Ficstape - Harry Styles

04. Two Ghosts

We're just two ghosts standing in the place of you and me Trying to remember how it feels to have a heartbeat

Brooklyn sempre me disse que todo mundo colecionava alguma coisa. Mesmo sem saber, mesmo sem querer. Essa era, talvez, a tese principal dela. E ela conseguiu comprovar isso muito bem.

Começou pela senhorinha que morava duas quadras da casa de Brooklyn. Flores. Foi o que ela me disse. Aquela mulher coleciona flores. Eu nem sequer pude discordar. Trabalhava em meio expediente com ela, ironicamente, em sua pequena e muito organizada floricultura. Eu sabia que ela não só colecionava flores como sabia absolutamente tudo sobre elas. Tanto conhecimento que chegava a ser engraçado. Vez ou outra, a velha Rothbury tentava enfiar um pouco dele pela minha goela. Eu era bom em fazer o que me mandavam, mas não exatamente em aprender o que queriam que eu aprendesse.

Depois da velha Rothbury, passamos para o vizinho da frente dela. Ele tinha muitos gatos. Uma dezena deles. De todas as raças, de todas as cores. Achei que aquela fosse a coleção. Parecia lógico, muito óbvio. Mas Brook riu bem na minha cara. Os gatos eram um hoobie. A coleção verdadeira eram os piercings.

Eu me lembro muito bem de que estavamos andando pelo bairro de Brook. Era um dia morno, confortável para andar de camiseta e não ter medo de ficar muito tempo no sol ou na sombra. Brook estava com batom vermelho — bom, ela sempre estava de batom vermelho — e eu usava uma blusa branca que tinha ganhado no meu último aniversário.

Acho que aquele era um dos dias bons de Bath. Um dos melhores. Em uma cidade pequena como essa, por mais pitoresca, graciosa e atrativa que possa ser, os dias se tornam rotineiros rápidos. De repente, é

tudo conhecido. Você simplesmente sabe como cada coisa vai ser e não há muito que se fazer para mudar. Estar com Brook mudava as coisas. Era diferente. Eu só tinha um baita medo de que se tornasse exatamente como todo o resto: um pedaço de rotina chata e entediante.

O homem dos gatos estava na frente de sua casa, falando ao telefone. Tinha um gato persa de cor amarela entre os braços. Então eu olhei um pouco para cima, mais para o rosto. E é verdade, ele tinha muitos piercings. Tinha em todos os lugares que deveria ser possível para um ser humano ter e alguns mais. Cheguei a me sentir tentado a contar, mas encarar era uma coisa bem feia de ser feita e eu desviei o olhar no momento em que ele se virou para mim.

Tive de dar o braço a torcer. Talvez aquela realmente fosse a coleção do homem. Mas só talvez, é claro. Eu ainda mantinha umas boas apostas sobre os gatos, especialmente depois de ver o modo como ele carregava o persa nos braços.

O pai de Brook colecionava canetas. Ela me disse que o escritório dele deveria ter ao menos duas gavetas lotadas de todo o tipo de caneta, inclusive que não funcionavam mais. Ele não jogava nenhuma delas fora, mesmo que a mãe de Brook insistisse para que ele se livrasse daquelas tralhas velhas.

Talia era a irmã mais velha de Brook e tinha o que era a forma mais estranha de colecionar. Talia simplesmente não sabia que colecionava. Quando Brook lhe contou sua teoria, ela riu e disse que não era nada verdade. Brook lhe disse sobre os buttons, que Talia comprava aos montes e mantinha em cima do seu guarda roupas, njma numa enorme caixa de madeira. Aquilo era uma coleção, claro que ela. Mas não pra Talia. Talia só gostava dos buttons e por isso comprava tanto deles.

Perguntei sobre a mãe. Eu sabia que Brook tinha uma mãe e que elas era bem parecidas. Mas era só o que eu sabia. Eu não sabia quase nada sobre qualquer um da família dela. Eram relativamente novos na cidade. Estavam ali só há dois anos enquanto o resto de nós estava ali a vida toda.

Brook suspirou. Ela ainda não tinha descoberto. Cheguei a pensar que isso pudesse ser uma falha na sua teoria. Brook pareceu ler meu pensamento. Não era uma falha na teoria. Ela só não havia descoberto qual a coleção ainda. Mas havia uma coleção. Um dia ela saberia qual.