Capítulo 6

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Setembro de 2010

12 anos


A esquisita me encarava a três mesas de distância.

Eu tinha plena consciência das cadeiras vazias ao meu redor, um convite silencioso para pessoas solitárias, então desviei os olhos bem rápido. Não queria encorajá-la. Annie estava doente e, por isso, havia faltado naquele dia; Maya e Luna, por outro lado, estavam se demorando no banheiro, mas elas chegariam ao refeitório a qualquer momento e, se me vissem com "a bizarra", eu provavelmente seria excluída daquele seleto círculo de amizades.

Peguei o fone de ouvido e, quando ergui a cabeça para encaixá-lo, me deparei com a figura bem na minha frente. Ela segurava a bandeja olhando direto pra mim.

— Posso sentar aqui?

Congelei por um segundo, mas dei de ombros. Não ia ser rude ao ponto de dizer "não" em voz alta.

— Obrigada. — Ela puxou a cadeira e se sentou do outro lado da mesa sem qualquer constrangimento.

Fiquei rolando o fone entre os dedos, decidindo se faria a má-educação de colocá-lo nas orelhas para ignorar a garota, o que seria uma pista para ela se afastar, ou se voltaria a guardá-lo no bolso e correria o risco de perder as únicas amigas que já tivera na vida.

— Amei as unhas.

Ergui os olhos para ela e depois encarei minhas mãos. A tinta azul-escura com glitter fora uma tentativa de simular galáxias. Todas as unhas já estavam descascadas, mas eu não tinha como retocar porque ele havia jogado o esmalte fora e brigado comigo por "não ser uma cor feminina". Só de raiva, eu tinha decidido manter a pintura até a última lasquinha.

— Obrigada. — Procurei algo nela para elogiar também. — Amei o cabelo.

Preto, curto, combinando com o traço excessivamente forte abaixo da linha dos olhos. O mais legal, porém, eram as duas mechas roxas. Nem em um milhão de anos os meus pais teriam me deixado usar algo assim. A garota era taxada de bizarra pelas minhas amigas por causa do estilo gótico e das caretas ameaçadoras que ela fazia para Annie. No fundo, eu sempre desconfiei que ela se comportava daquele jeito para se defender.

— Eu sou a Olivia. — Ela me ofereceu uma mão e o sorriso.

Relutei em retribuir o gesto.

A novata da escola já estava almoçando sozinha havia duas semanas e, por duas semanas, ela se mantinha firme, apesar dos olhares tortos. Era de se respeitar. Além disso, se eu fosse sincera, já vinha me sentindo excluída pelas minhas amigas havia muito, muito tempo; só não tinha coragem de me afastar delas porque não queria ficar sozinha.

Guardei o fone no bolso de trás da calça e estendi a mão.

Depois disso, a conversa fluiu naturalmente, como se fôssemos amigas de muito tempo que haviam se reencontrado. Eu só percebi meses depois como o meu sorriso era sincero quando estava com ela, como eu havia parado de superanalisar tudo o que estava fazendo na tentativa de agradar os outros e como eu não estava mais com medo de dizer a coisa errada. Acho que, em certo sentido, posso dizer que a amizade da Olivia me libertou.

E devo confessar que,naquela tarde, quando vi Maya e Luna entrando no refeitório de olhosarregalados na minha direção, uma parte de mim ficou muito feliz por isso.

Se Pudesse Ver as EstrelasWhere stories live. Discover now