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"Eu preciso dela hoje"

| ROOTING FOR YOU, London Grammar |

Beth

Eu pousei a xícara de café sobre o livro de capa dura, mas os objetos não ficaram muito tempo unidos. Eleonora, sentada à minha frente, puxou o livro com ambas mãos e olhou-me como se eu houvesse feito algo extremamente grave. Eu segurei a xícara para que não tombasse no meu colo, fitando-a de volta.

— O que foi isso? — Ri, meio preocupada.

Ela afastava o livro de mim. Eu notei o brilho ansioso em seus olhos, mas ela estava sorrindo também. Parecia uma bonequinha de porcelana angelical e doce. Se eu já não houvesse a conhecido bem demais nos últimos quatro dias, apostaria em uma personalidade meiga e ingênua, visto que suas características eram serenas e belas, como uma princesa muito bem educada. Mas a realidade era bem diferente, e eu realmente a preferia. Eleonora Baudelaire era devassa, agitada e demasiadamente interessante.

— Você quer matar o conhecimento? — ela perguntou. Eu revirei os olhos e achei a situação cômica. — Não faça essa cara.

— Essa cara? — Forcei meu semblante.

Eu curvava levemente as sobrancelhas e comprimia meus olhos, deixando os lábios entreabertos. Eleonora já sabia que tal reação só podia significar meu puro deboche sobre um assunto que pouco me importava entender — eu fazia muito isso. Ela até tentava me imitar, mas não dava muito certo. Seu jeito de demonstrar indiferença era outro muito mais bonitinho e transparente, porque ela era a pessoa mais verdadeira que eu poderia conhecer.

— Exatamente, Ewing! — zangou-se, mas talvez não estivesse brava realmente. Ela gostava do extremo, mas eu não podia julgá-la; ela era jovem e precisava agir dessa maneira. — Você podia manchar o livro.

— Você o puxou muito rápido! Havia uma xícara cheia de café em cima — ponderei. Ela riu, lutando-se contra si mesma para manter a expressão séria. — Você é o tipo de pessoa que sequer risca um livro?

— Por que eu riscaria um livro? — Eleonora disse, ofendida.

— Talvez para estudar...? — respondi com o meu leve deboche presente. Ela arregalou os olhos, desacreditando que estava ouvindo aquilo. — Você não faz anotações em livros ou grifa algumas partes importantes?

Ela riu tão alto que assustou um moço que passava perto da nossa mesa. Havíamos descido ao restaurante do nosso hotel para desfrutar do delicioso café da manhã pela primeira vez em dias. Nunca acordávamos cedo para conseguir chegar no horário a tempo, graças às noites agitadas nos unindo de diversas formas na cama. Ao menos conseguíamos almoçar, mas chegávamos no espaço extremamente esfomeados.

Todavia, naquele dia em especial, acordamos horas antes do previsto. As duas estavam ansiosas com a volta para casa, mas não de um jeito bom. Ninguém tinha ciência das manobras do futuro. Eu não sabia o que aconteceria quando retornássemos. Ela já havia dito que voltaria para casa, porque meu discurso sobre não ter medo a havia incentivado. De fato, não podia prendê-la comigo, afinal ela possuía suas próprias atividades. Embora já houvesse me acostumado até demais com sua companhia, não podia segurá-la.

Eleonora entendia que as autoridades estavam à procura da jovem sequestrada e, muito em breve e com muita fé no sistema, o suspeito seria preso. Não havia necessidade de ela também se colocar no meio daquelas investigações, exceto se fosse para dar algum depoimento que ajudasse. Ela precisava voltar à rotina e ocupar a cabeça com assuntos menos tenebrosos.

Mas era errado desejá-la só para mim? Eu não queria que o mundo a tocasse, e, ainda assim, devia permitir que o contato acontecesse. Evidentemente não era justo privá-la de mais experiências, mas eu não estava preparada de abrir mão de algo que descobri ser aprazível — um sabor lascivo que meus lábios jamais haviam experimentado.

Souvenir | Romance Lésbico (Completo na Amazon)Donde viven las historias. Descúbrelo ahora