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                                                                    chapter 3  

Ali estava ele. Encostado ao seu cacifo, atento a alguma coisa vinda do telemóvel. Ele franze as sobrancelhas, clicando logo a seguir no teclado, como se tivesse a responder a uma mensagem. Eu estava encostada igualmente nos cacifos, enquanto esperava que Emily tirasse e pousasse todas as coisas que precisava. Ela falava sobre um rapaz que tinha conhecido no autocarro quando tinha vindo para aqui, dizendo-me que tiveram uma ótima conversa, a partir daí deixei de ouvir. Eu ainda não tinha parado de olhar para o tal rapaz Harry. A forma como os seus cabelos caiem para a frente fazem-me lembrar o pedófilo de ontem, e para ter provas suficientes eu tinha de ver a tatuagem no seu pulso. Mas este tapava sempre com o casaco cinzento, agarrando nas mangas não querendo mostrar nada dos seus braços. 

- Lauren estás a ouvir-me?- Emily pergunta, do nada fazendo-me acordar.

- Hum, sim! - Eu finjo. 

- O que é que eu disse? - Ela pergunta.

- Alguma coisa. - Eu respondo. Ela suspirou um pouco zangada, por a ter ignorado.- Desculpa Emily, é que doía-me a cabeça e os meus dias estão a ser muito cansativos. Desculpa.

- Tudo bem. - Ela acalma-me.- Vais trabalhar hoje?

- Sim. - Respondo.

- Eu vou até lá para fazermos os trabalhos de casa juntas que achas? - Ela pergunta, com um sorriso esquecendo tudo o que aconteceu.

- Acho fantástico! - Respondo, sorrindo de volta. 

- Boa, até lá! - Ela acena dizendo adeus, caminhando pelo sentido contrário.

Eu aceno de volta, enquanto a observava a ir-se embora. Quando ela estava fora de vista, já escondida pela quantidade de seres humanos, eu olho para o lugar onde ele era suposto estar. Mas agora, estava vazio.

*     *     *   

Livros e mais livros. Cadernos e mais cadernos. Canetas atrás de canetas. E preguiça atrás de preguiça. Esta última resume tudo o que a minha vida é. Eu posso ter um trabalho duro no café, mas isso não impede de a minha preguiça ser maior que outras coisas. Eu estava sentada na minha habitual mesa, a minha cabeça deitada na minha mão, enquanto eu escrevia no caderno o trabalho de casa inacabado. A sala ia enchendo, pelas cadeiras arrastadas e sussurros por todo o lado. 

Eu não esperava que a minha cadeira ao meu lado fosse ocupada, tal como sempre acontece. É o habitual ficar sempre sozinha, e isso deixa-me nervosa, pois eu não sou muito boa sozinha. Começo a pensar que cada movimento que eu faço é esquisito e que perturba toda a gente mesmo que ninguém diga. E tento ficar o mais quieta possível, e olhar para o professor fingindo estar atenta enquanto vou à Lua e volto. Mas desta vez foi diferente.

Quando oiço e vejo a cadeira ao meu lado a ser arrastada, eu paro o meu lápis do papel, levantando a cabeça para ver quem era. Harry olhava-me com um sorriso amigável e nervoso, enquanto tirava a mochila dos ombros.

- Posso sentar-me aqui? - Ele pergunta.

Abri a minha boca para lhe responder mas nada saiu, acabando por assentir com a cabeça. Observei-o a sentar-se enquanto o meu cérebro fazia um plano para ver o seu pulso quando ele se sentasse. Pôs-me direita na cadeira, olhando para as mãos dele enquanto pousava os livros. E foi aí que tudo parou há minha volta, e a manga do casaco levantou do seu braço. Eu inclinei-me quando ele foi apanhar o seu estojo. Mas eu fico desiludida quando não vejo nada, só um penso no seu pulso para proteger alguma ferida. Eu volto ao meu lugar, como se nada tivesse acontecido.

- Sou o Harry. - Ele apresenta-se, estendendo a sua mão.

- Lauren. - Apresento-me de volta, agarrando na sua mão ainda desiludida. Mas se ele não tem nenhuma tatuagem, talvez podia ver a sua letra.

- És nova aqui, também? - Ele pergunta.

- Não, nasci aqui. - Respondi.- O que achas disto tudo?

- É bonito. Os cafés são os melhores - Ele responde com um sorriso, enquanto eu arregalo os olhos.

- Tens razão. - Concordo.

- Não sou muito fã de café mas estes daqui são bons, assim como os doces! - Ele comenta.

- Sim, acho que sim. - Assenti com a cabeça.

O professor entrou, fazendo um estrondo com a mala quando foi pousada na mesa. Ele suspirou quando viu a nossa turma, antes de se sentar e fazer a chamada. Harry abriu o caderno branco, e prestou atenção a todas as pessoas. Eu fingia que também olhava para o careca que dizia a matéria, mas sempre atenta no canto do meu olho, os movimentos do Harry. Ele começou a escrever apontamentos, e vi uma oportunidade. Não sei porque estava tão fanática para ver a sua letra, mas eu tenho uma necessidade de saber quem é o -H. Não só porque o nome dele começa por H, como ainda pelos seus cabelos muito parecidos com o pedófilo. Eu estiquei o meu pescoço, para ver o que ele escrevia mas ele tapava com os seus braços não me deixando ver nada. E eu quase morro, quando fui apanhada pelo seu olhar confuso. Ele franziu as sobrancelhas para mim quando fingi (bastante mal) que estava a prestar atenção ao professor.

- Eu não tenho muito da matéria portanto não te posso emprestar o meu caderno. - Ele pisca o olho.

- Eu sei.

E antes que pudesse olhar de novo, ele fecha o caderno. 

coffee notes || h.s [au]Where stories live. Discover now