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De joelhos no chão de cimento áspero, Kurt terminou de esfregar a privada, enjoado pelo cheiro de urina e sujeira do banheiro coletivo que impregnava seu nariz

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De joelhos no chão de cimento áspero, Kurt terminou de esfregar a privada, enjoado pelo cheiro de urina e sujeira do banheiro coletivo que impregnava seu nariz. Esse era o preço por trinta dólares. Trinta dólares sofridos para esfregar marcas de mijo de caminhoneiros e suas pegadas de lama no banheiro de uma parada. Quando fugiu de casa, não pensou que teria de trocar uma humilhação por outra. Mas ali estava todos os dias, há uma semana. Amargo era admitir que, ainda assim, essa vida era melhor do que aquela que levava antes.

Kurt empurrou a descarga, e o redemoinho girou dentro do vaso de porcelana. Quando a água parou o agito, ele se viu encarando seu próprio retrato refletido dentro da privada. Seu cabelo castanho jogado por cima da testa, fazendo sombra no rosto que era meio torto pelo nariz quebrado e pela boca retorcida de desgosto. Kurt odiava ter aquele rosto tão parecido com o homem que deveria chamar de pai. Era como se ter fugido não tivesse adiantado nada, porque, a cada momento que virava e encontrava seu reflexo, a imagem de seu pai estava lá, encarando. E Kurt não podia evitar recuar alguns passos por impulso, esperando que uma mão saltasse da imagem para socá-lo na cara.

— Some, desgraçado — Kurt xingou sua cópia na água e cuspiu.

O sanitário devolveu, e a água por pouco não respingou no rosto de Kurt, que desviou por um reflexo defensivo há anos acostumado. Com raiva, ele amassou o pano de chão numa bola e limpou os respingos da gota que arruinou seu trabalho duro.

A porta do banheiro estalou aberta, e ele esfregou mais rápido, querendo acabar logo o serviço. Kurt não se importava em olhar quem entrava, pois era sempre só mais um motorista que havia dado uma pausa para abastecer e aproveitado para descarregar a bexiga.

Mas passos pararam no vão aberto da cabine, bem atrás dele. Por cima do ombro, Kurt olhou e reconheceu o gerente da parada de caminhões, um homem elegante com roupas impecáveis demais para um lugar daqueles. O bigode loiro em seu rosto marcante era falhado por uma cicatriz que riscava da boca até o queixo. Era do tipo de marca que contava uma história. Kurt só não sabia qual.

— Por que está carregando um revólver dentro do meu posto, garoto? — A voz tinha um forte sotaque estrangeiro.

O olhar severo do homem apontava para a parte mais baixa das costas de Kurt.

Colisão [2ª edição 2023]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora