Erik VI

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22 de junho (2018)

A Sra. Amorim acabou de cuidar do corte no rosto dele. Achava que tínhamos cuidado disso, mas ela deve entender mais que nos sobre isso. Em nenhum momento ela levantou a voz ao contrário do meu pai que queria botar a escola a baixo. E eu fiquei em silêncio sentado no sofá, apenas observando a mãe do Abel cuidado dele.

— Eu preciso saber o nome, filho. — Sinto que a qualquer segundo ela vai chorar.

— Nathan Cabral, ele é do segundo ano. — Abel sorriu para mim. Algo me dizia que tudo estava bem, apesar do clima.

— Onde você estava quando isso aconteceu? — Meu pai me encara. Por que ele está com raiva de mim? — Em alguma festa?

— Eu voltei para casa mais cedo... — Abaixo a cabeça olhando para o chão. Que situação horrível, quero sumir.

— Você estuda na mesma sala. Como não percebeu alguém fazendo bullying com ele, Erik? — O tom de voz do meu pai aumenta.

— Não foi culpa dele. Ele passou a tarde me ajudando a cuidar do corte no meu rosto. — Meu pai se vira para o Abel mais calmo. — Você não deveria jogar a sua raiva em cima dele. Se alguém tem culpa é o cara do segundo ano que me bateu. — Abel solta um sorriso sem graça.

— E quem fez isso no seu braço, amor? Ele já estava machucado antes desse garoto aparecer. — Abby olha Abel nos olhos.

— Foi... eu. — Depois de alguns segundos de silêncio as palavras saem rasgando minha garganta.

— Você fez o quê? — Consigo sentir o ódio em sua voz. Meu coração acelera. Minhas mãos tremem e o mundo começa a ficar muito alto. O ar fica cada vez mais difícil de respirar. Socorro.

O Abel se levanta e vem em minha direção ignorando o meu pai espumando de raiva. Ele me olha com preocupação, como seu eu fosse uma bomba prestes a explodir, e eu vou. Sem dizer uma palavra ele me estende a mão. A voz do meu pai fica abafada de fundo e tudo que dá para ver é o Abel. O mundo ficou em silêncio. Tomo coragem e seguro na sua mão. Ele me leva até meu quarto. Nossos pais nos olham, mas não fazem nada. No meio do caminho penso em soltar sua mão, mas fico com medo daquela sensação voltar.

O Abel me guiou até a minha cama. Nunca me senti tão seguro por estar no meu quarto, com ele. Eu me sento na beira da cama. Aos poucos meu coração vai desacelerando. Ele fica na minha frente. Seu rosto está triste, lentamente sinto seus olhos se encherem de lágrimas. Estou cansado de vê-lo chorar o dia inteiro.

— Eu vou resolver tudo. Fique aqui. Daqui a pouco eu volto, Erik. — Sua voz sai tão calma e um pouco familiar. — Não precisa se preocupar, está bem? — Ele desvia o olhar, seu rosto fica corado. — Eu preciso ir. — Abel sai pela porta fechando ela.

A sensação de segurança vai aos poucos sumindo e tudo que sobra são as vozes na sala. Por que me senti assim? Já tive várias brigas com meu pai que com certeza foram piores. E como o Abel percebeu que eu estava surtando? Droga, minha mão está fria, ou melhor, tudo está congelando. Fecho a janela do quarto e caio na cama. Meu rosto afunda no lençol macio e tudo vai ficando lento até que meus olhos se fecham.

— Quantas vezes eu te disse para não brincar na chuva?

As mãos da minha mãe brincam com o meu cabelo. Estou com a cabeça no colo dela. Era um dia chuvoso, mas eu não me importava. Ela tinha coberto a gente com um edredom, estava bem quietinho. Meu nariz estava entupido devido ao resfriado, mas eu também não ligava. Aquele momento só existia eu e ela.

— Você acha que a Mari me pensa que eu sou mais legal agora? — Tentei puxar um pouco de ar pelo nariz, sem sucesso.

— Por quê acha isso, amor? Você é o menino mais legal que eu conheço. Não precisa parecer legal pra ninguém. — Os seus dedos afundavam em meu cabelo fazendo cafuné.

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⏰ Last updated: Jul 27, 2021 ⏰

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O Garoto De MaréWhere stories live. Discover now