Capítulo 8

41 7 9
                                    

CAPÍTULO 8

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.


CAPÍTULO 8



As semanas se passaram e finalmente chegou o dia em que festejaríamos o aniversário de Rebeca. Enquanto as meninas se preocupavam com o que iam usar à noite, fui até o centro comercial escolher um presente. Rebeca era estilosa, e eu, com o meu jeito brega, estava longe de saber escolher algo que lhe fizesse jus, mas não custava nada tentar. Após entrar e sair de uma quantidade significativa de lojas, parei em uma de lingerie. Fiquei atraída pela beleza e sensualidade das peças e decidi que seria o presente que eu lhe daria. Após escolher o que levaria para Rebeca, meus olhos foram atraídos para um conjunto em especial, de renda preta com recortes e elásticos finos, maravilhoso. Eu não saía em um encontro há muitos anos, nem sabia quando tinha dado um beijo na boca, muito menos ficado sem roupa na frente de alguém, mas fiquei tentada com o conjunto.

Não fazia sentido pagar aquele preço por uma peça que ficaria apenas de enfeite na minha gaveta.

— Leve-o. — Quase morri de susto com a voz de Echo logo atrás de mim, no pé do meu ouvido. Ele se comportava como a minha sombra; mal se notava a presença dele. Ouvir sua voz foi uma surpresa.

— O quê? — Virei-me para ele, realmente atônita.

— Eu disse para levar a lingerie que escolheu.

Senti as orelhas queimando. — Você estava prestando atenção nisso?

— Tenho ordens para contar até quantas vezes você respira por dia.

Ele era escandalosamente bonito. Ouvi-lo falar comigo era satisfatório, mas não naquela ocasião.

— Por que me daria uma opinião dessas?

— Você realmente quer ouvir a resposta?

Senti minhas bochechas pegando fogo. Não deveria ter feito aquela pergunta.

— Não.

— Mas eu vou dizer mesmo assim. Eu só pensei que você ficaria realmente encantadora com esse conjunto, usando botas e luvas pretas.

Eu não cabia em mim de constrangimento. Nunca passou pela minha cabeça que Echo poderia pensar esse tipo de coisa a meu respeito.

— Você está brincando comigo, não é?

— É difícil manter-me profissional em uma loja de lingerie na sua companhia, Arebysa.

O meu nome na boca dele soou de uma forma inebriante. Fiquei olhando para seus lábios. Sua boca parecia duas metades de cerejas recém-colhidas. Eu poderia escrever uma ode inteira descrevendo-a. Eu não tinha o que responder, então me voltei para a arara, mortalmente constrangida, e coloquei o conjunto na cestinha; depois fui para a fila realizar o pagamento.

Eu demorei um pouco para me arrumar. As palavras de Echo ficavam se repetindo em minha cabeça. Era raro alguém demonstrar interesse em mim tão descaradamente, além, claro, dos amigos estranhos do Ted e dos caras que queriam impressionar Melina cortejando sua amiga brega. Coloquei meus piercings de volta — eu os tinha retirado para ir ao trabalho na Release — e deixei meus cabelos ondulados soltos. A mecha branca estava precisando de retoque, e a cor ruiva também; eu iria ao salão no próximo fim de semana resolver o problema. Coloquei um top preto com uma saia longa marrom e botas e fiz uma maquiagem nude.

Ted e Melina iriam mais cedo para organizar o lugar, e eu fiquei responsável por levar Rebeca.

Quando saí do quarto, Echo estava na sala me esperando. Foi constrangedor olhá-lo. Até horas atrás, antes do incidente na loja de lingerie, sua presença era quase imperceptível. Porém, aquele pequeno acontecimento havia mudado tudo. Eu estava muito consciente dele, impecavelmente vestido de preto da cabeça aos pés, com um blazer elegante jogado por cima da blusa que lhe dava um maldito ar burguês e arrogante.

Deveria existir uma lei que proibisse alguém ser tão bonito.

— Pronta? — Para minha infelicidade (ou não), ele parecia determinado a se deixar ser notado. Antes não havia qualquer diálogo, eram apenas acenos.

— Sim, e você?

— Também. — Ele passou a mão no cabelo, um movimento naturalmente sexy para alguém como ele.

— Precisamos passar no apartamento de Rebeca para buscá-la. Ela ainda não sabe que Melina convidou a faculdade inteira para festejar o aniversário dela.

— É o que se espera da Melina, não?

— Bem... acho que sim.

Ele abriu a porta e foi na frente, como sempre, checando o caminho para possíveis ameaças.

Rebeca veio correndo para um abraço quando gritei seu nome na portaria do complexo. Ela já estava de prontidão, arrumada para nosso encontro, e pulou no meu pescoço, me enchendo de beijos sufocantes.

Ao descermos do táxi, era possível ouvir a balbúrdia na fila e no interior do pub. Rebeca estava pendurada no meu braço em seu estilo gótico, extremamente sexy. Por ser seu aniversário, era o total centro das atenções.

Eu não conhecia 0,01% das pessoas que estavam lá. Eram rostos que eu nunca tinha visto na vida; meu lado antissocial estava sendo torturado enquanto eu forçava sorrisos para quem nos cumprimentava e atravessava o corredor até a área reservada para nós. Echo nos cercava, tentando nos proteger de sermos atingidas ou esmagadas pelos alunos que já estavam bêbados, mas era quase impossível atravessar aquele mar de corpos sem ser pisada ou sem levar uma cotovelada.

O pessoal começou a ovacioná-la enquanto passava, e ela fazia reverência, agradecendo. Melina e o pessoal da mesa bateram palmas enquanto ela se ajustava na cadeira.

— Vocês são lindos, nunca imaginei que chamariam a faculdade toda para me prestigiar.

— Não precisamos dizer de quem foi a ideia, né? — Ted olhou de soslaio para Melina, que já estava alegre com o efeito do álcool.

— É claro que eu não deixaria a minha amiga linda e maravilhosa passar o aniversário dela sozinha. Ela tem a todos nós.

Ela e Rebeca se abraçaram por cima da mesa, e eu fiz uma careta, torcendo para que ambas não dessem um banho de bebida alcoólica nos outros, com aquele gesto arriscado. A mesa estava cheia com amigos do curso de Rebeca que eram próximos dela e com as amigas de Melina que também a conheciam.

Eu olhei para o balcão de bebidas e fui em direção a ele. Para me entrosar eu precisaria ter pelo menos o mínimo de álcool em meu sangue. Echo me seguiu, atraindo a atenção por onde passava.

— Aproveite o aniversário para se divertir. Não precisa me seguir o tempo todo. Ethan nem vai saber. — Eu disse assim que paramos na bancada.

— Eu não a protejo apenas porque o Ethan mandou, e sim porque não quero vê-la machucada novamente. Você não faz ideia de como estava quando chegamos. Mais um pouco e eles te matariam.

Senti meu estômago revirar. A situação tinha sido traumática. Eu tentava não ficar lembrando, mas sempre que me recordava, a crise de ansiedade vinha acompanhada de lágrimas. Era uma agonia sem fim me recordar do momento em que estava engasgada com meu próprio sangue, no chão, pensando que ia morrer. O momento pareceu oportuno para arrancar de Echo toda a verdade do que aconteceu naquele dia, mas algo me dizia que ele não cederia.

— Como vocês souberam que eu estava precisando de ajuda?

— Porque Ethan estava recebendo ameaças, dentre elas, recebeu uma foto sua. Depois disso, ele pediu que eu a seguisse discretamente, para vigiá-la.

A resposta era plausível, mas ainda sentia que tinha algo mais. — E por que eu seria uma ameaça para Ethan?

— Arebysa, você é neta de uma mulher dona de um grupo de redes hospitalares e de uma empresa multimilionária de energia renovável. Você vive como uma pessoa comum porque quer, não porque seja uma. Ethan tem negócios com sua avó. Esses negócios não continuarão funcionando caso ela descubra que você está correndo risco de vida por causa do serviço arriscado de Ethan.

— Ethan não sabe nada sobre a minha família. Por que teria negócios com a minha avó? — Era quase possível ouvir as engrenagens rodando em minha cabeça.

— Bom, acho que seria mais interessante perguntar a ele.
— Ele não vai me dizer.

— E eu tenho que dizer? Sou apenas um funcionário dele...

Senti-me frustrada. Precisava saber o que acontecia na estranha vida do meu primo. Pedi uma cerveja e escolhi um canto mais afastado, com menos gente, para ficar. Após as semanas cansativas de trabalho, eu merecia comer e beber de graça, mas isso não significava ficar engalfinhada com um monte de estranhos. Dei um gole na bebida gelada e encarei Echo.

— É estranho ter você me seguindo para cima e para baixo. Você dorme na minha casa, toma banho no meu chuveiro, come da minha comida... é natural que eu me sinta desconfortável, não? As pessoas normais não precisariam de um guarda-costas.

— Você não é uma pessoa normal.

— Eu estudo, trabalho... não quero depender dos outros. Não me sentiria bem fazendo isso. O que passa na cabeça dos meus primos que aproveitam da riqueza da vovó?

— Nem todos veem o dinheiro ou o status como um empecilho.

— Não é que seja um empecilho, eu só não quero ter conforto ou sucesso às custas de outra pessoa.

— Você é diferente.

— Isso é bom ou ruim?

— As pessoas têm suas opiniões, não é que estejam certas ou erradas. Elas são apenas diferentes umas das outras.

— Eu me sinto deslocada, às vezes.

— Todos nós nos sentimos assim em algum momento. Faz parte de ser um ser humano.

— Mas não sei... há algo em mim mais estranho do que a maioria.

— Você é tímida, tem uma personalidade diferente das pessoas que a rodeiam. Cada um tem seu jeito de absorver ou lidar com as emoções. Não se sinta estranha por ser quem é.

— Você parece um psicólogo, falando desse jeito.

— Eu posso ser o que você precisar.

Minhas bochechas ficaram rubras. Eu ouvia a voz de Melina em minha cabeça perguntando há quanto tempo eu não ficava sexualmente com uma pessoa. Será que aquela era o tipo de deixa da parte de Echo para que eu me envolvesse com ele? Concentrei-me em terminar a bebida, era melhor do que falar algo inapropriado para o momento.

A música estava alta, uma minoria de estudantes estava na pista, dançando, o restante estava conversando, isolados em seus grupinhos. Echo se aproximou mais de mim e ficou encostado na parede, em uma posição relaxada. Era estranho ter a consciência do calor que seu corpo irradiava. Faltava pouco para nos tocarmos, mas eu não permitiria que isso acontecesse, pelo menos não com uma única cerveja na cabeça.

— Quer que eu busque outra bebida?

Neguei. Eu não era do tipo que se daria bem caso ficasse alcoolizada.

— Não, estou bem, obrigada.

O silêncio logo ficaria constrangedor. Eu precisava me movimentar ou ficar próxima de outras pessoas de forma que eu não precisasse dialogar com ele. A ideia de ficarmos sozinhos, juntos, me parecia tentadora demais. Eu não poderia pôr a perder nossa relação profissional. Eu quase tinha morrido a semanas atrás, se Ethan estivesse correto em dizer que eu estava na mira de pessoas que desejavam mal para minha família, eu realmente precisaria de toda a proteção que Echo poderia oferecer. Eu não poderia distraí-lo com meu lingerie de renda preta. Sacudi a cabeça, afastando imagens dessa cena.

— Vou ao banheiro.

Ele assentiu, e não parecia com a intenção de me seguir, o que me deixou muito aliviada. Um grupo de três garotas conversava alto na entrada do banheiro. Apertei minha bolsa contra meu corpo e fui em direção às cabines para esvaziar a bexiga. Enquanto usava a privada, fiquei traçando estratégias para conseguir aguentar a festa de Rebeca sem ir embora.

Ao sair, lavei as mãos e me olhei no espelho. Retoquei o batom que a garrafa de cerveja tirou, ajeitei os fios de cabelo que já começavam a ficar com frizz por causa do calor e saí.

Um grupo de rapazes mexeu comigo quando passei e apenas os ignorei. Eu não ficaria com nenhum garoto estranho naquela noite. Era uma promessa.

Respirei fundo quando "Keeper", da banda Reinwolf, começou a tocar. Senti uma energia diferente percorrer meu corpo. Era difícil admitir para estranhos ou até mesmo para os meus amigos, mas eu não sabia como me divertir. Não era como se eu não quisesse. Eu simplesmente ficava travada diante da possibilidade de ter de lidar com outras pessoas ou ser notada. Não era fácil vencer a timidez. Olhando a multidão de jovens, eu sentia vontade de me misturar a eles e ser, talvez, como eles. Mas eu não era. Estar no mesmo ambiente que aquela multidão me fazia sentir excluída e me atacava crises de pânico.
A ideia de pegar outra cerveja pareceu acolhedora. Não era um dia para me sentir melancólica. Fui em direção ao balcão, evitando qualquer contato visual na direção onde eu tinha deixado Echo, e pedi outra bebida. Peguei a garrafa e fechei os olhos, pensando que teria de enfrentar Melina e suas amigas.

Dei de cara com Rebeca logo atrás de mim assim que virei. — Está difícil, hein, amiga.

— Vou sobreviver. — Prometi, erguendo minha cerveja em homenagem a ela.

— Vamos lá fora. Quero fumar um cigarro.

Eu a acompanhei. Ela era minha tábua de salvação naquele momento. Ela apenas ignorou as pessoas que tentaram pará-la para dizer algo.

A rua também estava cheia, mas não tão tumultuada quanto o interior do pub. Ficamos encostadas na parede. Ela tirou o cigarro e o isqueiro da bolsa e o acendeu.

— Não conheço nem 80% dessas pessoas. Não estou reclamando, mas Melina sabe que eu preferiria sair só com vocês para algum lugar.

— Ela só queria fazer com que você se sentisse especial.

— Fico sufocada com todas essas pessoas. Quando bebo fico sensível e começo a me lembrar das minhas próprias merdas. Você sabe... meus pais não me ligaram. Agem como se eu fosse um inseto, manchando a linhagem. Eu não tenho culpa por não ser a bonequinha que eles desejam que eu seja. Mas ainda assim sou filha deles, não custaria nada pegar o telefone e perguntar se estou viva.

— Não pense nisso. Quanto mais pensar, pior vai se sentir. Foque no agora, essas pessoas estão reunidas por causa do seu aniversário. Você pode ficar com qualquer garoto, qualquer garota... ganhou vários presentes e ainda tem o after com os seus melhores amigos. Você sabe que estamos com você para tudo.

— Eu sei, Bysa. Sei o que quer dizer. Mas não é como se eu pudesse evitar de pensar.

— Eu também estou pensando em algumas coisas hoje.

— Como o quê?

— Não gosto de ser tímida. Eu queria me dar bem com as outras pessoas, conseguir me divertir sem parecer que cometi um crime. Sempre que eu os acompanho em alguma festividade sempre fico em algum canto, isolada, comendo e bebendo sozinha, sem conseguir manter qualquer diálogo com quem se aproxima. É péssimo.

— Eu não sou tímida, mas sou antissocial, e posso entendê-la sim.

— Mas, de qualquer forma, mesmo que sua família não se importe contigo, eu me importo.

Ela sorriu e me empurrou, brincando.

— E então a festa é aqui fora? — Eu reconheceria a voz de Saul em qualquer lugar. Ele se aproximou de onde estávamos e logo atrás dele estava Ethan.

O que eles estavam fazendo lá?

— A festa é lá dentro, mas as duas antissociais estão compartilhando pensamentos aqui do lado de fora. — Rebeca abraçou ele e Ethan. Apenas acenei.

— Isso é uma sugestão para que nós as raptemos para levá-las a um lugar mais interessante?

Revirei os olhos. Eu me lembrava em detalhes do último “lugar interessante” que ele e Rebeca tinham me levado.

— Me recuso a ser espectadora de outra orgia. — Avisei, já recusando suas ideias nada atrativas.
— Você vai passar de espectadora a participante?

— Que nojo! Onde aprendeu a ser tão nojento assim? — Retruquei, fazendo cara feia. — Não tenho nenhuma intenção em trocar fluidos corporais com você ou Rebeca.

Minha amiga riu, jogando fumaça para o alto. — Pensei que tinha dito que estava super afim de viver uma aventura.

— Não “esse” tipo de aventura.

— E qual é a aventura que você quer viver? — Ela ria da minha cara. Ela e Saul formavam um lindo casal em quesito de me enfiar em encrencas.

— Nenhuma que envolva minha vida sexual.

— O que você acha, Rebeca? — Saul perguntou, fazendo cara de mistério.

— Parece frustração sexual.

— Cuidem das suas vidas. — Todos eles estavam compactuados em cuidar da minha vida sexual?

— Estamos cuidando. Você que parece estar cuidando muito mal da sua.

— Querem que eu saia e os deixe sozinhos? Estou indo. — Me afastei da parede para ir em direção às catracas do Pub, e Ethan me seguiu.

Quando alcancei o interior do pub, senti todos os olhares sobre mim, da mesma forma como tinha sido no primeiro dia que Echo me acompanhou na faculdade. As pessoas com certeza deviam estar falando sobre mim e o fato de ter desfilado com homens bonitos nas últimas semanas. Pensar nisso me deixou excepcionalmente desconfortável.

A minha "fuga" com Rebeca não tinha dado certo.

Eu procurei por Echo no cantinho onde eu o tinha deixado, mas ele já não estava mais lá.

— Eu o mandei embora para casa. — Ethan disse, logo atrás de mim.

— Para sempre?

— Não. Hoje, apenas. Melina nos convidou para a festa da Rebeca, eu não queria vir, obviamente, mas Saul me arrastou para cá com a sugestão de que eu poderia dar um dia de folga a Echo.

— É justo. Ele tem sido minha sombra nos últimos dias.

— Ele não parecia tão contente em deixá-la sozinha. O que anda acontecendo entre vocês dois?

A pergunta me fez parar de andar. Virei o corpo, na intenção de encará-lo.

— Não há nada entre nós dois.

— Ele está envolvido sentimentalmente em sua "proteção".

— Ele é um bom profissional, apenas isso.

Ethan franziu as sobrancelhas, deixando claro o que pensava sobre a minha afirmação.

Ficamos nos encarando. Eu não sabia o que ele estava fazendo ali. Teoricamente, ele era podre de rico, seu tempo valia milhões, ele não o desperdiçaria em ambientes como aquele. Era um pouco difícil de acreditar que ele estava sendo humanista, fornecendo um dia de folga para seu funcionário. Tudo que o envolvia era suspeito. Eu daria tudo para saber o que realmente estava acontecendo a minha volta. Quando Ethan estava por perto eu tinha a sensação de estar pisando em ovos. Eu não era tola e sabia que ele estava escondendo algo de mim. Eu não iria confrontá-lo, por ora suas respostas inteligentes e inventadas até poderiam me fazer calar, mas em algum momento as mentiras seriam descobertas.

Ele retribuiu o meu olhar sem desviar o seu. Eu podia ter a certeza de que ele sabia que não me enganava. Ethan podia ser muitas coisas, mas definitivamente não era apenas o CEO de uma editora.

Caberia a mim investigar? Não. Talvez o mais inteligente fosse mesmo ignorar os meus instintos e seguir com a vida, sem saber de nada, mas eu não era assim. Eu não gostava de ser enganada. A sensação de ser usada levianamente era horrível.
— O que você realmente quer, Ethan?

— Você está sempre suspeitando de mim, Ives.

Ele me chamar pelo meu primeiro nome foi realmente assustador. Ninguém me chamava de Ives, ninguém, sem exceções.

— Eu tenho bons motivos, você sabe.

— E quais são eles? Você parece apenas não aceitar todas as respostas que te dou. Você quer cavar, mas está preparada para lidar com o que vai encontrar?

Eu funguei. Ele acabava sempre admitindo que havia algo mais, mas nunca dizia o quê. Dei as costas para ele e fui caminhando para a mesa onde Melina e sua turma estavam sentadas. Ted estava bêbado, enfiando a língua em uma garota que usava um top parecido com o meu, e que era jogadora do time de vôlei da faculdade. Ele era quase uns trinta centímetros mais alta que ele.

— Ethan! — Minha amiga acenou assim que o viu. Eu estava ficando mal-humorada, e vê-la o tratando como se o conhecesse a séculos me deixou verdadeiramente irritada. Eu não podia ignorar o fato de que quase tinha morrido por causa das enrascadas dele.

Ele não sorriu e nem demonstrou o menor afeto, mas ela ignorou isso. Foi até ele e o puxou para sentar entre ela e as amigas.

Não continuei na minha intenção de ficar lá. Eu saí em direção ao balcão, para pegar mais uma cerveja. Não era mais possível ficar dentro daquele lugar sem estar bêbada.

O barman me deu uma longneck e eu a virei de golada. Em cinco minutos meus sentidos ficaram mais fluídos e comecei a suar. O relaxamento foi inevitável. Me encostei na bancada e virei o corpo para o mar de gente bêbada que dançava e falava alto, causando ecos estranhos em minha cabeça. Eu canalizei minha atenção na música. Eu não conhecia o que ou quem estava tocando. Era algo entre um pop com eletrônica. Minha respiração estava ligeiramente alterada, meu coração sucumbindo ao álcool.

Ajustei meu top e dobrei a saia um pouco, para me sentir mais confortável. O lugar estava estranhamente abafado. Eu não podia ter uma crise de pânico na frente da faculdade inteira. Remexi os dedos dos pés nervosamente, buscando uma forma de me distrair.

Que vida esquisita era a minha? Nada fazia sentido. Eu não conseguia socializar nem dez minutos sem ter uma crise de ansiedade.

Eu pedi outra cerveja, em busca do nível perfeito de álcool que desligaria meu lado racional.

Enquanto eu dava as primeiras goladas, Ethan veio em minha direção, cortando caminho entre os estudantes. Algumas meninas tentaram abordá-lo no caminho, mas ele apenas erguia a mão, pedindo para que se afastassem. Ele era rude, até mesmo em um pub. Era quase palpável sua indiferença com tudo que o rodeava. Mas, céus, eu não podia ignorar o fato de que ele era atraente.

Fechei os olhos, rezando para pensar em qualquer outra coisa e só voltei a abri-los quando senti sua presença.

— Do que está fugindo?

Tentei não fazê-lo, mas me peguei encarando-o novamente, analisando-o.

— Eu não sei. Acho que de mim mesma.

— Sua vida é extremamente pacata e tediosa. É justo querer fugir disso.

Não consegui evitar o riso de estupefação. "Pacata e tediosa." Ele agia como se fôssemos amigos íntimos, mas quem ele pensava que era para dizer coisas daquele tipo?

— Você não sabe nada sobre mim.

— O que há para saber sobre você?

— Eu não me importo que você e todos os outros achem que eu sou sem graça.

— Eu não disse isso, é você quem está dizendo. E, se não se importa, por que está fugindo?

Eu me concentrei em beber mais um gole. Eu não queria conversar com um adulto sobre como eu era ridícula. Eu queria apenas tentar ter uma noite normal como 99,9% das pessoas ali.

— Eu não quero falar sobre isso.

— E o que você quer, Ives? — O meu nome novamente.

— Eu não sei o que eu quero, mas você parece saber por mim. Por que apenas não me mostra?

Ele não disse nada, apenas tirou a garrafa de cerveja da minha mão e me segurou pelo pulso com gentileza.

— Vamos sair pelos fundos, sem ninguém perceber.

Ele me puxou para junto dele e saímos apressados em direção à porta corta-fogo. Ela se abriu em um corredor que levava para a rua detrás do pub onde os funcionários descartavam o lixo em caçambas.

O lugar era escuro e se assemelhava à rua da faculdade onde eu tinha sido atacada, isso me fez parar, com medo. Mas ele pegou minha mão novamente.

— Eu estou armado. Não vai acontecer nada com você.

Não era a coisa mais inteligente do mundo uma mulher sozinha e bêbada, acompanhar um cara que acabava de dizer que estava armado, mas eu não deixei de segui-lo.

— Para onde vamos?

— Apenas me siga.

Eu não desobedeci, contornamos a rua até ele encontrar o lugar onde tinha estacionado seu carro, e entramos.

Ele ligou o carro e arrancou a toda velocidade.

Me segurei no console enquanto ele fazia a curva sinuosa para sairmos do bairro. Fiquei calada, assim como ele disse, mas era inevitável não virar para encará-lo, em busca de decifrar qualquer que fosse a emoção que ele sentia. Ethan era um enigma. Por mais que Echo fosse bonito, ele não tinha a capacidade de despertar metade da confusão em mim que Ethan despertava quando estava por perto.

— Pegue os meus óculos no porta-luvas, por favor. — Ele pediu e eu procurei até achar a caixinha preta no meio de outras coisas que ocupava o porta-luvas, entre elas uma quantidade infinita de camisinhas. Eu entreguei a ele e ele os colocou. — Você já usou uma arma antes?

A forma como ele fez essa pergunta me deixou estarrecida. Não era como se estivesse me perguntando se eu ia na igreja aos domingos.

— Eu não sei. — Minha voz anasalada de bêbada era estranha ao meu próprio ouvido.

— É uma das coisas que pretendo ensinar-la.

— E é isso? Vai me ensinar coisas que não pedi como se mandasse em mim?

Ele não olhou diretamente para mim, mas eu podia sentir que ele estava revirando o olho para o meu comentário.

— O que mais pretende me ensinar?
— Dependerá do quão interessada você esteja em aprender.

Sua resposta causou sensações estranhas no meu estômago e no meu corpo. Eu poderia atribuir ao álcool o formigamento que me subia, mas eu estaria sendo hipócrita, e ao entender isso fiquei chocada comigo mesma. Era a primeira vez em anos que eu sentia algo parecido.

— Eu sei que você quer. — A forma como ele disse isso me fez prender a respiração por alguns segundos. Era realmente perturbador não saber ao que exatamente ele se referia. Talvez esse era o motivo daquela atmosfera estranha, cheia de mistérios que se enevoava sobre nós dois dentro do carro.

Ele acelerou mais, passando pelas ruas em alta velocidade. Quando ele deu seta para entrar em um estacionamento, lembrei que aquele era o prédio onde ele morava. Ele saltou para fora do carro e veio abrir a porta do lado onde eu estava. Foi estranho vê-lo parado, me estendendo a mão como se eu fosse incapaz de cuidar de mim mesma.

Ele travou o automóvel e depois me puxou pela mão em direção ao elevador. Fiquei encarando o painel metálico que mostrava os números dos andares. Paramos em frente a uma porta preta com maçaneta dourada. Quando ele a tocou e demorou alguns segundos para girá-la, me senti hesitando.

O que Ethan queria me mostrar?

A porta se abriu, revelando um corredor largo e escuro.

Minha mão estava presa na dele e eu apenas o acompanhava, dividida entre o medo e a curiosidade. Minhas pernas estavam vacilantes e minha cabeça ainda girava com o efeito do álcool. O corredor era extenso, aproximadamente uns 5 metros, e terminava em outra porta guardada por dois seguranças trajando ternos escuros. Eles não falaram com Ethan, apenas abriram a porta, nos deixando passar.

Era a hora da verdade? Fiquei me perguntando se ele iria finalmente revelar seu lado obscuro.

O som baixo e sensual do blues chegou aos meus ouvidos, alimentando meu torpor alcoólico. Eu me agarrei à blusa de Ethan como se ela pudesse me proteger de qualquer coisa.

O espaço era um bar cheio de requinte. Os funcionários estavam posicionados de forma respeitosa e fizeram um cumprimento quando ele se aproximou.

Fiz uma varredura com o olhar pela aparência do lugar. A bancada era revestida com uma pedra que — eu podia jurar — custava os órgãos do meu corpo. O ambiente estava sob a penumbra de luzes violetas, deixando-o agradável. As mesas estavam vazias e espalhadas de forma privativa, acompanhadas de cadeiras confortáveis com encosto de veludo preto. No canto havia um pequeno palco com instrumentos.

Fui relaxando enquanto apreciava cada detalhe.

— Saiam todos. Eu assumo daqui. — Ele ordenou, e os funcionários obedeceram, desaparecendo em uma porta atrás do balcão de bebidas.

Ele foi até a adega e tirou uma garrafa de vinho da coleção, colocando-a sobre a pedra cara. Depois pegou uma taça de cristal, depositando-a em cima da pedra também.

— O seu grande plano era me arrastar para o seu bar particular?
— Sim.

Ele se serviu com o vinho e, como um sommelier, apreciou o aroma antes de bebê-lo.

Eu apoiei meus cotovelos no balcão e o queixo nas mãos. Ele deixou a taça de lado e sentou-se na bancada que tinha pelo lado de dentro do balcão. Dessa forma, ele ficava em uma altura similar à minha. Ficamos nos encarando enquanto ele degustava o vinho.

— O que quer saber sobre mim? — perguntou, depois do silêncio constrangedor.

— Suas mentiras.

— Que diferença isso fará em sua vida?

— Eu não gosto de ser enganada.

Ele pegou a taça novamente e deu mais um gole.

— Não estou te enganando. Seria engano se fosse algo que você precisasse saber e eu não estivesse contando. Acontece que não é algo que você precisa saber. Você quer, mas não precisa.

— Por que nos aproximamos?

— Por quê? Eu não posso?

— Não faz sentido que tenha tempo para ficar indo a lugares onde estou, sendo quem você é. Ethan, cada segundo do seu tempo vale dinheiro...

— Sim, você tem razão, meu tempo vale muito. Mas a minha vida não se resume só a trabalho e horas valiosas. Não preciso me explicar por ir a lugares como pubs e bares, preciso?

— Só não faz sentido.

— Nem tudo precisa fazer sentido.

Eu respirei fundo, tentando me concentrar em algum pensamento sólido. Eu estava me sentindo ansiosa. Por que eu tinha deixado Ethan me tirar da festa da minha melhor amiga? O que eu esperava dele ao sairmos escondidos das pessoas?

Eu não estava lúcida, nada do que eu tinha feito nas últimas horas condizia com a Ives Arebysa de sempre.

Ele terminou o vinho e o depositou em cima da pedra.

— Existe um modo muito excitante de viver a vida: você tem muitas perguntas, nenhuma resposta, apenas vive intensamente, sempre no presente, sem pensar no passado ou no futuro. E cada segundo que você vive, você vibra numa intensidade fora do comum. Por que não tenta experimentar isso ao invés de me cercar de perguntas? Faz alguma diferença que eu seja a única parte da sua vida sem resposta?

Fiquei sem palavras, o encarando. Ethan tinha uma profundidade exacerbada. Às vezes, ele simplesmente me deixava à deriva.

— Eu estou bêbada, mas agora é você quem não faz sentido algum. Ethan, nos vimos em poucas ocasiões, antes disso nem sabíamos da existência um do outro, e agora você me diz que é parte da minha vida?

— E eu não sou?

Eu queria dizer que não, mas pensando bem, nos últimos meses ele tinha se infiltrado em minha vida como uma goteira. Ele era o meu chefe no emprego, ele pagava o meu segurança, e ele sempre aparecia quando eu estava prestes a enlouquecer nos lugares. Eram coincidências demais ou, pelo menos, era no que eu queria acreditar.

— Merda. Eu preciso de álcool. — Não era como se eu pudesse dar aquela resposta a ele.

— O que quer beber?

— Cerveja?

— Vou pegar para você.

Ele vasculhou a adega e o freezer até achar um raro vidro que envazava uma cerveja preta. Ele virou-a no copo e me serviu.
— Eu sou responsável pelos negócios da família biológica da minha mãe — disse.

— E que negócios são esses?

— Mexemos com obras de arte.

— Legal ou ilegal? — Eu precisava saber.

— Os dois.

— É por isso que quase me mataram?

— Sim. Eu mexo com contrabandistas e pessoas de índole duvidosa. Estou correndo risco de vida o tempo todo, não só por causa de transações que dão errado, mas por causa de assaltantes.

— Então o que a Release é para você?

— A empresa por onde faço a lavagem do dinheiro.

Eu estava calma por fora, mas por dentro meu estômago se retorcia. Eu estava diante de um criminoso. O quão grave era aquilo e o quanto eu estava envolvida? Não era como se eu estivesse vivendo um conto literário com títulos de “O CEO mafioso e a mocinha virgem”. Ethan era criminoso real, um homem sujeito a ir para a cadeia e colocar o nome dos Dakotta na lama, e eu quase tinha acabado morta por causa dele. Eu sentia o sangue passando rápido por minhas têmporas. Minhas pernas viraram geleias.

— Essa é a expressão de quem quer muito saber algo, mas que não sabe lidar com a informação — Ele me criticou pelo óbvio.

— É uma informação muito difícil para ser processada — Justifiquei.

— Agora você sabe o que tanto queria. Isso significa que o risco é ainda maior. Você não pode dizer a ninguém, mesmo que sua vida dependa disso.

Além do efeito do álcool, meu coração batia desenfreado pelo medo. Toda a atmosfera mágica tinha sumido. Eu olhava para meu primo com os olhos assustados.

Eu estava empregada em uma empresa que cometia crimes fiscais.

— O que a vovó sabe sobre isso?

— Acha que o que alimenta os bolsos da sua família é empresa de energia e clínicas médicas? Sim, isso também. Mas seu avô fez a fortuna em cima do contrabando junto com a mãe biológica da minha mãe. A minha mãe é adotada, mas é filha biológica do seu avô.

— Está dizendo que o meu avô teve um filho fora do casamento?

— Sim.

— A vovó adotou a filha bastarda do vovô e nunca falou nada conosco?

— A minha avó biológica estava envolvida diretamente com coisas perigosas na época, e preferiu que a sua avó cuidasse da criança.

— A tia Rosalina sabe disso?

— Que é filha do seu avô, sim.

— Meu Deus! — Eu estava em choque. A informação de que o dinheiro da minha avó provinha do crime me deixou estarrecida. Em todos os anos convivendo com meus adoráveis tios ricos, nunca tinha passado pela minha cabeça que algum deles tivesse qualquer envolvimento com coisas ilegais.

— E toda a família sabe ou só a sua mãe?

— Só a minha mãe e o seu pai.

— O meu pai?! — Saber que meu falecido pai sabia de tudo era ainda mais chocante.

— Sim, ele morreu por causa disso.

Senti o chão fugir sob meus pés. Eu não me lembrava do meu pai, mas existia aquele vazio em mim que todo filho sem a presença do pai, sente. Eu o respeitava e o imaginava como a pessoa que todos desejavam ter como amigo. Não era como se eu tivesse a real capacidade de sentir saudades dele, já que não me recordava de como ele era, mas saber que ele tinha sido morto prematuramente por causa do crime de outra pessoa era revoltante.
— Meu pai morreu em um acidente de moto.

— Sim. Mas foi um acidente intencional. Ele sabia demais e você sabe que ninguém fica no caminho da sua avó.

Era difícil descrever como eu me sentia. A sensação era assustadora.

— Está dizendo que a minha avó matou o meu pai?

— Sim.

— Ethan, por favor. Não fale desse jeito como se estivesse dizendo que hoje é sábado. Isso é a coisa mais absurda que alguém poderia dizer. Você está brincando, não é?

— Foi você quem me acusou de estar a enganando e que quis saber a verdade.

— Isso não é uma brincadeira? Não tem ninguém filmando para rirmos disso depois? — Eu estava apelando para qualquer coisa que fosse contrária ao que ele tinha dito.

— É a verdade que você queria...

Foi difícil controlar o impulso de me levantar do banco e contornar o balcão para atacá-lo. Ethan não se moveu do lugar enquanto eu, de punhos cerrados, o acertava no peito.

— O mundo não é uma aquarela cor de rosa, Ives.

Eu descontei minha frustração nele e, após achar que já era o suficiente, ele me deteve, segurando meus punhos. Desabei contra ele, chorando. Eu era uma pessoa ridícula. Após receber as informações que tanto queria, apenas chorava como uma criança idiota. A minha vida era uma mentira e eu não sabia lidar com isso.

Ele não se moveu nem se incomodou com minhas lágrimas molhando sua camisa.

— Ives, isso não tem nada a ver com você. Não haja como se a criminosa fosse você.

— A minha avó paga a minha faculdade e as minhas despesas. O que acha que vai acontecer quando as pessoas souberem que vocês são ladrões?

— Você não depende do dinheiro deles, você mesma disse.

— Eu não queria depender, mas dependo! Eu pensei que agora que eu trabalho poderia arcar com as minhas despesas, mas até mesmo a empresa está envolvida com coisas ilegais, como acha que estou agora?!

— Vamos resolver isso. Você não precisa trabalhar para pagar suas despesas. Eu só sugeri que fosse para a Release para cumprir seu estágio e ter alguma experiência na sua área. Eu não queria te colocar no meio dos nossos negócios.

— Meu Deus, Ethan! Quando teria me contado isso? Eu ia ficar trabalhando naquele lugar o tempo todo sem nem saber que estava sendo uma facilitadora de contrabandos?!

— Ives... — Ele ainda segurava meus punhos, a pressão aumentando levemente. — Acalme-se. Não transforme isso em um problema desnecessário.

— O que eu faço agora?

— Acalme-se.

Eu tentei respirar fundo e trazer alguma calma para meu corpo. Eu estava desabando emocionalmente, moralmente e fisicamente.

Ele soltou meus punhos e me colocou sentada no banco ao lado dele.

— Ouça-me com atenção. Nós vamos sair daqui juntos, você vai esquecer tudo o que ouviu e viver a sua vida normalmente. Echo vai continuar te protegendo, suas amigas irão continuar te amando e você vai continuar tendo um emprego. Você vai se formar, os Dakotta e eu seremos apenas uma lembrança vaga e ruim.

— Isso não é quem eu sou. Não sou alguém que ignora a verdade apenas para não causar problemas.
— Ives, a sua avó matou o seu pai. Acha que ela cuida tão bem de você por que ela te ama? Ela sabe que é dever dela ajustar o erro que ela mesma causou. Você quer vê-la na cadeia?

— A minha mãe sabe disso? — Meu coração se apertou ao lembrar dela. Minha mãe era a pessoa a quem eu mais amava no universo, e era nítido que em todos aqueles anos ela tinha sentido a falta do meu pai e tinha sido difícil aguentar todas as responsabilidades sozinhas, dependendo da vovó. Eu tinha três anos de idade quando tudo se acabou.

— Não. Imagina a confusão que daria. Ela o tirou do caminho justamente porque ele descobriu e ameaçou contar para sua mãe.

— Isso é insano.

— Como eu disse, o mundo não é um mar de rosas.

— Isso é ridículo.

— Vai levar algum tempo até que processe tudo isso. Fique em casa e não vá a Release.

Eu o encarei. Quem ele achava que era para me dar ordens?

— Não gosto do jeito como me dá ordens, Ethan.

— Eu sou o seu chefe.

Sim, era verdade. Ele era o meu chefe.

— Leve-me embora, por favor.

A atmosfera mágica com a qual tínhamos entrado naquele bar se desfez no ar.

Ele assentiu e se levantou.

Eu o acompanhei para fora e não dei conta de nada do trajeto até minha casa.

Quando cheguei em frente ao meu apartamento Echo estava parado na porta, me esperando. Ethan e ele trocaram olhares. Eu mal podia dar conta se estava respirando ou não. Sentia-me morta por dentro.

Echo estava bloqueando a passagem. Repentinamente as palavras de Ethan me vieram à cabeça:

“Existe um modo muito excitante de viver a vida: você tem muitas perguntas, nenhuma resposta, apenas vive intensamente, sempre no presente, sem pensar no passado ou no futuro. E cada segundo que você vive, você vibra numa intensidade fora do comum. Por que não tenta experimentar isso ao invés de me cercar de perguntas? Faz alguma diferença que eu seja a única parte da sua vida sem resposta?”

Eu não queria me sentir como a menina mimada e tola que faria pirraça por causa de algumas informações, mas era exatamente como eu me sentia: a pior versão de um ser humano.

Não me dignei a olhar para trás. Eu não queria ver Ethan na minha frente, mesmo que ele não fosse exatamente o culpado por tudo. Eu não me desviei de Echo. Fui caminhando lentamente até ele, olhando-o nos olhos, louca para aliviar aquela sensação esmagadora em meu peito.

Ele poderia ser a minha distração naquela noite. O que de ruim poderia sair daquilo? Ele tinha deixado claro que pensava em mim daquela forma como os homens pensavam em mulheres. Ficar com ele seria o crime menos ofensivo que eu estaria cometendo. Minha expressão devia estar assustadora, mas não pensei nisso quando me enlacei no pescoço dele, lhe dando um beijo intenso.

Ele abriu a porta e nos puxou para dentro, sem desgrudar nossas bocas. Como eu tinha imaginado algumas vezes, Echo era experiente naquele tipo de coisa. Ele correspondeu prontamente, me segurando pela cintura e nos jogando contra a parede que dividia a sala e o quarto.

Era extremamente problemático que eu estivesse agarrada a um homem que estava envolvido profissionalmente comigo. Mas eu não queria pensar de forma responsável, não quando minhas convicções tinham acabado de ser destruídas.

— Eu estou um pouco bêbado. — Ele disse, acariciando meu rosto carinhosamente.

—Eu também. Acho que não há problema.

Voltamos a nos beijar e ele me levou para o quarto onde tinha ficado hospedado nos últimos meses.

>>>>>>>>>>>>>>>>

Hello amores! Sumi mas voltei. Estou andando numa correria e difícil ter tempo para corrigir os capítulos.

Mas me contem, o que estão achando?

Não esqueçam de comentar e votar para ajudar na divulgação dessa humilde escritora 😍

Até nosso próximo capítulo!!!



As mentiras de EthanWhere stories live. Discover now