, tá? Tenho que resolver uma situação urgente.

EU ENTREGO MINHA VIDA A VOCÊOnde as histórias ganham vida. Descobre agora