Coração Perdido na Neve

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I found my place
In time and space
In hope and faith
And love I give
My mind is clear
I have no fear
I shed no tears
For you my dear

(Lightning Song - Daniel Cavanagh)

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Vento frio soprando nas montanhas nevadas não eram novidade, mas isso não impediu Xue Meng de acordar assustado. Por algum motivo acordar vinha sendo um marco temporal muito constante em sua vida.

Sua cabeça doía ainda mais do que nos outros dias e o gosto amargo em sua boca era uma evidência da loucura da noite anterior.

Ainda estava escuro lá fora, mas para um lugar coberto de gelo e é claro, a barreira de proteção no jardim, estar escuro ou claro não parecia tão relevante.

Não quando sombras desgarradas sussurravam coisas absurdas na mente de Xue Meng.

Nessa manhã não havia pele quente ou braços ao redor de seu corpo e a cama parecia estranhamente vazia.

Na noite anterior, Xue Meng agiu com mais liberdade do que todas as outras vezes em que abusou do álcool.

O que significava tudo isso? Porque de todas as crises existenciais possíveis, ele tinha que estar negando a si mesmo o que era tão evidente que chegava a machucar.

Ele queria fugir dali. Sumir. Desaparecer. Encontrar seu destino longe dos irmãos Mei e dos seus lábios de sereia.

Mas se fosse sincero, Xue Meng sabia que sua essência contribuía para que sua visão sobre o mundo não fosse muitas vezes condizente com a realidade. Tantas coisas foram embora em sua vida, mas talvez tenha sido ele quem fugiu algumas vezes de muitas delas...

Porque de todas as formas, encarar seus sentimentos sempre foi uma tarefa árdua, e Xue Meng sempre foi melhor em negar do que em admitir.

Negar o que acontecia entre seu shizun e primo, negar que Shi Mei nunca mais voltaria para o Pico SiSheng, negar que ele se importava com Jiang Xi muito além da relação entre líderes de seita e que ele estava desesperado por afeto familiar e negar que no fundo de sua alma, desejava sua aprovação muito mais do que o seu dinheiro, e negar que... os irmãos Mei haviam se tornado tão importantes para si como o ar que respirava.

O que tinha sido toda aquela loucura impulsionada pelo vinho? Desde quando ele era tão vulnerável depois de beber ao ponto de agir obscenamente?

Por que ele deveria tremer apenas por um toque sutil em seus lábios, preso aos lábios e aos braços dos irmãos como se sua vida dependesse disso? Como se rolasse em desesperos noturnos de carinho que preenchesse um vazio de alma?

Que rosto ele tinha para exigir decoro por parte dos discípulos do Pico Sisheng agora?

Muitos pensamentos vêm e vão, mas como expulsar lembranças que permaneciam vivas, assombrando-o mesmo quando estava acordado?

Como encarar os gêmeos com seus olhares conhecedores e provocadores depois de sempre se esquivar quando Mei Hanxue tentava apalpá-lo no passado?

Ele tinha Long Cheng agora. Ele sabia como sair! Ele se sentia forte e reestabelecido, então poderia terminar de se curar em casa. Na segurança de suas paredes. De sua gente. Longe de olhos verdes perigosos e mãos ágeis e promiscuas. Longe desse caos de sentimentos que se espalhavam, revirando seus pensamentos e misturando com a lembrança de sussurros melodiosos que não combinavam com sua existência pacata e correta.

Esse era o certo a ser feito desde o primeiro dia!

As relações políticas entre as seitas que se danassem! Ele não escolheu ir para lá a princípio e o ancião Xuanji não disse nada sobre limite mínimo de estadia. Estava decidido! Ele iria embora!

Minha sombra em suas mãosWhere stories live. Discover now