Capítulo 8

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ALISON


Assim que entramos pela porta do apartamento, nosso anfitrião coloca num aparador de madeira as chaves e as placas que ele retirou do carro.

— Tirem os sapatos, por favor.

— Qual o seu nome? — pergunto enquanto tento remover a primeira bota úmida.

Ele pensa por três segundos.

— Astra.

Levi termina de retirar os sapatos e apruma a postura.

— Esse não é o seu nome — ele diz com a cara amarrada.

— Não. Mas é por esse nome que vocês vão me chamar. — Então olha pra mim e ergue uma sobrancelha. — Você disse que tinha provas.

Abro a mochila, pego uma moeda de ouro e lanço-a com o polegar para ele. Astra apanha a moeda no ar e a analisa. O pentar tem a insígnia do nosso Império, detalhes incrustados, e o ouro brilha, novinho.

— É uma moeda muito bonita, só que...

— Tem mais. Levi?

Astra olha para ele, que se vira para mim com uma expressão intensa.

— Não acho que seja uma boa ideia, Alison.

— Eu posso ajudar vocês — Astra coloca as mãos nos bolsos e se encosta na parede —, mas precisam me convencer de que são mesmo da Terra do Nunca.

Assinto para Levi. Ele inspira fundo e solta o ar meneando a cabeça. Quase posso ouvir seus pensamentos de "grande erro" enquanto enfia a mão dentro da capa e retira a garrafinha do bolso secreto.

— Não chegue muito perto. — Levi estende o braço do gancho para manter o outro afastado.

— Esse é o Jolly Roger?!

— Sim.

Astra abre a boca em um grande O e começa a rir. Ele fala encantado sobre o mar que se agita dentro do vidro, "isso é magia, não é?!", e tenta se aproximar para ver melhor, mas Levi não deixa. Eu pego a garrafinha e guardo-a dentro da mochila.

— Você teve as suas provas — digo. — Agora, como pode nos ajudar?

— Acho que podemos chegar a um acordo. — Astra gira o pentar entre os dedos, um sorriso condescendente nos lábios. — Mas, antes, por que vocês não tomam um banho quente e trocam de roupa? Então a gente fala de negócios.

Levi toma a moeda de volta.

— Pode ir primeiro, Alison. Eu fico de olho nele.

— Certo. Onde fica o banheiro?

Porém, eu mal dou um passo para fora da antessala e congelo no lugar. O apartamento é caótico. Tem roupas, livros, jogos de tabuleiro e restos de comida espalhados por todo canto; não dá nem para saber se esse cômodo é uma sala de estar ou de jantar. Provavelmente, nenhuma das duas. Astra diz para eu continuar seguindo reto, o banheiro fica na segunda porta à direita. Forço um sorriso. Ao abaixar os olhos para não pisar em nada, é impossível não notar as manchas do carpete, e me sinto ofendida por ter sido obrigada a tirar os sapatos.

Nada disso, porém, é capaz de me preparar para o que vejo no banheiro. Hesito por dois segundos na porta, decidindo quão desesperada estou por um banho quente. Muito. Muito mesmo. Fecho a porta atrás de mim tapando o nariz com os dedos em pinça para não sentir o fedor de ureia. Analiso a água amarela do sanitário e, por mero instinto, resolvo puxar uma corda ao lado. Imediatamente adoro a praticidade disso. Como ele ousa deixar suas necessidades expostas se a alternativa higiênica daqui é tão simples?

Se Pudesse Ver as EstrelasWhere stories live. Discover now