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AVISO PRÉVIO: Este capítulo é classificado como +18 e contém cenas explícitas de conteúdo sexual.

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Desertos podiam ser muito frios durante a noite, mas não naquela noite.

O capô do Skyline ainda resistia quente depois do último racha vencido quando Kurt se escorou nele para observar. Os fogos de artifício se refletiam na lataria lustrada das fileiras de carros, enquanto a batida da música amplificada pulsava através do chão, e nos intervalos entre os graves era possível ouvir os uivos entusiasmados da plateia que assistia a uma nova disputa entre três que corriam em zig-zag. Na pista empoeirada e em movimento, os pesos mortos da vez tinham metade do corpo para fora das janelas, se segurando no teto, cabeças jogadas para trás, curtindo no limite. Assistindo àquilo, Kurt sentiu uma conexão empática que não havia sentido na noite anterior. Porque, só agora, ele entendia o que se passava no corpo cheio de adrenalina e na mente entorpecida pelo efeito disso.

A fogueira ainda queimava alta, derramando tons de laranja, ondas de calor e cheiro de queimado sobre a aglomeração. Debaixo da pilha ardente de chamas, desaparecia cinza a cinza o que um dia foi chamado de carro. Era imprudente queimar algo daquela forma, com risco de explodir. Mas naquela noite, ser imprudente era o que Kurt queria.

Querer, ele estranhou a novidade do pensamento. Por muito tempo, ele nunca quis nada. Por anos, viveu apenas querendo a chance de poder se livrar do pai. De poder sair de casa. De poder salvar sua mãe. Vontades sempre a respeito dos outros, nunca de si mesmo. Mas agora eram todos desejos mortos. Um único resistia para trás, queimando vivo feito a poderosa arma incendiária que Mackenzie colocou no aperto de sua mão para queimar o Taurus: ele queria correr de novo, bem atrás do volante e no controle do acelerador. Para se sentir útil. Reconhecido. Visto. Algo pelo que poderia morrer e ainda assim se sentir satisfeito.

Emergindo do meio da multidão, Mackenzie surgiu de novo na frente dele, um aroma morno de erva o seguindo. Um cigarro se enfiava aceso entre os lábios, e outro apagado se encaixava atrás da orelha. De um lado, Mac era iluminado pelo trêmulo halo laranja do fogo; a outra metade oposta à luz era pura sombra, brilhando apenas com o vestígio de um sorriso maldoso no canto da boca. Foi no olho negro do lado mal iluminado que Kurt viu o seu próprio reflexo, assim que Mackenzie chegou perto o suficiente.

Mac balançou à frente do rosto um chaveiro pendurado na ponta do dedo, para lá e para cá, feito um relógio hipnótico. Kurt estava bem consciente do que aquilo era: A chave da Toca com o controle da garagem. Ele já tinha visto uma, tocado uma, mas nunca teve uma. Esse era um direito dos outros do bando, não dele. O modo como o chaveiro estava facilmente alcançável, exigindo um ridículo esforço para ser tomado, só fez arder mais o peito de Kurt com a ideia que passava em sua mente.

Mackenzie assoprou a fumaça, que escorreu para fora da boca devagar feito fluido, e eles se entreolharam por entre a nuvem branca que se espalhou densa e sinuosa.

Colisão [2ª edição 2023]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora