16° CAPÍTULO

469 66 34
                                    

Eloise Alencastro


Uma ventania impetuosa viajou para dentro do quarto aconchegante, a sensação de vento aquentado arrepiou-me de um jeito inusitado, deixando minha pele viçosa só com a imaginação de que tomarei sol e estou livre de manter o fingimento da cegueira, poderei agir normalmente, tudo favoreceu para o meu despertar bonançoso pela manhã, vislumbrando a vidraça aberta e as cortinas claras naquela suíte gigantesca e formidável esvoaçando lindamente.

Tudo poderia parecer normal comigo se não fosse a sensação intensa de latejamento em minha intimidade logo ao abrir os olhos. Os fecho por milissegundos, concentrando em meu corpo para tentar entender o que acontece, penso que poderia ser apenas uma vontade incontrolável de fazer xixi, mas não é, minha bexiga não parece cheia e sim estou com o ventre alagado. Agoniada, troco a posição e viro para o outro lado e o princípio da adrenalina é liberada aumentando meus batimentos cardíacos, meu coração acelerava dolorosamente. Franzio o cenho, meia zonza pelo inesperado. É estranho imaginar que eu não precisava de toque físico dele para se excitar e sim ouvir a sua respiração, do homem dormindo na cama ao meu lado, do diabo atraente incendiando em temperatura ardente e que mesmo desacordado me irradiava numa onda de calor descomunal. Por isso a manifestação do fogo consumindo a minha buceta.

Ele dormiu comigo. Ele ficou no sofá quando eu vim para cama, esperou eu dormir e veio para perto ficar comigo.

Um sorriso singelo brota em meus lábios e meu coração erra as batidas ao observa-lo tão deliciosamente sereno, olhos fechados, sem camisa, sem qualquer lençol, usando o mesmo moletom que saiu do banho quando eu estava na sacada, deitado de bruços com os braços fortes tatuados sobre o travesseiro e o rosto impecável virado para mim. Corro meus olhos audaciosos com desejo quase lancinante pelo seu corpo masculino vigoroso, viril, forte e predador e o suspiro cheio de atração e apetite escapa de forma mecânica da minha boca. O desenho, o contorno do seu corpo debruçado, o relevo que seu bumbum durinho faz no fim das suas costas invejáveis de pele amorenada, tudo me dá gatilho para a excitação enfervescete.

Desinquieta, com cuidado, me atrevo a tocar a lateral do seu corpo bem devagarzinho e com doçura, a sensação de poder fazer simplesmente isso traz lágrimas aos meus olhos por recordar dessa noite, da probabilidade existente de que temos uma chance e eu vou me agarrar a isso. Se existia uma possibilidade de não sermos irmãos, de não termos a mesma droga de sangue e de finalmente podermos ficarmos juntos sem que nos sentissemos culpados por estarmos pecando contra princípios, moral, costumes e contra um Deus que o mundo possa acreditar, eu vou rogar aos céus que me dê essa alegria, pois já sofri demais sem poder apenas toca-lo quando quisesse, eu não sei nem como agir com ele do meu lado, nem me lembro de tê-lo dormindo ao meu lado. Ele, os dois Hendrick em um só, em dose dupla estava aqui comigo, do outro lado do mundo para provar isso, para nos dar sossego e ainda assim insistia em me fazer odia-lo. Ele consegue ser tão demoníaco com o olhar, com as palavras... ele me engole toda vez que é ruim comigo. Que diz que sou seu inferno...

Mas então percebi, Hendrick ou não, ambos estavam comigo o tempo todo. Isso significava que os dois lados dele esteve ferrando a minha vida, o Hendrick me afastando para me manter imaculada, sem pecado e esse outro fazendo o contrário e me trazendo ferozmente para perto. Por algum motivo, essa sensação de que poderei ter tudo dos dois e ficar perto deles realmente me excita. Os truques mentais desse infeliz não vai funcionar comigo, pisar na minha mão ou no meu pescoço ao invés de medo ou de sustos, era gostoso simplesmente a sensação de tê-lo entrando e possuindo a minha mente. Esse aqui é um penhasco e eu sinto um impulso angustiante para pular, o que é totalmente contra todo instinto de autopreservação que tenho como ser humano.

Eu amava sim os dois. Por que desde que esse aqui matou a minha irmã e o outro veio curar minha pele do abuso. Eu sabia que existia dois. Eu sempre soube. O olhar dele mudava, o comportamento mudava, a possessividade de um era diferente da do outro. Um brigava comigo, falava absurdos e me chamava de maldição. O outro dizia que tudo tinha um motivo e me respeitava. Eram dois, sempre foi.

O MaculadoWhere stories live. Discover now