CAPÍTULO 02

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— Srta. Preston, T.J. vai te encontrar num instante — a secretária bonita me avisou por cima do balcão, fazendo-me retribuir com um sorriso. Concordei com a cabeça, sentando-me no confortável sofá cor mostarda que me recebera duas semanas atrás.

Meu estado de espírito estava bastante diferente de quando vim fazer a entrevista para a única vaga de estagiária que a Editora DDrafts oferecia, concorridíssima. Eu sabia que era um grande passo para o meu sonho, não só profissional como pessoal. Precisava me esforçar ao máximo e mostrar o melhor de mim, porque eu sabia que era capaz de preencher todos os requisitos da vaga com perfeição e ser escolhida. Não foi diferente do que imaginei. Uma semana depois, recebi a ligação de que havia conseguido, ganhando meu aval não só para permanecer na cidade e no pequeno apartamento que havia alugado como também para seguir meu sonho.

Pena que toda a felicidade acabou um dia depois da ligação, quando fiquei encharcada por causa de uma tempestade e conheci a pessoa que mais queria conhecer nas piores circunstâncias. Na verdade, as circunstâncias nem eram tão ruins assim. Ele podia muito bem ter sido simpático. Simpático é o mínimo que todo ser humano devia ser capaz de ser, quaisquer fossem as circunstâncias.

Bufei, encarando com raiva o quadro de Vincent Woodham segurando um prêmio que havia recebido no ano anterior. Ele mantinha um sorriso simpático no rosto, sendo injustamente bonito. Eu queria fazer careta para aquela foto e usar um marcador preto para desenhar chifres e um rabo do diabo nele, só para ninguém mais ser iludido em sua vida com respeito a ele. Infelizmente, com a secretária do meu mais novo chefe sentada na frente da foto, seria difícil e eu teria que me contentar em ficar no sofá mostarda, batendo o pé nervosamente no chão e encarando a foto com desgosto. Quem diria que tudo poderia mudar assim.

Há uma semana, Vincent Woodham era um deus na terra para mim. Aos 28 anos, ele tinha três romances publicados e uma coletânea de seis contos, antes serializados em uma revista popular. Além disso, ele também era fotógrafo e ganhara um concurso em que foi inscrito sem seu conhecimento por um amigo. E se formara aos 22 anos em Direito numa universidade bem reconhecida do país. Por fim, foi chamado para participar de um photoshoot uma vez para uma revista, por causa de outro amigo seu. Como se não bastasse ser inteligente e ter uma cabeça boa, o maldito ainda tinha genes maravilhosos que o faziam lindo. Era difícil resistir.

Vincent me inspirara a seguir muitos rumos em minha vida. Como uma aspirante a escritora e amante de livros, fotografia e homens belos, ele logo se tornou um modelo para mim. Eu queria, também, ser capaz de fazer muitas coisas. Queria ser capaz de não ter limites, de poder pisar em outra área se eu quisesse e, principalmente, queria ser boa em tudo que fizesse. Por causa dele, descobri meu caminho no mundo editorial, chegando até onde eu me encontrava agora. Consegui terminar minha faculdade apesar dos problemas que surgiram em meu caminho, tendo em mente que ele terminara a faculdade em meio às promoções de seu livro e de convites intermináveis para programas televisivos e entrevistas em jornais e revistas. Consegui mudar de cidade, aguentando o salário baixo de um trabalho de meio período para conseguir manter meu apartamento até achar um emprego melhor, sabendo que antes de lançar seus livros e terminar a faculdade, Vincent perdurara neles também.

Ele era uma inspiração para mim. Era como uma estrela guia. Eu devia muito a ele.

E eu nem falei de seus livros. Seus livros eram as coisas mais incríveis, suas palavras repletas de magia e sentimentos. Em uma entrevista, ele dissera o quanto era ruim em conseguir expressar os sentimentos internos das personagens. Ao invés disso, ele focava-se apenas em descrevê-los a partir dos cinco sentidos, o que não deixava os leitores menos emocionados. Os personagens, talvez por causa disso, se tornavam muito mais reais e o que eles sentiam, apesar de não ser bem descrito, era muito mais palpável para nós. Eram humanos. Humanos como aqueles que seguravam o livro entre os dedos quentes. Era fascinante o modo que sua escrita era viva. A maioria de seus livros estava na minha lista de favoritos.

I - Quem Eu Quero EncontrarOnde as histórias ganham vida. Descobre agora