Erik II

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25 de maio (2018)

Quanto mais eu morava com o Abel, mais ficava óbvio o quanto ele era perfeito. Antes achava que vê meu pai se casando com outra mulher era ruim, mas o filho dela se mostrou algo muito pior. Ele era bom em tudo, e quando digo tudo, é tudo mesmo. Não demorou nem um dia para ele se tornar o queridinho dos professores, afinal, era um dos melhores alunos da nossa turma. Também não demorou muito para o Abel fazer novos amigos, isso incluía a Mari e Isa para piorar.

Lidar com ele na escola era fácil, porque eu podia simplesmente evitá-lo o dia inteiro, mas quando estávamos em casa. Bem, era impossível. Foi muito estranho dividir as coisas mais simples com ele como o banheiro, talvez seja, por nunca ter tido nenhum irmão ou por ele ser um completo estranho. Faz diferença?

Em resumo só o fato dele existir já me fazia sentir mal, não que ele fosse um cara ruim, mas o pouco de atenção que eu tinha do meu pai sumiu assim que o Abel chegou. Agora ele tinha o filho perfeito. Não me lembro da última vez que fui tão inútil na vida. Odeio me senti assim. Meu pai nem se importava que horas voltaria para casa ou se eu voltaria, mas ele ainda tinha um monte de sermões na ponta da língua. Acho que no fundo nada realmente mudou.

Faz quanto tempo que eu estou encarando esse ninho de pássaro? Acho que estou esperando algo de interessante acontecer nessa aula de física. Me forço a olhar para o quadro, mas minha cabeça doe. Foi uma má ideia ter bebido tanto ontem, devia pegar mais leve. De repente sinto meu celular vibrar no meu bolso, era o Paul. Talvez tenha algo legal nessa sexta?

Paul: Então vai na festa?

Erik: Festa? Não sei, tô sem vontade de vê a cara das pessoas.

Paul: Cara, vc tá brincando, né? Ouvir dizer que a Mia vai está lá.

Erik: E?

Paul: Ela é gostosa. Não era vc que vivia dizendo que queria pegar ela. Agora é sua chance, já que vc tá sozinho.

Erik: Cara, duas semanas...

Paul: E daí? Você não quer transar? Tô te fazendo um favor.

Encaro a mensagem por uns dois minutos. Talvez eu realmente devesse só seguir em frente, certo? Não é como se eu ainda devesse nada para alguém. Ouço risadas ao fundo da sala. Estamos no intervalo. Me viro e vejo ele rindo com algumas garotas, elas até que são bonitas. Espera, ele cortou o cabelo? Ao me vê Abel sorri para mim. Volto a olhar para a tela do celular. Quer saber? Que se foda! Pelo menos algo bom vai acontecer nesse mês.

Erik: Ok, eu vou.

A festa não estava tão chata, talvez ela pudesse até ser divertida, mas para ser sincero aquela cena estava começando a me deixar desconfortável. Não que ela em particular fosse ruim, quer dizer tudo lá estava meio entediante, porém aquilo me deixou estranho.

Eu observava Abel conversando com alguns dos nossos colegas, não que eu estivesse espiando. Tudo estava normal, até que o Tomás apareceu e um sentimento tomou conta do meu estômago, naquele momento eu ainda não conhecia a palavra certa para descrevê-lo.

- Então... eu notei que você ficou me olhando e... - Tomás está de frente para Abel. Ele parece tímido ao ponto de mal conseguir encarar ele nos olhos.

- E? - Abel abre um sorriso gentil.

- Bem, como eu posso te dizer isso? - Tomás olhar para os lados evitando ao máximo olhar para Abel. - Meio que tô descobrindo esse lance de também gostar de garotos e... - Ao falar "garotos" seu rosto fica vermelho. - Isso é muito novo pra mim, e talvez eu precise praticar mais. - Ambos ficam em silêncio por alguns segundos. - Enfim, posso te trazer uma bebida? - Tomás finalmente quebra o gelo, parece que ele quer chorar.

O Garoto De MaréOnde as histórias ganham vida. Descobre agora