Epílogo

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Não há justificativa para o que fizemos. Você pode pensar o que for, mas não há e eu preciso que você entenda isso, pois se o livro aparecer para você, não faça nada além de destruí-lo. O livro desapareceu e nada impede que ele seja descoberto por você ou por alguém que você conheça. Não o abra, não o leia, não tente fazer o que fizemos, achando que se dará bem no final. Isso não vai acontecer. Eu sinto o sofrimento dos demais dia após dia, mesmo de Augusto, cujo espírito está destroçado e remendado por uma fina linha de ódio e vingança. É o preço vitalício por deturpar a natureza, por tentar mudar o seu curso.

O inominável não é uma força criada pelo ser humano. Está além da nossa compreensão e não deve ser subestimado. Para compreender o inominável, é preciso entender aquilo que está além da realidade, as pistas que estão no estudo da mente, dos sonhos e do espírito, na religião, no ocultismo e na fé. Sinto que depois de encontrar o inominável, estou mais próxima daquele que também neguei a existência por tanto tempo: Deus. Se o inominável existe, Deus também pode existir, e assim como o livro do corvo é real, talvez alguma das diferentes Bíblias também seja. Talvez parte de seu conhecimento tenha sido perdido nas traduções dos textos antigos, ou um poder tão grande ou maior que o inominável esteja contemplado na interpretação das entrelinhas. Não tive uma educação religiosa em casa, porém minha avó materna crê na palavra e com ela tenho buscado forças na fé. Talvez eu esteja no caminho certo, e através da fé eu descubra uma forma de derrotar o inominável, ou a religião de minha avó é uma daquelas mentiras que se conta por tanto tempo que se torna verdade. Isso só o tempo e minhas ações dirão. E se ela não estiver certa, buscarei quantas outras forem necessárias, pois a verdade está em algum lugar.

Veja, buscar Deus ou uma religião não é uma forma de aliviar minha culpa e me eximir de meu pecado. Eu sou culpada e este é um fato imutável. Você pode e deve me culpar, e pode e deve culpar os quatro, por igual. Mesmo depois de provar da escuridão do inominável, nós seguimos em frente, cegos pela escuridão que habitava em nossos corações, juntos. Como seres humanos, somos falhos, confusos, complexos, erramos e aprendemos, ou às vezes nem aprendemos depois que erramos. Não somos zeros e uns, preto e branco, vermelho e azul.

Eu não tenho certeza se fomos escolhidos, pois a minha infância e adolescência, a vida de Davi, Augusto ou Andreia, exceto pela parte que contempla o inominável, não é muito diferente da vida de outras pessoas que conheci depois que passei a frequentar a igreja, assim como a "quinta série" que reside nas pessoas, este diabo tormentador que perdura mesmo com a suposta maturidade. Eu não sou ninguém para dar lição de moral aqui, mas se você tem consciência deste mal em você, faça o possível para deixá-lo em uma prisão dentro de você, ou não deixe que ele afete outras pessoas. Sei que o que aconteceu com Felipe, Paulo Melo, Roberto e tantos outros foi extremo, e não os considero culpados, mas vítimas. Ainda assim, nunca se sabe o que pessoas que se deixam levar pela vingança, como Augusto, ou mesmo eu em diversos pontos deste relato, são capazes. Até o dia fatídico eu não tinha ideia de quão longe Augusto estava disposto a ir, e até pouco tempo antes, ele era somente um garoto "gordinho" que era zoado na escola e aguentava em silêncio.

Eu não temo o inominável, pois sei que ele precisa de mim. Estremeço ao imaginar o que ele pode fazer com as pessoas que amo, ou até onde ele pretende chegar com Augusto, mas hoje temo apenas o que virá depois desta vida. Por mais que eu me apoie na fé, não acho que caminhar por esta estrada para o inferno tenha volta. Seria covardia, e uma injustiça com todos os inocentes que foram mortos pelo inominável, me arrepender do que fiz, pois fiz por vontade própria, tendo certeza ou não do resultado. Se eu conseguir pará-lo e Deus achar justo que eu não vá para o inferno, eu me rendo com alegria, mas se não sou digna do paraíso por ter trazido esta criatura maculada para este plano, eu vou entender e aceitar o meu destino. E se meu destino é retornar ao mundo onde os sonhos estão mortos, eu espero encontrar a árvore dourada e a paz que ela me trouxe.

Despeço-me pedindo que me deseje sorte nesta minha nova jornada. Talvez um dia nos encontremos pessoalmente, ou através de um novo relato você descobrirá meu destino, mas por hora, lhe entrego neste relato tudo o que tenho para lhe contar. Espero que você acredite em mim, e passe meu relato adiante. Agora a verdade está em suas mãos e cabe a você decidir se acredita nela ou não.

Obrigada,

Thalita Brado Romão

O InominávelOnde as histórias ganham vida. Descobre agora