CAPÍTULO 17 - FIM

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Depois de voltarmos do parque, nós dois concordamos que seria bom tirarmos uma boa noite de sono. Então até a manhã seguinte, nada mais foi dito entre nós.

Quando acordei, precisei passar uns dez minutos encarando o teto antes de reunir forças para me levantar. Todos os momentos da noite anterior rebobinavam-se em um loop infinito na minha cabeça, e eu queria saboreá-los por quanto tempo fosse possível.

Fui ao banheiro e tomei uma ducha, preparando-me para encarar Vincent de novo no café da manhã. Não sabia bem como agir. Antes que eu pudesse sair do quarto, meu celular vibrou com uma ligação. Sentindo a boca do estômago apertar, observei o nome na tela, o alívio espalhando-se pelo meu corpo ao ler o nome de Tyra Elisa.

— Bom dia — atendi, já entrando no meu modo de trabalho, já que tecnicamente eu estava no horário de meu expediente.

— Oi Lora!! Como você está? — a voz animada dela me alcançou e eu sentei na cama, aproveitando para ligar o notebook. Eu estava tão irritada com Ez no dia anterior e tão ocupada com Vincent que nem tinha checado se havia algo importante referente a ela nos meus e-mails. Meu chefe era um babaca, mas isso não queria dizer que eu prejudicaria uma autora da empresa.

— Estou indo. E você?

— Tudo ótimo! Fui numa reunião recentemente sobre o livro e estava tão animada que queria te contar sobre ela! É muito difícil não ter nenhuma amiga aqui na cidade... Ah! Se bem que você já deve saber tudo que foi dito na reunião, apesar de eu não ter te visto lá — ela desatou a tagarelar e eu sorri para mim mesma. Nenhuma de nós duas tinha alguém para desabafar ou contar novidades. É estranho como aquilo acabou se tornando um vínculo entre nós.

— Na verdade, eu estou em uma semana de home-office, então não estou sabendo de nada. Quer dizer, talvez eu soubesse, se meu chefe soubesse mandar apenas e-mails importantes e não lotar minha caixa de entrada — comentei, soltando um gemido ao ver mais sete e-mails novos de Ez. Pelo menos, o número tinha diminuído consideravelmente. De repente, me toquei que estava maldizendo meu chefe para uma de nossas clientes, e mordi a língua. — Por favor, finja que você não sabe de quem estou falando.

— Tudo bem! Eu meio que já entendi o que está acontecendo ali. É uma situação complicada então se você quiser desabafar, eu estou bastante livre! — ela riu e eu senti algo se aquecer dentro de mim.

— Obrigada — falei, pensando se realmente deveria usar essa chance para contar o que estava acontecendo. Talvez a opinião dela fosse ajudar um pouco também, uma vez que ela estava indo atrás de seu sonho e tendo-o realizado. Mas talvez justamente por isso ela não entenderia. As pessoas são diferentes e imprevisíveis. Decidi cortar a maior parte da história, mas ainda assim fazer uso dessa pseudo-amizade que tínhamos. — Bom, como você disse, é realmente complicado. Eu estou pensando em sair da empresa...

— O quê? É sério? — seu tom surpreso me chocou. Ela também parecia desapontada. — Mas você é uma ótima funcionária! Não pode sair!

— E-eu não sei ainda. Eu vou primeiro tentar resolver as coisas, é claro. No entanto, é algo que estou pensando seriamente...

Tyra Elisa ficou em silêncio do outro lado da linha. Subitamente, me perguntei se ela sabia mesmo sobre o que estava acontecendo e isso agora tinha se tornado uma confusão ainda maior. Antes que eu pudesse explicar ou me corrigir, ela falou.

— É tão triste que tenha chegado nesse ponto... Não acredito que por trás de uma empresa tão maravilhosa esse tipo de coisa aconteça. É uma decepção — ela fungou. Eu fiquei em silêncio, mexendo em um fio solto de meu casaco. — Eu vou sentir muito sua falta se você sair.

I - Quem Eu Quero EncontrarOnde as histórias ganham vida. Descobre agora