13 | Reciprocidade dolorosa

7.3K 584 277
                                    

Assim que me virei após ter me despedido dos meus pais, encostei minhas costas na porta, pus minhas duas mãos no rosto, deslizei até ser recebido pelo chão e comecei a chorar — não por arrependimento, e sim porque, apesar do que eu tinha acabado de fazer, meus pais jamais mudariam. Nem por mim nem por ninguém, não importava quantas vezes eu tentasse abrir seus olhos. Eles continuariam sendo as mesmas pessoas homofóbicas que infelizmente tornavam o mundo mais preto e branco.

Talvez eu estivesse chorando por eles...

E nem me pediram perdão. Fizeram pior: agiram como se nunca tivessem me posto para fora de casa e insistiram em afirmar que eu estava louco. Meus pais, não um ex amigo ou ex namorado. Meus pais — as pessoas que me criaram e eu amava. Acho que eu ainda os amava, ainda que não fosse com a mesma intensidade de antigamente.

Por que, meu Deus? Por que eles não tentaram mudar pelo seu único filho? Por que eles não se importavam um mínimo sequer com o fato de que eu era garoto de programa?

— Hey...

Senti as mãos de Trevor me rodeando, o abraço quente e confortável vindo junto com seu cheiro maravilhoso. De joelhos e ainda sem vê-lo, curvei-me mais para seu corpo só para ficar mais à vontade e encostei meu nariz em seu pescoço... então me permiti chorar mais fortemente, despejando todos os meus sentimentos junto às lágrimas. Eu não queria por nada estar em outro lugar.

— Desculpe — pedi, engasgando-me.

— Por que está pedindo desculpas? — sussurrou, correndo seus dedos pelo meu cabelo. — Eles deveriam pedir. A maldade dos seus pais não tem nada a ver com você.

Limpei minhas bochechas e apertei meus olhos. Ai, amor...

— Isso me torna como eles? — perguntei entre soluços. — O que eu fiz me faz cruel?

Trevor suspirou baixinho, descendo seu polegar pela minha bochecha. Foi aí que eu o vi, cujos olhos era impecavelmente profundos e generosos.

— O que você fez lhe torna justo. Só isso. — Ele sorriu docemente, e sua expressão era capaz de facilmente atravessar minha pele. — Não foi uma decisão certa para você?

Pensei a respeito.

— Foi.

— Então eu estou feliz.

— E se algum dia eu fizer algo que não aprove?

Ele me observou com muito fulgor, as íris correndo cada região do meu rosto, como se, de alguma forma, elas pudessem penetrar minha alma. Um arrepio bom me veio pela comparação.

— Esse dia não vai chegar, tá bom? — E beijou minha testa carinhosamente por uns três segundos. — Venha, Chris. Por favor. Eu não gosto de vê-lo assim. Eles já foram embora, o que significa que estamos longe de problemas.

Assenti bem devagar enquanto refletia essa verdade, e ele me ajudou a levantar, mesmo sem saber se eu realmente precisava. Um desespero tremendo me consumiu por querer — uma elevação tremenda, eu diria — ser mimado por ele. Meu subconsciente me olhou com outra ótica, pois ele raramente me pegava em dias onde eu ficava frágil.

— Fome? — perguntou.

— Não mais.

Ele franziu a testa.

— Coma, dengo. — Seu braço me rodeou de novo, ambos nós andando sem pressa de volta à cozinha. — Não precisa comer muito. Só o suficiente para não passar mal.

— Eu... — tentei convencê-lo do contrário, dizer que eu não ficaria doente, mas, assim que fitei seu par lindo de olhos, me rendi. Eu estava acabo demais emocionalmente para poder criar motivos para protestar. — Tá bom.

EU ENTREGO MINHA VIDA A VOCÊWhere stories live. Discover now