Só uma palavra me devora...

40 13 3
                                    

Staring at the sun

A love so strong it hurts

Ariel – Daniel Cavanagh

*****

Noites dormidas no chão eram diferentes, tendo as estrelas como cobertas. Mas junto com elas também havia sonhos profundos que antecedem o acordar em um peito forte e quente, e macio como travesseiro. Uma capa sedosa jogada por cima dos ombros quando um corpo desceu ao solo, mas a mente caindo no abismo não registra de forma coerente cuidados que se escondiam entre as sombras do crepúsculo, mas que fugiam com a aurora, temerosos da exposição à luz do dia.

*****

Mei Hanxue passou a mão pelo cabelo negro de Xue Meng e sentiu a textura dos fios macios levemente emaranhados deslizando contra a palma.

Um suspiro escapou dos lábios de Mei HanXue ao contemplar a figura de pele clara nos braços do irmão. O nó em sua garganta seca se moveu procurando diminuir esse ardor de angústia. Essa necessidade.

Com as mãos mais suaves Mei Hanxue ajudou a tirar o manto do líder... couraças de prata desciam ao solo enquanto as mãos tremiam.

Alguns discípulos mais velhos poderiam se encarregar do jovem mestre, mas uma fagulha pouco sutil de ciúme queimava no interior dos grandes líderes do Palácio Taxue.

Eles talvez não estivessem em condições de ver Xue Meng sem suas vestes sem desejar mais do que estavam autorizados a pegar.

Ele está machucado. Ele precisa de cuidados. Mas não "esses" cuidados.

Era esse o pensamento fixo ao ver as roupas internas deslizarem revelando um físico invejável e altamente desejável.

Mei HanXue tentou não reparar na maciez da pele e na perfeição sutil das formas generosas e na delicadeza de uma parte preciosa, suave e com cheiro de flores do campo.

Mei Hanxue gravou cada linha. Decorou cada curva. Traçou cada limite dentro do aceitável para alguém desacordado. Seu inconsciente não lhe acusava. Xue Meng estava machucado. Precisando de banho. Quem mais poderia esfregar sua pele com tanto cuidado? Tirar a poeira da estrada, relaxar os músculos? Quem mais iria reverenciar seu corpo com a adoração que merecia?

Mei HanXue se sentiu como uma criança sem dinheiro na feira apreciando de longe um doce saboroso.

Uma banheira de madeira, pétalas de rosas e óleos aromáticos. Os cabelos de Xue Meng flutuavam na água e ele simplesmente era a personificação de um espírito da água adormecido. Uma ninfa seduzindo um pescador despercebido.

Há quantos anos apenas escondendo o fogo e o desejo? Há quantos anos apenas vendo essa pequena ave exibir suas plumas abertas para eles...

Mei Hanxue queria chorar de emoção. Anos haviam se passado desde que Xue Meng tinha visitado seu lar. Sempre apressado. Sempre correndo. Sempre fugindo.

Anos antes Mei Hanxue não sabia exatamente o que seus sutis devaneios de primavera significavam, afinal, ele se apaixonava e deixava de gostar tão facilmente...

Xue Meng um rosto bonito em meio a tantos outros... homens... mulheres... Mei Hanxue se doou a tantos... recebeu de tantos... mas Xue Meng sempre foi como uma fruta madura em um galho muito alto. Desejável, mas fora do alcance e Mei Hanxue se acostumou a colher as frutas dos galhos mais baixos.

Ele adubava a planta, dava-lhe carinho, se regozijava à sua sombra, mas a fruta nunca caiu em suas mãos, então simplesmente se resignou que aquela fruta que despertava seu interesse e fazia brilhar os olhos jamais seria sua.

Minha sombra em suas mãosWhere stories live. Discover now