5° CAPÍTULO

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|Passado|
6 ANOS ANTES

Eloise Alencastro
(16 anos)

A nova estação chegou trazendo índices de chuva e só Deus sabe o quanto isso me apavorava. Desde que me entendo por gente eu morro de medo de chuva, dos trovões retumbantes, dos clarões dos raios, de tudo. Tudo que constituí chuva me atormentava. Eu nunca entendi o por que da minha mãe não me escutar e tentar me ajudar com isso. Se fosse com a minha irmã ela ajudaria. Mamãe sempre preferiu ela.

Respiro fundo, evitando me entristecer por isso, iria ficar tudo bem, não é como se eu já não tivesse me acostumado em ser o patinho largado no canto. Avaliando o céu, aperto o celular entre os dedos. Não queria que chovesse. Não queria que me chamassem de medrosa.

No entanto, o google não mente, o verão representa a estação do ano com temperaturas, geralmente, elevadas e altos índices pluviométricos. Isso é preocupante, mas eu estava tentando não criar pilha, mesmo olhando frequentemente a tela do meu celular para ver o índice de chuva e a umidade. Eu precisava está preparada.

Saindo da vidraça do meu quarto, ergui a gola do meu sueter e me movimentei para fora, escorando a porta e descendo as escadas com o intuito de ir me esconder no escritório do meu pai, pois o cômodo era mais protegido com isolamento acústico e eu podia ficar no sofá, errolada com uma manta e acompanhando minha série preferida. Se existe homem mais belo que o Dean Winchester está para nascer.

Ansiosa para assistir um novo episódio, chego na porta do escritório e estranho ver a porta entreaberta e um barulho de vidros se quebrando. Preocupada, chego a pegar na maçaneta para empurrar a porta e entrar para entender o que está acontecendo dentro do recinto, mas o grito odioso da minha mãe me estagna no lugar e eu passo para o lado, colando as costas na parede, ficando quietinha e ouvindo tudo que se passa entre os dois.

— VOCÊ É UM DESGRAÇADO ASQUEROSO. _ Minha mãe gritava e parecia quebrar todas as garrafas de bebidas do meu pai. Eu ficava assustada. Era outra briga deles. Da última vez acabou em gemidos e eu tive que correr da cozinha. Eles faziam para provocar, meu pai e a minha mãe já chegaram a trepar na minha frente por muitas vezes. Eles eram estragados. — MALDITA HORA EM QUE CASEI COM VOCÊ.

Cresço os olhos.

Hoje ela parecia mais possessa. Ela nunca amaldiçou o casamento com ele como agora. Talvez agora entenda que os dois são um câncer.

— Mulher, porra! Acalme-se. Está perdendo o juízo? A casa toda está ouvindo o seu escândalo, sua desalmada. _Era o meu pai. Como se ele se preocupasse com quem ouvia algo. Farsante.

— Acalme-se? VOCÊ, SEU MISERÁVEL... COMO OUSA A ME PEDIR CALMA?

— Está enlouquecida por que? Eu já disse que nada dessa porra vai vazar na impressa, esse caso foi há mais de 20 anos.

Mais vidros se quebrando contra a parede. Meu corpo estremecia a cada barulho e gritos histéricos da minha mãe.

— As mensagens de chantagem começou. Alguém sabe da sua pulada de cerca. Como você foi burro, seu idiota. Você estuprou uma mulher e a deixou viva? Como não se tocou que no futuro essa porra iria respingar na nossa família. Era só matar a infeliz...

Meus olhos ardem e meu coração dispara. Não demora e as lágrimas quentes deslizam por minhas bochechas. A realidade suja e abominável golpeava a boca do meu estômago. Eles eram piores do que eu pensava.

Estupro.

O meu pai estuprou uma mulher?

Que nojo!

O MaculadoWhere stories live. Discover now