Capítulo 19 - Apenas respire

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Sam acordou sozinho no quarto do hotel, a cama parecia devastadoramente vazia sem Cait deitada ao seu lado. Verificou o celular e não tinha nenhuma notificação, nenhuma ligação perdida de Cait. Na noite anterior, ao sair do quarto dela, ele apenas seguiu até o bar do hotel e bebeu até que o barman gentilmente o convidasse a se retirar. Sua cabeça doía, mas levantou-se, indo até o frigobar e servindo-se de uma dose de whisky. Nada como álcool para curar uma ressaca.

Nas últimas semanas Caitriona havia se afastado tanto dele, que ele mal a reconhecia. Até mesmo quando não estavam juntos eram mais íntimos do que ultimamente. Desde que Anne, a mãe dela chegara à Escócia, Cait estava cheia de segredinhos e sempre na defensiva. Ele já havia tentado falar com ela uma vez, na semana anterior, mas ela apenas desconversou. Ele sentia tanta falta dela, da sua Caitriona, que seu coração doía.

Terminado o copo de whisky, ele tomou um banho, fez a barba, se vestiu e passou seu melhor perfume. Decidiu ir atrás dela, se desculpar pela intromissão, tentar conversar racionalmente. Ele a amava tanto, tinha certeza que conseguiriam superar esse obstáculo que estavam passando, qualquer que fosse. Contanto que ela ainda o amasse.

Atravessou o corredor até o quarto dela. A porta estava entreaberta, duas camareiras arrumando a cama e deixando tudo em ordem para o próximo hóspede. Não viu as malas dela em lugar algum. Com dois telefonemas descobriu que ela havia voltado a Glasgow ainda na noite anterior, no último trem.

Ótimo, pensou. Caitriona sabia que ele iria de Londres direto para a Patagônia, sabia que ele ficaria uma semana fora e simplesmente foi sem se despedir, sem lhe desejar sorte. Essa viagem havia sido agendada há muito tempo e era mais do que um sonho para Sam, conhecer as paisagens congeladas da Patagônia, escalar aquelas montanhas brancas. E ela simplesmente fora embora.

Ele socou a parede do quarto, deixando uma marca no papel de parede, as juntas dos dedos latejando. Talvez a dor física aplacasse a dor que sentia por eles. Talvez fosse melhor assim mesmo, dar o tempo que ela havia pedido. Mas afinal, o que poderia mudar em duas semanas? Porque duas semanas?

*

O sol nascia no horizonte quando Caitriona botou o pé em solo escocês novamente. A viagem havia sido desagradável do começo ao fim, especialmente quando passaram oferecendo o café da manhã e o cheiro de ovos e bacon entrou em sua cabine. Na pressa de voltar para casa, ela havia se esquecido de tomar o remédio para enjoo e tivera que apelar para um saquinho de papel quando a náusea a tomou. Seu estômago ainda revirava quando chegou ao apartamento, encontrando sua mãe já de pé, passando café.

– Chegou mais cedo, filha? – Anne perguntou, servindo duas xícaras de café preto e forte, sem açúcar e sentando-se nas banquetas da bancada da cozinha ao lado da filha. Por sorte o cheiro de café não a fazia enjoar – Está tudo bem Caitriona?

– Não mamãe, na verdade não está – e só então ela deixou que as lágrimas contidas escorressem numa torrente por sua face. Sua mãe a abraçou, afagando sua cabeça enquanto ela soluçava.

Passaram um bom tempo assim, até que Cait finalmente se acalmasse, até que os soluços cessassem, as lágrimas secassem e que as palavras encontrassem o caminho através da sensação de sufocamento que ela estava sentindo.

– O que houve, meu anjo? – Anne perguntou, por fim, afastando-se um centímetro de Cait para que pudesse olhar em seu rosto.

– Sam e eu brigamos, mamãe. Estou tão cansada de esconder dele – ela contou – Mas também não quero vê-lo sofrer se eu perder essa criança...

– Cait, meu amor, eu tive 7 filhos, certo? – começou, segurando as mãos da filha com carinho – Tenho experiência no assunto. E bem, eu tenho certeza que você vai ser mãe. Tenho certeza que sua pequena ervilhinha vai nascer.

Kiss meOnde as histórias ganham vida. Descobre agora