Capítulo 7

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ALISON


O estranho abre a porta do carro para a gente entrar.

— Deixa eu ver seu rosto primeiro — diz Levi com o gancho no teto do veículo.

Para minha surpresa, o moço abaixa o capuz sem qualquer relutância. O rosto é jovem, como eu tinha imaginado, e os olhos castanho-claros estão emoldurados por um par de óculos. Uma sombra escura debaixo de cada pálpebra indica que ele não tem dormido muito bem. Sob a luz do poste, reparo no pijama amarrotado e nos pés descalços.

— Agora eu sugiro que vocês entrem logo. — A voz dele é sombria e pulsa urgência. — Essa cidade tem olhos por toda parte.

Eu entro depois de Levi, e o moço fecha a porta, então dá a volta no carro e se senta no banco do motorista. Levi tenta passar para o banco do copiloto, mas o estranho usa o cotovelo para bloquear o caminho.

— Por favor, fiquem escondidos aí atrás.

— Não gosto desse cara — Levi sussurra pra mim ao deixar o corpo cair de volta no estofado. — Ele não me cheira bem.

— Devem ser as sardinhas do jantar — responde o outro.

Disfarço o sorriso.

— Ele salvou nossa pele — sussurro de volta. — Acho que merece pelo menos um voto de confiança.

Ficamos encolhidos no banco, em silêncio por alguns minutos, enquanto o moço dirige. Eu o observo pelo retrovisor: a forma como ele encara a pista com os olhos levemente arregalados, a testa suada, o cabelo loiro desgrenhado e, agora que estou observando, as manchas vermelhas na gola do pijama azul.

— Eu estava comendo espaguete — o moço diz, fitando-me pelo retrovisor, como se lesse meus pensamentos.

— Como você nos achou? — Levi pergunta.

— É difícil de explicar.

Levi olha pra mim e nega com a cabeça. Nem posso recriminar a desconfiança dele. Quero dizer, é ótimo que o moço esteja se propondo a nos ajudar, mas como ele apareceu naquele exato local? Para onde está nos levando? E a troco de quê? Espero não ter sido precipitada em achar que sua aparição foi uma resposta à minha prece.

— Vocês prometem que não vão me achar louco?

Levi nem disfarça a risada.

— Ah, não se preocupe com isso!

Eu o cutuco nas costelas e faço uma careta de repreensão. Levi arregala as sobrancelhas e aponta para o moço, justificando-se, mas eu mantenho firme a encarada.

— A gente não acha que você é louco — ele resmunga em tom irônico. Depois ainda me fita como quem diz "satisfeita?".

Pelo retrovisor, vejo o outro sorrindo torto.

— Quem é você? — pergunto.

— Tenho algumas câmeras escondidas em pontos estratégicos da cidade, minhas fiéis vigilantes 24/7 — ele começa, de olho na rua. — O programa que analisa as imagens está configurado para emitir um alerta sempre que identifica gatilhos, mas geralmente são alarmes falsos; alguém fantasiado, um esquilo que bloqueou a lente... Hoje foi o primeiro alerta real desde que as câmeras foram instaladas. O seu gancho acionou o gatilho do programa, a propósito, quando olhavam embasbacados para o Big Ben. Depois que entraram na estação de Westminster, precisei invadir o sistema de vigilância do metrô para acompanhar o trajeto. E vocês foram direto para a estátua, como dois web crawlers programados para isso. Impressionante!

Se Pudesse Ver as EstrelasWhere stories live. Discover now