Capítulo 4

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ALISON


Corremos sem parar até o fim do quarteirão, onde freio de uma vez. Boquiaberta, olho para cima com uma surpresa que me tira o fôlego. O calafrio eriça cada pelo da minha nuca. É o relógio. É o relógio das figuras! E, por Deus, como ele é lindo! Dourado e brilhante, muito maior do que pensei, uma construção gloriosa que seria capaz de me fazer chorar.

— Uau! — Levi suspira ao meu lado.

— Vamooos lá. — A voz do bêbado é carregada de urgência. — Rápido!

Olho por um último segundo para o relógio, então sigo para o prédio, atrás de Levi. Descendo as escadas, a iluminação fica muito mais intensa do que era lá fora, e eu levo uma mão para a cabeça à medida que as pontadas retornam. Meus olhos são atacados por mil informações de todos os lados ao mesmo tempo. Lâmpada. Caixa eletrônico. Catraca. Cartão. Celular. Os nomes chegam rápido demais. O mundo começa a rodar.

Passo após passo, forço meus pés na direção do bêbado, que usa o cartão dele para liberar o acesso do Levi e o meu. Coloco uma mão na boca. Não dá pra vomitar agora.

— Vocês estão bem? — pergunta a voz trôpega.

— Sim. — Levi tem a careta de quem está passando mal. Ele usa o gancho para massagear o peito. — Vamos ficar bem. Só vai com calma.

Para quem vê do lado de fora, devem ser engraçadas as três figuras cambaleantes; certamente acham que estávamos no mesmo lugar, bebendo a mesma coisa.

Descemos mais escadas, desta vez automáticas. Escada rolante. Mais uma pontada de dor. Deus meu, será que vamos sofrer com isso até quando? As paredes da lateral estão repletas de cartazes. Hamilton. Mamma Mia! Peter Pan. O rei leão. Tem muitos outros, mas não reparo mais neles porque abaixei a cabeça com a mão no crânio.

É um alívio quando chegamos ao subsolo e, segundos depois, o bêbado nos indica subir no trem que acabou de chegar. Levi e eu despencamos nos assentos como dois sacos de batatas estragadas. O vagão está quase vazio. Uma voz anuncia que vamos ficar parados aqui por mais dois minutinhos, não entendo bem o motivo. Ela também diz que, se a gente vir algo que não parece certo, devemos ligar para as autoridades ou comunicar um funcionário. "Viu, falou, resolveu." É uma mensagem um pouquinho intimidadora.

Sentado num dos bancos do outro lado do estreito corredor, o bêbado cantarola alguma coisa enquanto sorve da garrafa e olha apaixonado para o teto. Aos poucos, a ânsia de vômito e a dor de cabeça retrocedem. O trem começa a andar e, bem nesse instante, uma adolescente se aproxima de nós.

— Oi! — Ela sorri, apontando para o celular em sua mão. — Posso tirar uma foto com vocês?

Franzo o cenho. A menina passa os olhos de Levi para mim e depois para ele de novo. O sorriso perde um pouco de força.

— Vocês são cosplay, não são?

— Hããã...

— Depende. — Levi cruza os braços. — Você acha que isso é algo bom?

— Claro!

— Ótimo. Er, nós somos isso aí que você falou.

— Então, posso tirar uma foto?

Levi olha pra mim com uma única sobrancelha arqueada.

— Claro. — Forço um sorriso.

Ela vira de costas pra gente, se abaixa um pouco para ficar da altura do banco e ergue o celular, cujo visor mostra: a garota sorridente; eu de sobrancelhas franzidas e boca entreaberta, encarando o aparelho com curiosidade; e Levi com uma expressão meio exagerada de desconfiança.

A menina observa com uma careta o clique feito.

— Será que dá pra gente tentar de novo? — Ela sorri de um jeito sem graça. — Seria mais legal se você mostrasse o gancho, capitão.

Eu quase posso ver a alma do Levi saindo do corpo.

— O que disse?

— Capitão Gancho é o meu vilão favorito, mas não dá para saber quem você é se não mostrar o gancho; vai parecer só mais um pirata. E, sério, a sua fantasia tá perfeita! O gancho parece tão real!

Meu coração galopa, ansioso. Levi pigarreia.

— Como você conhece o capitão Gancho?

Ela se levanta e endireita a postura.

— Quer saber? Deixa pra lá. Muito obrigada. — E vai embora praticamente correndo.

Levi e eu trocamos outro olhar assustado.

— O que foi isso? — pergunto.

— Ela me chamou de vilão.

Abro a boca para dizer alguma coisa, qualquer coisa, mas não consigo. Levi joga a cabeça para trás e solta um suspiro pesado.

— Ei, vai ficar tudo bem.

— Não, você não sabe disso. — Apesar da rispidez, há um tom de medo na voz dele. — Ela sabia quem eu sou. Sabia quem... — Levi abaixa o olhar pra mim. — Alison, essa é a única regra.

Eu pego a mão fria dele e aperto-a na minha.

— Não acho que a regra funcione assim. Você pode falar seu nome para as pessoas, só não pode falar para a sua família o que você é deles.

Levi mantém a cara fechada, pensativo.

— Ok, faz sentido. Mas ela me chamou de vilão. E se o capitão Gancho for um procurado nesse mundo?

Sinto um frio na barriga ao me lembrar da mensagem sobre denunciar algo que pareça suspeito. Levi ergue o capuz de sua capa e abaixa um pouco a cabeça. Já não sei dizer se a coisa ruim que pesa no meu estômago é pelo sintoma de estar nesse mundo ou pelo medo genuíno de que Levi seja preso.

— Desculpa — sussurro com os olhos cheios d'água.

— Vilão favorito — ele resmunga balançando a cabeça. — Agora entendo por que os capitães ganchos odeiam Peter Pan.

O bêbado se levanta.

— Prepareeeem-se, piratas! Nós descemos aqui.

Ergo meu capuz e seguro bem firme as alças da mochila. Espero que, seja lá para onde esse cara esteja nos levando, a gente consiga alguma pista valiosa.

Está na hora de passar essahistória a limpo.



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Gente eu tentei colocar o vídeo aqui, mas não deu certo... Então tive que colocar o QR Code mesmo  🤡

Eu tive a oportunidade de viajar para a Inglaterra e visitar os cenários do livro: então gravei vlogs e coloquei os vídeos ao longo do livro. Nesses vlogs eu experimento comidas que os personagens comeram, visito os lugares aonde eles foram, etc  🤩  Eu literalmente levo vocês para passear nos cenários do livro (são 8 vídeos no total, espalhados ao longo da história)

Se Pudesse Ver as EstrelasWhere stories live. Discover now