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"Você já sentiu que nós estamos caindo conforme crescemos?"

| THE GOLDEN AGE, Woodkid |

Ellie

Era o último dia do ano. Eu não estava nem um pouco preparada para a virada, mas certa animação corria em minhas veias. Nos últimos dois meses, nada que acontecera comigo fizera sentido, tanto que eu suspeitava que tudo não passava de uma realidade alternativa.

Só assim para explicar que havia encontrado duas crianças prodígios para ensinar piano, ajudado uma delas a se preparar para uma audição, comparecido ao Natal de uma família que não conhecia, quase beijado uma mulher uns dez anos mais velha sob uma tradição boba, perseguida não sei por quanto tempo por um psicopata e passado três dias seguidos convivendo com milionários. Meu cérebro estava derretendo.

Segundo uma eufórica Elisabeth Ewing, pela manhã a família se dirigiria ao teatro West of Calhoun para a apresentação marcada ao meio dia, almoçaríamos em algum restaurante lá perto e depois aguardaríamos a avó das crianças, a qual prometera que as levaria para passar alguns dias em outro continente.

Eu ajudei Damian a juntar as malas dos mais novos no carro da chefe. Ele parecia muito mais polido e distante na presença de Srta. Ewing, mas foi bastante gentil comigo. Dash avançou para dentro do automóvel com os fones de ouvido e celular em mãos, pouco se importando para as demais pessoas. Christopher e Delilah foram nas cadeirinhas, porque ainda eram pequenos demais para uma aventura fora delas. Apenas restava o banco do passageiro para mim.

Era estranho me sentir tão próxima de todo mundo. Sentei-me à direita como se fosse dona do carro. Srta. Ewing, radiante naquele dia gélido, ligou o rádio e deu partida. Pelo pequeno espelho frontal, conseguíamos ver as crianças interagindo. Delilah repassava a música da sua apresentação batendo os dedinhos no colo. Ela estava de olhos fechados e remexia a cabeça de um lado para o outro e seguia uma melodia.

— Perfeito — falei. Delilah abriu os olhos percebendo que eu estava atenta nela. — Perfeito. Você já tem tudo na sua cabeça.

— Como? — Srta. Ewing levava o veículo para fora do Condomínio River Falls.

— Delilah — apontei com o queixo. A mulher olhou pelo espelho frontal e percebeu o empenho da filha. — Ela vai se sair bem.

— Você acha? — Delilah, que estava consideravelmente ansiosa, piscou. Ela arrastou o corpo para frente, mas o cinto de segurança a manteve naquele mesmo lugar. — Você acha mesmo?

— Só chegar e tocar — o irmão respondeu. — Isso não estará nos definindo, não é? Eu não consegui passar pelas audições ano passado, mas isso não me definiu.

Eu e Srta. Ewing nos encaramos. Ela estava orgulhosíssima do pensamento do filho. Eu não sabia como havia sido em sua última apresentação, mas ele parecia que tinha superado bem; seu olharzinho carinhoso à irmã dizia tudo o que eu precisava saber.

— Isso mesmo, querido — disse a mãe.

Delilah apertou a mão dele. Achava uma graça a forma que eles se tratavam. Passei mais de um dia para dizer com convicção que eles eram assim mesmo. Eu não tinha irmãos e não entendia o mecanismo daquela relação tão complexa, mas vê-los tão unidos todos os truques se resumiam em apenas amor. Eles seriam adultos incríveis no futuro, porque a empatia transbordava desde cedo.

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