Capítulo 21

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Após quarenta minutos de viagem, chego na estação de trem. Tento pela décima ligar para Frank. É tão inútil!

Frank nunca faria algo assim. Ele não iria me deixar preocupado enquanto tenho tantas coisas para cuidar.

Sinto a vibração do meu celular e vejo a mensagem.

"O próximo trem chegará em 10 minutos, entre no último vagão"

Parece haver algo errado.

Mas é o meu pai, e se ele estiver com problemas?

Deixo o celular no carro com a minha localização ligada. Saio e caminho até a estação.

Num horário desse, ainda deve haver muita movimentação. Não deveria ter me preocupado tanto.

Vou até a linha de espera e conto os minutos para que o trem chegue. Lembro então da minha arma. Eu havia deixado junto com o celular. Mas ainda tenho meus meios.

Exatamente dez minutos depois o trem chega na estação, reparo que ninguém entra, já que as luzes estão apagadas, há também uma faixa amarela nas portas. Entro rapidamente no último vagão e assim o trem ganha velocidade.

--Ryan...- ouço a sua voz vindo de algum lugar alí, mas ainda é escuro e eu não trouxe nada para iluminar. Sua voz é fraca, como se estivesse sentindo dor.-- Ryan! - caminho pelo vagão a procura do meu pai, até vê-lo jogado no chão, com as mãos e pés amarrados.

--Frank! -- corro até ele. Que porra está acontecendo?-- Franklin, o que houve? Por quê está aqui?

--Ryan, vá embora! Vá embora, garoto!-- o som de sua voz é de desespero. Franklin nunca se desespera assim. Ele nunca demonstrou ter medo de algo ou de qualquer situação.

Ele sempre foi um homem frio, calculista e sabia como agir perante a qualquer situação. Mas o pouco que eu podia enxergar ali no escuro, tudo era diferente.

Pela primeira vez eu podia ver o medo em seus olhos.

--Você tem que ir embora, Black! Agora!! Isso tudo está prestes a explodir! -- o que ele está falando agora?

Olho assustado enquanto ele vira seu corpo para cima.

Em seu abdômen estava presa uma bomba. Sua contagem era de cinco minutos.

Haveria uma explosão.

--Não! Eu não posso deixar você aqui, pai! Eu não vou...-olho para os lados. Caminho ainda com o trem em movimento. As portas não abrem.

As janelas estão todas fechadas, parece estar emperradas. Tem que haver alguma forma de sair.

Bato por várias vezes com toda minha força e raiva, até minhas mãos estarem sangrando.

--Nós temos que sair! Eu preciso tirar você daqui, não importa o que! -- continuo alí, até começar a sentir pedaços de vidro nas minhas mãos. Desisto de tentar abrir a maldita porta, e escorrego para o chão, deixando um rastro de sangue alí. Volto para perto de Frank...-- o que vamos fazer, pai?- aquele homem era tudo o que eu tinha. Ele me salvou e me criou. Tudo o que eu tinha era devido a ele.-- o que vamos fazer?

--Black... Black...- ele continuava a me chamar mas eu negava a ter que deixá-lo alí.-- Ryan! Para! Escuta... Eles estão com a sua mulher! -- Grace? Meu Deus! --Grace está correndo perigo! Não faça como eu, não deixe-a sozinha. Vá! Vá e salve ela. Eu não tenho tempo. Você precisa cuidar de tudo.- Grace

--Pai...- pego seu rosto em minhas mãos, estou com medo. Há muito tempo eu não sentia meu coração se apertar, não sabia o que fazer. Mas, naquele momento eu estava me sentindo mal. -- deve haver algum modo. Nós temos que lutar contra o Andrew juntos.

--Não, não temos como fazer isso. Você precisa cuidar disso. Anda logo, Ryan. Não me decepcione...- Frank me empurra para trás, acabo caindo. Não tenho nenhuma reação, minha cabeça está a mil.-- anda logo. Sai. Sai daqui. Saia, Ryan! É uma ordem!! - eles iriam pagar por isso.

Seus olhos já não tem esperanças. Frank já havia aceitado seu destino. Isso me fez lembrar de Grace.

Ela também estava correndo perigo.

Me levanto, caminhando vagarosamente para a saída de emergência, olho uma última vez para ele, não posso acreditar. A contagem agora é de um minuto e trinta e nove segundos.

Pela janela posso ver que estamos chegando perto de um túnel.

Vou até a alavanca de emergência e retiro o lacre, logo após a ativando. Empurro o vidro da janela já solto.

Evito olhar novamente para Frank assim que me preparo para pular.

Essa seria a nossa última viagem juntos.

Pulo do trem e caio em meio a pedras e arbustos. Vejo o trem passar pelo túnel e fecho meus olhos assim que escuto a explosão.

Grace

Acordo num lugar escuro. Sinto um cheiro horrível.

Levanto devagar e caminho até uma porta de metal. Tento abrir. Está trancada.

--Socorro! Socorro!- bato na porta na esperança de que apareça alguém.

Há ainda de bichos andando por alí.

Ratos?

Oh, céus!

--Por favor! Tem alguém aí??? Socorro!

Onde está Ryan? O que aconteceu?

Me sento no chão, colocando a cabeça entre as pernas, me permito chorar.

O que eu farei? Como vou sair daqui?

Ouço novamente o som de um rato, então levanto rápido e corro para um canto. Mas acabo tropeçando em algo que está no chão.

Já no chão eu vou até aquilo que me faz cair, tiro o pano que cobre a coisa e me assusto, soltando um grito. O cheiro é forte e faz meu estômago embrulhar.

Um cadáver!

-- Meu Deus! -parece ser um homem, pela altura, e o porte do corpo.

Tento me aproximar e ver se há algo que possa me ajudar a sair, mas o medo toma conta de mim.

Vai que esse homem acorda e me devora. Desculpe, mas não dá pra confiar nem mesmo em um defunto.

Procuro nos bolsos da calça mas não encontro nada.

Tento procurar nos bolsos do casaco mas o corpo está por cima da roupa.

Puxo com toda a minha força para retirar o casaco do homem morto, porém o corpo que já está se desfazendo rola para cima do meu braço.

-Aí, porra! Sai! Sai! Socorro! -- o defunto estava se derretendo em mim- droga!

Puxo meu braço e finalmente consigo pegar a roupa.

Nunca precisei tanto de um banho como agora.

Coloco as mãos dentro dos bolsos e vasculho, passo a mão por algo pontudo e gelado.

Um pequeno estilete!

Sorrio com o fio de esperança encontrado no bolso do casaco de um defunto.

Já sei que não conseguirei sair daqui tão facilmente, mas não deixarei de lutar. O primeiro a passar por aquela porta será morto por minhas próprias mãos.

-Sem revisão

Meu Querido Bad BoyKde žijí příběhy. Začni objevovat