Capítulo 2

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ALISON


As luzes são como cacos de vidro multicolorido flutuando acima da minha cabeça.

É nessa direção que nado com toda força e desespero, pés e braços lutando ao máximo para alcançar as cores brilhantes. A água, terrivelmente fria, parece ficar ainda mais pontiaguda assim que o ar se esgota em meus pulmões e o líquido entra nas narinas como mil navalhas a me cortar por dentro. Neste exato instante, irrompo na superfície.

Eu tusso e ofego uma, duas, várias vezes, e esfrego o rosto na tentativa de aliviar a dor nas vias respiratórias. Depois de um longo e terrível minuto, após cuspir toda a água engolida, consigo recuperar o fôlego e olhar para onde estou. Então abro a boca, um misto de incredulidade e encantamento.

— Uau.

Em vez de uma floresta, estamos cercados por prédios altos, parcialmente iluminados contra a noite. O mais diferente deles é uma enorme armação circular que resplandece azul. Roda-gigante, o nome me ocorre com um arrepio.

Começo a rir.

— Nós conseguimos! Levi, olha isso. Nós... Levi?

Minha risada esmorece. Estou sozinha na água.

— Levi?!

Seguro a corda amarrada na cintura e a puxo rápido, sem esforço algum, até ver a outra ponta. Ela deveria estar amarrada na cintura dele, mas pende solta em minha mão.

LEVI!

O desespero forma um nó em minha garganta. Eu me viro de um lado para o outro com os olhos ardendo, mas tudo o que vejo é a água sinistra e ondulante. Não, não pode ser, eu não posso ter atravessado o portal sozinha. Isso não pode estar acontecendo, eu não... De repente, ele rompe a superfície tossindo.

— Levi! — Nado para perto dele. — Deus meu, por que demorou tanto?! Estava tão preocupada!

Ele ainda está tossindo e piscando.

— Você está bem? Por favor, diz alguma coisa.

Levi tosse e respira fundo duas vezes antes de começar a rir.

— Santa barbatana, eu achei que fosse ficar para trás! — Arregalo os olhos de pavor. Ele ofega e tosse mais um pouco até se recuperar. — Eu senti quando o nó da corda se desfez e vi você sumindo na minha frente, foi horrível. Só tentei agarrar a ponta da sua capa e nadar o mais rápido que conseguia.

Passo um braço ao redor do pescoço dele, um meio abraço forte e aliviado. Meu coração ainda está voltando ao normal.

— A gente conseguiu mesmo — Levi sussurra, fascinado.

Começo a rir e chorar ao mesmo tempo.

— S-sim.

— Mas precisamos sair da água.

Concordo com a cabeça.

Levi olha ao redor. Tremendo de frio, eu só consigo usar minha energia para não afundar. Ele aponta na direção da margem, onde há um pedestal com uma águia dourada no topo.

— Olha, acho que dá pra subir por ali.

Com certa dificuldade, nado atrás de Levi, rumo ao paredão que costeia o rio, até alcançarmos o ponto que ele avistou. De fato, nessa parte da margem tem uma escada que conecta a água com a rua lá em cima; muito conveniente para nós, embora eu não ache que a tenham construído para facilitar a chegada de visitantes da Terra do Nunca. Levi me espera subir primeiro. Três lances de escada depois, passo por cima de uma pequena grade, e mais uma, para só então chegar ao pedestal.

Se Pudesse Ver as EstrelasWhere stories live. Discover now