CAPÍTULO 07

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Recuei instintivamente para o mais longe possível da porta. Haunani, de orelhas atentas, incomodara-se com as batidas – era muito, muito difícil eu receber visitas, e mais difícil ainda que elas batessem na porta ao invés de simplesmente ligar pelo interfone. Eu não sabia o que diabos Ez queria comigo no meu dia de home office, principalmente vindo sem nenhum aviso prévio até minha casa. Vamos falar sobre invasão de privacidade?

Eu ainda não tinha dito nada, com a esperança que ele achasse que não havia ninguém em casa e fosse embora. O celular ainda estava em minha mão, com o contato de Vincent aberto, e eu o segurava com força, sem tirar os olhos da porta. Eu percebi que tremia um pouco, e que estava com medo. Ez seria forte o suficiente para arrombar a porta? Ele faria isso?

— Eu sei que está aí, Lora. O celular da empresa está aí, é dia de home office. Abra para nós conversarmos.

Suas últimas palavras pareceram ecos distantes para mim, enquanto eu me sentava no chão da sala e tentava respirar com calma, sentindo o coração acelerar e meus olhos embaçarem. A visão da fumaça do cigarro, do sorriso de escárnio e daquela mão voltou como na noite anterior, mas dessa vez a risada alcançou meus ouvidos e eu me vi presa a uma das memórias que mais me esforçara em esquecer nestes anos.

— Eu sei que está aí, Lora! — a risada soava atrás da porta, enquanto eu me encolhia entre a pia suja e a parede mais perto. As batidas eram frequentes e altas, e eu mal conseguia ouvir meus soluços baixos enquanto apertava um bolo molhado de papel higiênico na queimadura em meu joelho. Ela ardia, mas no momento meu medo era tanto que eu mal conseguia prestar atenção nela. Ele ainda devia estar com o cigarro aceso, e mais marcas daquela poderiam vir se ele conseguisse abrir aquela porta.

— O que está havendo?

— Lora está ai dentro, brincando de se esconder como uma criança de quatro anos. Mas eu já a achei, e ela não quer sair — ele respondeu à pessoa, que riu tão alto quanto ele. Eu me encolhi mais, reconhecendo a voz de Rose, a última pessoa que eu gostaria de ver naquele momento. Eu só queria que aparecesse alguém que eu pudesse confiar, que pudesse me tirar dali, alguém que fosse me ajudar.

Mas não havia ninguém.

— Eu disse para você, Aiden. Lora é louca.

Eu queria gritar ali de dentro que não, eu não era louca, eles que eram, eles eram todos loucos. Mas eu já nem sabia mais o que era verdade, não sabia onde estava minha voz para retrucar, eu só queria ir embora. Eu só queria sair dali.

— Lora Louca, Lora Louca, saia daí e venha brincar — Aiden cantarolou, e a risada de Rose soou ao fundo. — Eu tenho todo o tempo do mundo pra te esperar, e se eu cansar e for embora, eu sei onde você mora, lembra? — sua voz parecia suave, mas eu só tremia mais e mais. Eu tinha que dar um jeito de sair dali. Eu tinha que ir pra polícia e falar tudo que estava acontecendo e achar um jeito daquilo parar.

Não sei quantas horas se passaram enquanto eu tremia no chão de azulejos do banheiro, mas depois de um tempo, tudo estava silencioso. Nem Aiden nem Rose falavam mais nada, e eu não podia ouvir passos ou o que quer que fosse do outro lado. De repente, uma tentativa súbita de abrir a porta me fez gritar, voltando a chorar, mas a voz surpresa do outro lado era desconhecida e em um pulo eu abri a porta.

Um rapaz mais velho parecia atordoado com a minha aparição repentina, provavelmente inchada de chorar e descabelada, mas eu só conseguia me sentir aliviada de nenhum dos outros dois estarem no quarto. Eu retirei a pasta de papel higiênico molhado de cima do machucado, revelando a queimadura vermelha e feia para o garoto, que arregalou os olhos.

I - Quem Eu Quero EncontrarWhere stories live. Discover now