Mariana I

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25 de maio (2018)

Os nossos problemas se intensificaram no último verão, mas o meu limite acabou a duas semanas atrás. Eu não diria que o Erik era violento, talvez um pouco agressivo? Perdi a conta de quantas vezes disse a mim mesma que suas palavras não machucavam, mas era verdade. Acho que, no fundo, elas perderam o sentido ou não me afetaram mais. Quantas vezes ele me chamou de "burra"?

Não importava o que fizéssemos sempre acabávamos voltando, era como um 'loop' sem início ou fim. Terminamos tantas vezes que não importava mais, era uma questão de tempo até começar tudo de novo. E me odeio por isso, talvez eu realmente seja a "burra" aqui, por me manter presa a essa relação estragada.

Estou brincando com seus cabelos agora mesmo, enquanto ele está desmaiado em meu colo. Há um pequeno hematoma na sua bochecha esquerda devido à queda que ele acabou de levar. Quando isso aconteceu e o Erik caiu, todos olharam para mim como se fosse a minha obrigação de alguma forma cuidar dele. E aqui estou, de volta a essa relação. Presa na mesma situação que levou o nosso fim.

Não importa quantas vezes eu olhe para ele, simplesmente não consigo odiá-lo. Retiro seus cabelos loiros da sua testa, com tanto cuidado. As vezes sinto que posso quebrá-lo se eu fiz isso muito rápido. Seria mais fácil se o Erik fosse apenas mais um garoto babaca, mas eles nunca são, não é mesmo?

Desde que o Abel chegou e me ajudou. Estava conseguindo aos poucos me afastar dele, já nem lembrava dos nossos momentos ruins e isso era bom. A cada segundo luto mais e mais para segurar as lágrimas, sinto que agora sou eu quem vai quebrar e estou tanto medo disso. Ser julgada nunca é fácil, principalmente para uma garota como eu.

Era óbvio que isso ia acontecer mais cedo ou mais tarde. Por que eu sempre tento adiar o inevitável? Foi assim com o divórcio dos meus pais. Queria ser forte como o Abel e encarar tudo pelo melhor ângulo possível, entretanto fico persistindo no mesmo erro até perceber o quão tola estou sendo. E quando isso acontece, já é tarde mais. Me desculpa, mas eu preciso me afastar de você, Erik.

Depois de 5 minutos intermináveis, a Isa aparece com o Abel. Será que eles são os meus únicos amigos de verdade? Nem minha família me conhece tão bem quanto aqueles dois, mas é isso estranhamente reconfortante. Abel se aproxima da gente e coloca a mão na bochecha de Erik. Ele passa alguns segundos analisando e isso me deixa preocupada, mas por fim solta um suspiro.

- Mãe? - Erik fala. Talvez ele esteja tendo um pesadelo.

- Não parece muito sério. Eu cuido disso em casa. - Abel sorri para mim e eu quebro. As lágrimas fugiram do meu controle, mas não posso culpá-las, posso?

- Você é muito dramática, é só um machucado. Na quadra isso acontece o tempo todo. - Paul diz sorrindo do outro lado da sala, em seguida toma um gole da sua bebida. De repente me sinto tão frágil que minha voz não sai, mas as lágrimas secam.

- Quer saber? Vai se ferrar, Paul. Eu estou cansado da sua estupidez. - Abel encara Paul irritado fazendo com que todos na sala olhem para os dois. - Se quer ser um idiota, seja um idiota sozinho. Só não envolva a vida dos outros. - Paul parece constrangido, ele olha para Abel confuso. - Não me interessa o que acontece em quadra, não estamos na merda de uma quadra. - Ele se aproxima de Paul e o encara nos olhos. - Estamos falando da vida do Erik que você está ajudando a afundar, com essas coisas estúpidas que você bebe para se sentir especial. - Paul fecha os punhos.

- Você fala com se ele fosse uma criança. - Um sorriso amargo surgiu no rosto do Paul.

- Não, você tem razão. Ele não é, mas o mínimo que se pode fazer é ser responsável com a vida dos seus amigos. - Abel se vira para mim, e me olha nos olhos. De algum jeito, sinto que tudo vai ficar bem. - Olha, não tenho nada contra você, tirando o fato de ser uma péssima influência para o Erik. - Ele segura minha mão e eu finalmente paro tremer. - E está sendo um babaca com a minha amiga.

O Garoto De MaréWhere stories live. Discover now