Erik III

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25 de maio (2018) 

Acordo em um lugar familiar, acho que é a casa da Mari. Estou sentado na beira piscina, a água está tão gelada que me arrependo de colocar meus pés. A noite parece tão quieta que só consigo ouvir meus pensamentos. Será que o pai dela está em casa?

Observo meu reflexo trêmulo na água. Por que me sinto estranhamente triste? Era quase como se algo ruim estivesse prestes a acontecer. Me encaro na água que me reflete quase perfeitamente. Queria ter os olhos da minha mãe. Quer dizer, não é ruim ter olhos azuis, mas nada em mim me lembra ela.

— Erik, precisamos conversar. — A voz da Mari surgiu ao meu lado.

Me viro e vejo ela, linda como sempre. Mari estava sem maquiagem, era bem raro ver ela assim, tão simples e natural. Seus cabelos caiam sobe seus ombros, sua postura era perfeita ao contrário da minha. Porém ela parecia cansada de algo. Talvez de mim?

— Eu... eu... não aguento... mais... — Ela desaba do meu lado, suas mãos tentam esconder seu rosto que provavelmente estava ficando vermelho.

É minha culpa. Eu sei disso, tudo em mim sabe como eu a machuco. As pessoas se afastam das outras por um motivo e não sou ingênuo o suficiente para acreditar que não sou o problema aqui. Fico em silêncio, apenas escutando seu choro abafado. É doloroso, mas é minha culpa.

Agora tudo que posso fazer é da espaço para que ela organize seus pensamentos. Abraço meus joelhos e tento ficar o mais quieto o possível, seria melhor se eu não existisse naquele momento. Meus pulmões ficam sem ar, é angustiante, eu choraria se consegui. Socorro.

— Ei, você está bem? — Alguém toca meu joelho com delicadeza, a mão está quente.

— Ah? — Minha voz falha.

Me viro em direção a onde estava Mari, mas quem está lá é outra garota. Ela era parda e tinha seus cabelos na altura do pescoço, eles completamente azuis como o mar. A garota me encarava preocupada com grandes olhos azuis que por algum motivo tinham o mesmo tom que seu cabelo.

— Você está bem, Erik? — Ela repete a pergunta enquanto se aproxima de mim.

— Quem é você? — Pergunto confuso tentando me afastar aos poucos da garota.

— Para com isso, Erik. Mas você está bem? Parecia que ia chorar. — Ela para de se aproximar e resolve colocar seus pés na água.

— Está fria. — Tento avisar, mas já é tarde de mais.

— Você se preocupa demais comigo, sabia? Me pergunto quando vai criar coragem para enfrentar seus problemas sem mim. — A garota olha de lado para mim. Meu coração acelera.

— O que nós somos? Eu não me lembro. — Faço o possível para não olhar nos olhos dela, mas por algum motivo me sinto atraído a tentar.

— Amigos. — Ela diz sorrindo para mim. Tenho quase certeza que corei.

— Amigos? Tem certeza? Ultimamente não venho tendo muitos amigos. — Acabo deixando transparecer meu desânimo.

A garota me analisa como se me conhecesse há anos, mas por alguma razão não me sinto julgado. Ela me lembra alguém, só não sei ao certo quem. Talvez alguma atriz? Acho que gosta de mim, a maneira que ela me olha faz parecer que tínhamos algo.

Acho que por toda essa confusão esqueci que estava com alguém, mas quem? Estava na ponta da língua. Me perco em pensamentos e quando percebo a mão dela toca a minha bochecha. Está tão quente. É meio familiar o seu toque. Quantas vezes ela deve ter tocado meu o rosto?

— Posso te contar um segredo? — Sua voz sai quase como um sussurro.

Trocamos olhares por alguns segundos, ambos em silêncio apenas ouvindo a água se agitando na piscina. De repente a expressão dela se fecha e seus olhos se enchem de lágrimas. Eu queria secá-las e perguntar qual era o problema, mas tinha medo da resposta ser eu.

O Garoto De MaréOnde as histórias ganham vida. Descobre agora