Capítulo 10

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ALISON


— Você sabe alguma coisa sobre essa pessoa, por acaso?!

Sinto o queixo tremer de leve.

— Por favor, não fale assim ou vou acabar chorando.

— Se ela chorar — Levi ergue o gancho e o gira lentamente —, arranco suas tripas.

— Desculpe. — Olho aflita para o hacker. — É que o portal tinha uma visibilidade muito limitada. Ele só me mostrava ela. Não dava para ouvir, ler inscrições ou ver o rosto de qualquer outra pessoa.

Astra fecha os olhos e massageia a testa.

— Cara, eu sei que você não entende... — Levi começa a dizer.

— Não, pior que eu entendo.

— Mesmo? — pergunto sem acreditar nisso.

— Toda magia é limitada e custa um preço.

— Como vocês sabem tanto sobre magia se não existe mágica nesse planeta? — Levi afasta seu prato de macarronada, que a essa altura deve estar tão frio quanto o meu.

— Quem disse que não existe mágica aqui?

Silêncio. Levi e eu nos entreolhamos.

— Então existe mágica por aqui? — pergunto.

— Essa é a grande questão, não é? Será que existe?

Odeio quando ele banca o espertalhão.

— Certo, chega de conversa fiada. — Astra bate palma e esfrega as mãos. — Vamos fechar o negócio. Senhorita, por favor, a mochila.

Solto uma risada de desdém.

— A gente já provou de onde veio, mas você ainda não provou sua capacidade de nos ajudar.

— Além disso — Levi continua —, estamos hospedados na sua casa, então você sabe que não vamos a lugar algum. Quando estivermos com os nossos documentos, o dinheiro local e o nome da cidade onde a pessoa da Alison mora, aí sim te entregaremos a mochila. E cada um segue sua vida.

Ele anui, satisfeito.

— Justo. Por favor, sigam-me. — Astra olha para trás e acrescenta: — Pode deixar a mochila aí.

O cômodo para onde ele nos conduz fica no fim do corredor, depois do banheiro. Assim que eu atravesso a porta, sou surpreendida pela organização e limpeza do lugar. Então ele sabe manter um ambiente habitável, só não costuma fazer isso no resto da casa.

O lugar tem uma iluminação estranha, principalmente azul. Há computadores, televisões, tablets, tudo formando uma complexa rede que ocupa uma parte inteira do quarto. Aquela sensação de cócega no cérebro fica mais forte, e eu coço a cabeça. É engraçado como sei nomear os aparelhos, mas não saberia mexer em nenhum deles se me pedissem.

Levi é o último a entrar e fica na soleira da porta, de braços cruzados. Com um estalar de dedos, Astra faz o maquinário ligar. Uma voz masculina soa do nada e de tudo ao mesmo tempo:

Bem-vindo de volta, senhor.

— Obrigado, Jarvis. — Ele se vira para nós, todo orgulhoso, mas o sorriso murcha logo em seguida. — Ah, esqueci, vocês não vão entender a referência. É uma homenagem ao meu... Deixa pra lá. Jarvis, nós temos companhia. — Astra cutuca meu braço. — Fala oi.

— Hã, oi?

Olá, senhor. É um prazer...

Não, cabeça de pen drive! Ela é uma ga-ro-ta. Desculpa, ele ainda está aprendendo a reconhecer os gêneros pela voz. Jarvis, ligar Sistema Ótica.

Se Pudesse Ver as EstrelasWhere stories live. Discover now