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Um despertador foi desnecessário no dia seguinte, porque Kurt nem ao menos tinha dormido

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Um despertador foi desnecessário no dia seguinte, porque Kurt nem ao menos tinha dormido. Meio deitado no banco gasto do motorista, ele passou a noite escorado na janela fechada do Taurus, sob a fraca luz do poste da rua que se metia intrusa pelo vidro empoeirado. Leu o endereço rabiscado na palma da mão a madrugada inteira, até decorá-lo, e, depois disso, ainda releu mais uma rodada de vezes.

De manhã, a tinta da caneta permaneceu intacta, mesmo depois de um banho apressado pago com cinco dólares numa parada. A ideia paranoica de que sua memória pudesse traí-lo fez Kurt tomar todo cuidado para não apagar o recado gravado em sua pele. Ele pensou em ir com a mão rabiscada, mas parou de repente. E se Mackenzie o achasse um porco por não lavar a mão? Então, de volta ao banheiro público de uma loja de conveniência, ele esfregou a palma debaixo da torneira, mudando de ideia. Não queria dar o braço a torcer e confessar a si mesmo que se importava com o que Mackenzie pensaria. Era tudo pelo trabalho, ele tentou se convencer.

Na saída, ao usar a calça escura para secar a mão, acabou esbarrando no volume da arma que estava acostumado a carregar. Ser flagrado armado certamente ajudaria bem menos, mas não era algo que podia se livrar com água e sabão. Kurt teria que levá-la. Sua esperança era de que não fosse precisar mostrá-la, muito menos usá-la.

Quando finalmente deixou a loja, ele saiu da porta dos fundos para o estacionamento cinza e degradado que já começava a esquentar. Estacionado atrás de uma caçamba lotada de entulho, estava o Taurus desbotado, ainda com um pneu faltando. Oitenta e cinco dólares tinham garantido um guincho clandestino, mas o pouco que sobrou não era nem de longe o suficiente para um pneu novo. Mas Kurt se mantinha otimista. Se o plano de causar uma boa impressão desse certo, ele agarraria a vaga de mecânico e quem sabe com quanto no bolso conseguiria terminar a semana.

A não ser pela arma e a carteira, ele só tinha um velho mapa dobrado no bolso quando alcançou o ponto de ônibus. Enquanto esperava, desdobrou o papel com cuidado pelos vincos desgastados e alisou a superfície áspera como dava em cima do colo.

Sobre o desenho desbotado do país, linhas de caneta vermelha conectavam diferentes pontos. Uma delas, partindo do interior da Geórgia, dizia: Nascido aqui. Cortando o país até a Califórnia, outra terminava num ponto diminuto ao sul, escrito: Criado aqui. Até que a terceira linha cortava em direção ao norte, para o estado vizinho de Nevada, mas terminava com uma interrogação que colocava em dúvida: Indo para...?. Kurt encarou o último ponto rabiscado de vermelho, ao lado de um endereço incompleto que dizia "Vital Care Center".

Colisão [2ª edição 2023]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora