Capítulo 4

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Na toca do leão. 

Enjoy...

Kenya

— Como é lindo o Rio de Janeiro! — olhando pela janela do carro que nos pegou no aeroporto, fico genuinamente encantada com a beleza desta cidade, que já tinha vislumbrado quando o avião começou a sobrevoá-la.

— Eu já conhecia a cidade — sucinto, meu pai responde, olhando para o outro lado. É interessante que, com tantas mudanças, ele nunca tenha nos trazido para cá, tendo em vista que o Rio tem muitos turistas e boas oportunidades de se ganhar dinheiro com shows!

— Poderíamos ter feito grandes apresentações aqui. O senhor nunca pensou em virmos para cá?

— Está aqui agora, não está? Então não se lamente, o destino tem o momento certo e, por isso, que estamos aqui.

Destino este que me deixou com muita dor no coração ao partir de Manaus! Ainda sinto o sabor salgado das lágrimas que derramei ao me despedir no aeroporto dos amigos que fiz. Estou até agora sob o impacto da linda homenagem que me fizeram. Conheci a equipe de profissionais na oficina de acrobacias circenses com tecido e foi amor à primeira vista. Nos demos tão bem nesses meses de treinamento que imaginei que poderia nunca mais me ver longe deles. Acho que, em toda minha vida, eles foram as pessoas a estarem mais próximas de mim de que me lembro, fora minha Iva e um grande amiguinho que me traz lágrimas aos olhos só ao me lembrar dele!

O carro para na frente da porta de um prédio de três andares e arquitetura antiga.

— Acho que chegamos.

— Que bela porcaria que encontraram para me hospedar. Posso até imaginar como será seu alojamento! — irritado, ele abre a porta do carro sem falar mais nada e eu desço atrás dele, com as pernas trêmulas, caminhando angustiada até me aproximar.

O motorista o ajuda a tirar as malas, enquanto meu coração aperta por deixá-lo só. Nós nunca nos separamos. Mais cedo ou mais tarde chegaria a hora em que isso aconteceria, porém, deixarmos de morar juntos assim faz com que me sinta culpada. Sei que ele não está feliz com esta situação.

— Pai! — espero que ele olhe para mim. As lágrimas que vinha reprimindo até então escorrem pelo meu rosto. Tento disfarçar, mas ele as vê. É engraçado perceber como ele repudia qualquer demonstração de fraqueza — Você sabe que isso é temporário e que logo estaremos juntos, não sabe?

— Eu a criei para ser forte. Não vá fraquejar agora, faça o que tem que ser feito! — não afeito a qualquer gesto de carinho, ele apanha uma mala em cada mão — Logo estaremos juntos! Na primeira manhã que estivermos na próxima cidade, onde nos veremos novamente, esteja no picadeiro, na hora de sempre, para treinarmos. Não me decepcione!

Ele caminha para a porta, sem olhar para trás. Se eu não o conhecesse um pouco, poderia afirmar que é indiferente a mim. Mas prefiro acreditar que essa atitude é porque ele está abalado com toda esta situação.

Lembro-me de que ele sempre diz que as pessoas não devem ser ingratas e cuspirem no prato que comem. Devem, sim, agradecer pelo que têm e serem leais a quem cuidou delas quando ninguém mais o fez. E o alívio que sinto por ficar distante dele pela primeira vez na vida é contaminado pela culpa e arrependimento. Tento sufocar, como sempre faço, a raiva surda que sinto dentro de mim quando tenho pensamentos negativos em relação ao meu pai.

Essa ambiguidade me abala profundamente, porque sempre me recuso a fazer uma avaliação mais objetiva de nosso relacionamento, recitando para mim mesma o mantra do "ele é bom e sempre cuidou de você". Essa cantilena sempre dá resultado para acalmar pensamentos indesejados.

A Fênix de FabergéDär berättelser lever. Upptäck nu