Capítulo 23 - Mil razões

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– Sam, eu não vou conseguir – Caitriona falou, largando a injeção sobre a bancada do banheiro e abrindo a porta para Sam, que esperava do lado de fora. Ela estava ali há quase quinze minutos, já havia limpado um ponto de sua barriga com um chumaço de algodão embebido em álcool, mas não conseguia aplicar a injeção. Nem sabia dizer de onde vinha esse medo, pois nunca temeu agulhas nem nada do tipo, mas simplesmente não conseguia aplicar a injeção de anticoagulante em si mesma.

A primeira que tomou, ainda no hospital, veio com o aviso de que teria que levar uma agulhada por dia, até que o bebê nascesse. As injeções, medicamentos e o repouso eram a únicas coisas que poderiam fazer para que o bebê viesse ao mundo, e mesmo com isso tudo, ainda havia 20% de chance de abortar, ou ter um parto prematuro. Ela sabia que teria que ser muito forte para passar por tudo isso, mas agora que ela contara a Sam e finalmente tinha um diagnóstico, começava a ter um pouco de fé em si mesma.

– Eu disse que eu podia aplicar pra você, amor – Sam disse, entrando no banheiro e pegando a injeção. Ele deu-lhe um beijinho terno na testa, ergueu a blusa dela e alisou a barriga. Escolheu um ponto e limpou com o algodão, encarando-a em seguida, com as sobrancelhas erguidas, a boca numa linha rígida – Pronta?

– Mais do que nunca! – ela disse, sorrindo amarelo. Se aquilo salvaria seu bebê, faria sem pensar duas vezes.

Ele hesitou por um momento, furando-a com a agulha em seguida. Era uma agulha muito fina, quase não doía ao entrar, mas assim que ele apertou o êmbolo, sentiu como se o líquido estivesse rasgando com fogo sua pele, seus músculos, suas veias, enquanto entrava em seu corpo. Ela fechou os olhos em reflexo, enquanto ele tirava a seringa e ainda sentia o ardor quando ele a puxou carinhosamente para si, aninhando-a em seu peito.

– Sinto muito – ele disse, afagando seus cabelos. Ele queria poder tomar seu lugar, tirar qualquer traço de dor ou sofrimento da vida dela, mas infelizmente era impossível.

– Logo vou me acostumar – ela respondeu, erguendo a cabeça para encará-lo – Vai valer a pena.

– Vai sim – falou, pousando a mão sobre a barriga plana dela, tomando o cuidado de não tocar no local sensível da injeção – Agora, de volta pra cama!

*

Ela havia recebido alta mais tarde naquele mesmo dia, mas com recomendações expressas de repouso total até segunda ordem. Anne e Tony apareceram na hora de voltar para casa – pelo visto estavam espreitando perto do quarto, dando espaço ao casal mas sem querer ficar longe de Caitriona. Chegando em casa, Sam ajudou a acomodar Cait no sofá e sentou-se aos seus pés, enquanto Anne passava um café.

– Você já sabe o que é? – ele perguntou, bocejando em seguida. Só então Caitriona notou as enormes olheiras sob seus olhos.

– O quê? O bebê? – ela questionou, esfregando o carinhosamente pé direito na perna dele.

– Sim. Você já sabe o sexo?

– Não, eu não quis saber, mas a médica viu na última ultrassom – ela respondeu, lembrando-se da captura da ultrassonografia que estava em sua bolsa – Sam, pegue minha bolsa, por favor?

Ele nem questionou. Tinha dito que iria fazer qualquer coisa por ela, e estava levando bem a sério o conceito de repouso absoluto. Foi até o quarto e voltou com a bolsa de couro marrom que ela estava usando. Caitriona pegou o envelope branco e entregou a ele, um sorriso no rosto.

– Um presente da doutora Carina pra você – afinal, a médica tinha lhe dado a captura e a aconselhado a contar logo.

– O que é... – ele começou a falar, mas interrompeu-se quando abriu o envelope e viu do que se tratava. Imediatamente seus olhos marejaram, e ele travou o maxilar para segurar o choro. Ela sempre soube que ele queria filhos, desde que se tornaram amigos ele falava nisso, mas ainda se surpreendia com a forma que ele já amava o bebê, mesmo sendo algo tão abstrato.

Kiss meWhere stories live. Discover now