Novembro chega. É o mês do meu aniversário.
Carlos vai à minha casa na segunda à pedido do meu pai. Eu falto à aula, deixo meu celular desligado.
Meu primo tem fotos minhas no celular. Minhas e do Otávio, em frente à mansão-restaurante que fomos almoçar em Julho. Em uma delas, Otávio está inclinado sobre meu rosto — sei que o beijo não foi na boca, mas é o que o ângulo dá a entender. Em outra, seu braço está no meu pescoço.
Eu as vejo embaçadas enquanto meu pai balança o telefone na minha frente, gritando, fazendo minha mãe chorar.
Ela não consegue olhar nos meus olhos desde o almoço do dia anterior.
Na casa da vovó, minha mãe disse que não acreditava no Carlos, mas meu primo insistiu, desviando totalmente o foco do seu escândalo com drogas para mim.
Com as fotos em mãos, eles não precisam de mais nada para me acusar.
Houve muita gritaria lá, e há muita gritaria na minha casa também, e depois muito silêncio. Carlos vai embora satisfeito, eu fico sentado na sala, quieto, sem conseguir dizer uma palavra. Não almoço; minha mãe sequer vem me oferecer comida. Faço um jejum forçado, mas a verdade é que não sinto a menor vontade de comer. Ou sequer de viver.
Meu pai também não vai trabalhar, e sei que estou atrapalhando quando o vejo andando pra lá e pra cá na porta da sala. Ele não quer ficar no mesmo cômodo que eu, mas a TV é sua válvula de escape, então me levanto e vou para a varanda dos fundos.
Por um momento, penso que estou sendo até sortudo de que ele esteja querendo descontar as frustrações na TV e não em mim...
Vejo o céu escurecer. O barulho das panelas na cozinha me conta a hora que eles jantam em silêncio. Logo após, para minha surpresa, minha mãe se senta ao meu lado, no chão. Já está de noite e a pouca fiação elétrica do condomínio me deixa ver o céu estrelado de Novembro. Está ventando frio e ela me oferece uma jaqueta, mas eu nem consigo me mover para aceitar, ou responder ao gesto.
Dona Neide suspira, impaciente.
— Depois vai ficar doente e não vai conseguir fazer as provas no fim de semana. ENEM tá chegando aí!
Ela se levanta. Sua fala parece muito deslocada da situação atual, o que me faz ficar boquiaberto e encará-la. Sua testa se vinca e os punhos vão para os quadris quando nos encaramos.
— Então é isso? Digo... é só isso? — ouço minha voz rouca, mas ela consegue sair. — É isso que você espera de mim?
A TV está ligada, então sei que meu pai está ocupado e não vai interromper nosso momento. Vejo os ombros da minha mãe tensos, seus punhos estão rígidos e os nós dos dedos aparecem brancos. Sua expressão dura não se alivia quando diz:
— Eu espero que você não volte a nos decepcionar.
— Mãe...
É algo mais no olhar dela que nas palavras, talvez, mas isso me faz desabar. As lágrimas brotam e descem em cascatas nas minhas bochechas.
— Não vamos focar nisso agora, vamos nos concentrar nas suas provas! Em você passar no vestibular e na sua carreira, porque um errinho desses não vai desmerecer todo o esforço e sua criação-
— Mãe, eu sou gay.
Nunca pensei que fosse sentir tanta dor na minha vida quanto naquele momento ao ver o rosto dela inchar e os olhos lacrimejarem. Mesmo assim, respiro fundo e engulo algumas lágrimas para continuar falando. Eu preciso falar, tirar aquele nó dali.
CZYTASZ
Aprendendo a Gostar de Você {Aprendendo III}
Dla nastolatkówO último ano do ensino médio foi premeditado como sendo uma verdadeira catástrofe e, eventualmente, com sorte, quem sabe, fazer Daniel Henrique ter um verdadeiro ataque cardíaco de estresse. Isso o pouparia de muita coisa, sério... Mas o que tinha t...