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"Então vou tentar ficar tranquila agora"

| EVERY SINGLE NIGHT, Fiona Apple |

Ellie

Acordei no susto, mas não da forma clichê que podíamos ver em filmes. Eu não pulei da cama suando frio, tampouco abri os olhos sob uma respiração descontrolada. Sequer lembrava de ter algum sonho durante a noite, algo que só podia significar que tive um descanso merecido sem nenhuma interrupção.

O pavor momentâneo que saltava do meu peito era devido à solidez de alguma matéria caindo sobre mim. Havia sido o suficiente para que, por fim, erguesse-me do travesseiro. Só assim para meus olhos captarem a movimentação. As sombras agitadas foram ganhando silhuetas pequenas, enquanto os ruídos se transformavam em vozes de criança.

— Chris! Delilah! — exclamei.

Eles riam sobre a cama. Ambos de olhos inchados, cabelos desajeitados e pijamas bonitinhos. Provavelmente haviam acabado de acordar e pensaram que deviam fazer o mesmo comigo. Eu não me importava muito, mas ficaria um pouco triste de acordar com dor de cabeça por causa disso. Felizmente estava bem, mas meu cérebro ainda trabalhava para entender o que se passava.

— Estou feliz que esteja aqui! — Delilah me abraçou. Eu nunca a vi tão carinhosa e desejando contato assim. — Você veio me ajudar!

— Ajudar? — cocei meus olhos com a mão livre, porque a outra estava ocupada em devolver o carinho.

— Ajudar com a minha apresentação no West of Calhoun, é claro — a menininha explicou. Eu estava compreendendo suas palavras, mas não encontrava nexo. Ela percebeu minha confusão matinal e apertou-me um pouco mais. — Levante! Vamos tomar café da manhã rapidinho, porque temos muito o que fazer.

Bom, acho que ela não me deixaria em paz tão cedo. Nitidamente a garota queria ensaiar para que tudo ocorresse bem. Auxiliá-la podia ser o meu pagamento, afinal sua mãe me recebera tão bem na noite passada. Havia ficado naquele quarto enorme e aconchegante, usado das roupas disponíveis e, dali a pouco, comeria da comida deles. Eu estaria fazendo o mínimo se ensaiasse com Delilah por algumas horas.

— E você? — olhei amigavelmente para o rapazinho calado. Ele também estava tentando acordar, diferentemente da irmã, que já estava elétrica sem grandes esforços.

— Daqui a pouco os meus amigos da escola vão chegar — Chris informou. — Eles querem ver a bola de futebol americano que ganhei de Natal. A bola que você me deu!

— Isso é legal! — sorri.

Eu havia conseguido sentar. Delilah estava posicionada em um dos meus braços, mas ela era tão pequena que não dava para sentir seu peso. Srta. Ewing bateu de leve na porta e, depois que três vozes gritaram um "pode entrar", a mulher veio ao nosso encontro. Ela perdeu a cortesia demonstrando seu descontentamento com a cena.

— Crianças! — a médica colocou a mão na cintura. — O que vocês estão fazendo aqui?

— Não é nenh...

Tentei defendê-los, mas as duas crianças saltaram da cama antes que a mãe pudesse decretar algum castigo perigoso. Eu fechei a boca e usei o restante da energia para observá-los escorregando nas meias e fugindo pela porta. Claro que a risada escapuliu da minha boca, mas tentei me segurar. Se ela estava brava de verdade com o fato dos filhos me acordarem daquela forma, não queria dar mais motivos para irritações.

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