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"Não, eu não quero me apaixonar"

| WICKED GAME, Chris Isaak |

Ellie

Eu coloquei as crianças para tocarem juntas. Eles eram muito pequenos para o piano, e mesmo que eu houvesse pedido para iniciar com meu teclado, que era menor e encaixava bem, os dois quiseram continuar no instrumento grandalhão. Eu não reclamei, porque ao menos poderiam trabalhar a parceria. E eles estavam fazendo um excelente trabalho.

Enquanto um não conseguia alcançar todas as notas, o outro vinha e completava. Eles posicionavam os dedos certinhos, apesar da dificuldade por conta das mãos pequenas. Eu estava em pé ao lado do piano, observando-os de perto. Eles preferiam assim, porque se achavam especiais quando acertavam a sequência com precisão e eu elogiava o desempenho. Eles realmente precisavam ficar orgulhosos.

Ainda era a minha quinta aula com os pequenos, mas eu já conseguia reparar algumas coisas. Christopher, por exemplo, preferia músicas mais agitadas e cheia de poder, como Moonlight Sonata. Ele não sabia tocá-la, mas se demonstrava muito interessado no ritmo. Eu achava extremamente engraçado e curioso seu jeito paculiar de tocar: sentado sobre os joelhos, cabeça baixa para que os olhos estivessem próximos das teclas e ombros levemente tortos. Delilah, por sua vez, adorava a delicadeza. Ela tinha uma filosofia muito particular sobre algumas melodias, mas quase nunca queria falar sobre elas. Eu prezava demais sua atenção e comprometimento, ainda que estivesse ansiosa para ouvi-la mais. Sabia que ela seria uma excelente compositora algum dia.

Eu não estava interessada em corrigir a postura de ninguém agora, tampouco começar com a teoria musical completamente tediosa para alguns. Eu gostaria de saber como eles se expressavam, como se envolviam como a música, como se dispunham nas aulas. Desse jeito, conseguia me manter atenta em detalhes específicos e saber com clareza o jeito mais fácil de atraí-los.

Em uma nota errada, Delilah esboçou uma careta e Christopher riu baixinho, mas os dois continuaram. Eles seguiam a partitura simplificada, a qual eu descobri que haviam aprendido com o meu melhor amigo. Felizmente não precisaria ensiná-los algo do zero, porque eles estavam bem encaminhados.

— Bom. Muito bom — falei no término. Dei a volta no piano e agachei atrás deles. Eu tinha um bom alcance das teclas dali. — Mas vocês poderiam inverter a primeira parte. Chris é mais rápido, mas a Delilah tem a suavidade necessária. Vamos combinar as habilidades?

— Tudo bem — Chris concordou.

— Certo — Delilah veio no apoio.

Ergui-me para retonar à posição anterior. Eles trocaram de lugar e reiniciaram a música. Fiquei impressionada em como tudo se encaixou ainda melhor. Eles tinham muita conectividade e sabiam o tempo exato do outro, como se fossem uma única pessoa. Geralmente era difícil pegar as deixas do outro e tornar a melodia tão milimetricamente encaixada sem nenhum desvio. Se eu estivesse gravando e mostrasse para qualquer outra pessoa, dificilmente diriam que quatro mãos — pequeninas — estavam tocando.

— Ótimo! — exclamei assim que eles apertaram a última tecla. Eles sorriram, animados. Sentei entre os dois, porque queria fazer parte daquela evolução tão rápida. Eu deveria aproveitar a animação deles. — Agora me acompanhem.

E eles seguiram os próximos dois minutos na mesma precisão, embora eu estivesse tomando conta da maioria dos acordes. Fiquei verdadeiramente impressionada — e orgulhosa — que cheguei a agarrá-los no final da música. Eu não era muito de contatos, mas eles precisavam saber o quão feliz estava em vê-los assim.

Souvenir | Romance Lésbico (Completo na Amazon)Where stories live. Discover now