CAPÍTULO 12

125 27 14
                                    

— Você quer comer? — a cabeça de Vincent apareceu na abertura da porta e eu dei um pulo na cama onde estava largada, tomando um susto. Estava tão imersa na leitura que não apenas não o ouvira chegar como também nem havia notado o tempo passar. Olhei para fora da janela e percebi que estava tudo escuro. Quando tinha mudado do sofá da sala para o quarto, ainda estava claro do lado de fora, mas não o suficiente para eu manter as luzes apagadas. Por conta da iluminação artificial, eu nem me tocara do tempo.

— Pode ser. Mas ainda não acabei — falei, mostrando as folhas que ele me entregara mais cedo. Ele arqueou as sobrancelhas, provavelmente em reação ao tanto de post-its que eu havia colocado entre as páginas com anotações.

— Não tem problema. Acho que já pôde ter uma ideia e podemos conversar sobre isso enquanto comemos.

— Tudo bem então — dei de ombros, marcando a página que eu segurava e organizando tudo para que não perdesse a ordem. Espreguicei-me, ficando na ponta dos pés e esticando os braços para cima, sentindo os efeitos de ter passado o dia todo estirada na cama absorta na leitura.

Segui o caminho até a cozinha e o encontrei servindo alguma coisa fumegante e que cheirava muito bem em um prato.

— Eu não perguntei mais cedo, então espero que você não tenha nenhum problema com peixe — ele disse, conforme eu me aproximava e espiava o conteúdo da panela.

— Tenho um total de zero problemas com peixe. Isso parece ótimo — arregalei meus olhos, pegando o prato que ele me estendia e começando a me servir. — Desculpe por não ajudar.

— Não tem problema. Você estava ocupada — Vincent disse, sentando-se na pequena mesa de madeira, onde dois jogos americanos estavam estendidos, com talher e taças, além de um vinho aberto. — Além do mais, sempre tem a louça para lavar.

Rolei os olhos, mas sorri com seu comentário. Sentei-me de frente para ele e aceitei a taça de vinho que ele me oferecia. Seus olhos estavam tranquilos e calorosos, e eu me perguntei por que aquilo parecia tanto com as minhas fantasias. Um jantar a dois, com vinho, comida boa e um clima agradável. Meu relacionamento com Vincent havia sido uma grande montanha-russa desde o começo quando nos conhecemos oficialmente, mas eu era grata por estar compartilhando aquele momento com ele.

O sabor do prato que ele havia preparado era inacreditável. Eu nem sabia que peixe podia ser tão gostoso assim. Ele pareceu satisfeito em me ver comendo avidamente, e não conversamos por bons minutos, os talheres sendo as únicas coisas que faziam barulho na cozinha. Eu nem tinha percebido minha fome enquanto estava lendo seu livro.

Quando peguei minha taça de vinho para tomar um gole, Vincent finalmente falou.

— O que você está achando até agora? — ele pareceu bastante sem jeito de perguntar aquilo, como se estivesse desacostumado a pedir opinião de pessoas sobre sua escrita. Pousei minha taça na mesa e passei o guardanapo pelos lábios, pensando em como poderia expor para ele meus sentimentos em relação à Kairosclerosis.

— Bem. Apesar de você dizer que está frustrado com a escrita do livro, e eu entender por quê, sendo sua fã, eu simplesmente não consegui me desconectar dele — pigarreei, tentando achar palavras melhores. — O ritmo da sua escrita e sua escolha de palavras... é como se as frases se embolassem, se acalmassem, se apressassem, se cansassem e fizessem uma pausa, tomando um ritmo mais lento, apenas para deslancharem em uma corrida desvairada. Não sei se isso faz muito sentido — apressei-me em completar. Ele apenas deu um sorriso de canto e indicou com a ponta dos dedos para que eu continuasse. — Estou falando isso porque enquanto eu lia meu coração acelerava e eu prendia a respiração sem nem perceber. Mas...

I - Quem Eu Quero EncontrarOnde histórias criam vida. Descubra agora