CAPÍTULO 01

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Existe alguém que eu quero encontrar. Foi por isso que vim até aqui. Por causa dele que dei meu melhor, por causa dele cheguei tão longe. Hoje estou de pé aqui por causa dessa pessoa. Ele ainda não me conhece. Ele nem sabe que eu existo. Eu preciso encontra-lo. Preciso conduzir meus sentimentos até ele. Preciso agradecê-lo.

Há uma lenda que diz que o fio vermelho do destino enlaça duas pessoas destinadas a serem almas gêmeas. Esse fio às vezes é preso ao mindinho, às vezes ao calcanhar; depende da lenda. Independentemente do tempo, lugar ou circunstância, essas pessoas estão destinadas a se encontrar. Não importa quão longe ou pelo que elas passem, o fio nunca irá se partir.

Eu não pretendo focar-me apenas em encontra-lo. Não é o meu objetivo ao vir até aqui. Eu vou deixar o destino ditar as consequências e aproveitar as chances que me forem dadas.

E, se por ventura eu conseguir finalmente encontra-lo, eu permanecerei ao seu lado pelo tanto de tempo que me for permitido.



Meus pés chapinhavam a água enquanto eu corria, inutilmente protegendo minha cabeça dos grossos pingos de chuva que me atingiam. Sempre me disseram que correr na chuva só acabava molhando mais. Considerando que eu não tinha mais nenhuma peça de roupa ou parte do corpo seca, eu não havia muito a perder.

Avistei um toldo. Ponderei se valeria a pena abrigar-me ali. Eu já estava completamente encharcada, meu cabelo grudando no rosto e minhas costas inundadas pelas gotas. Sabia que, se parasse, ia perder a adrenalina de estar correndo em plena cidade no meio do maior temporal do ano e provavelmente tudo que aconteceria era eu tremelicar de frio. Porém, havia também a chance de meus cálculos mentais não estarem completamente corretos e eu ter mais dinheiro do que o esperado dentro da carteira, sendo o suficiente para o táxi ou para pegar o trem na estação mais próxima. A ideia pareceu tentadora. Seria uma bela recompensa do destino, parar ali para conferir o dinheiro enquanto arriscava um choque térmico e ser surpreendida com uma carteira repleta de dinheiro.

Tudo bem, eu sabia que não adiantava me iludir achando que ela estaria repleta de dinheiro. Mas talvez houvesse o suficiente.

Parei, ofegante, embaixo do toldo avermelhado. O lado do meu torso doía e a sola dos meus pés ardia como se eu tivesse caminhado por brasa. Correr por uns quinze quarteirões foi quase isso. Larguei uma das sacolas que eu segurava no chão, reparando no restaurante por trás da porta de vidro. Alta classe. As paredes eram avermelhadas como o toldo, detalhes em dourado, todos muito bem vestidos. Minha aparência de quem acabara de sair de um poço, junto ao meu moletom gasto de esportes que nunca pratiquei, devia parecer um agouro para eles. Bufei, passando a mão na cara e afastando os cabelos dali, sabendo que não era hora para me preocupar com o que os outros pensavam de mim. Busquei a carteira no fundo da bolsa, torcendo para o equilíbrio da vida ser bonzinho.

Não que ele fosse. Olhei desolada o pouco dinheiro que ali restara, me arrependendo da minha súbita habilidade matemática que calculara corretamente quanto havia na minha carteira. E estava longe de repleto.

Suspirei, com duas opções restantes. Ou eu corria de volta todo o caminho para casa, que mal era uma opção porque, sem poder ver meu celular, eu certamente me perderia. Além de que eu tinha plena consciência de que era longe. Bem longe. Malditas cidades grandes.

A outra opção, no entanto, era sentar e esperar a chuva passar. Eu não tinha classe, muito menos dinheiro, para fazer aquilo naquele restaurante que eu parara. Também não estava confiante que a chuva passaria. Talvez eu procurasse aquelas lojas de conveniência 24h e ficasse por lá, comendo CupNoodles a noite inteira. Pelo menos para aquilo eu tinha dinheiro o suficiente. Parecia o melhor plano que eu poderia bolar naquelas circunstâncias.

I - Quem Eu Quero EncontrarOnde as histórias ganham vida. Descobre agora