Capítulo 9 | Até No Vazio Que Me Dá

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Quebrar a atmosfera particular que Carolina e Natália aproveitaram durante o fim de semana, se dividindo entre afagos, carinhos e toques lascivos que faziam gemidos ecoaram por todo o apartamento, foi especialmente difícil.

Ainda que a contra gosto, com o início de uma nova semana voltaram a suas rotinas. Com as mentes desanuviadas da angústia causada pelas incertezas e o distanciamento, Natália deixou de se isolar na estufa da propriedade dos Cardoso e Carol conseguiu entregar as notas e relatórios que precisava.

O fim das responsabilidades da professora na universidade significava que ela havia conseguido dar conta da demanda dupla de trabalho que precisou assumir às pressas, mas também a disponibilidade de passar mais tempo com Natália. Apenas elas matando a saudade profunda, quase adolescente, que sentiam uma da outra sem a preocupação iminente com o que acontecia para além da bolha que criavam com tanta facilidade.

As trocas de mensagens voltaram a ser constantes, as saídas para compartilhar uma refeição e as ligações noturnas até uma delas pegar no sono, já tinham se tornado parte do cotidiano delas. Entretanto, sempre sentiam que era tão pouco perto da falta que sentiam. Independente de quantas conversas, risadas, beijos e carícias sempre acabam querendo um pouco mais uma da outra, cada vez mais.

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Carol

Terminei tudo

Finalmente to livreeeeeeee

Natália

Jura?

Não gosto de pegadinha não

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Assim como em outras vezes, Carolina convidou Natália para jantar em seu apartamento, contudo, dessa vez deixou claro o desejo de que a fotógrafa ficasse para passar a noite com ela.

Carol saiu da faculdade apressada criando mentalmente uma lista de afazeres para receber Cardoso: dobrar as roupas limpas esquecidas no sofá, arrumar a cama, verificar se tinha comida o suficiente e lavar o cabelo. A professora sabia que Natália pouco se importava com quaisquer uma das tarefas que separou, fora ter comida em casa, porém Soffredini queria dar o melhor que podia para a fotógrafa, afinal era o que sentia estar recebendo dela a cada momento e sem dúvida alguma Carol achava que ela merecia essa reciprocidade.

Desde que recebeu o convite da professora, Natália ficou inquieta ansiando para que as horas passassem, mas a cada olhada no relógio se frustrava por o tempo não andar no mesmo ritmo de seu desejo. Na tentativa de controlar seu nervosismo a fotógrafa arrumou uma bolsa com roupas, produtos de higiene, seu perfume preferido e rumou para um de seus refúgios preferidos em momentos de ansiedade, a academia.

Horas mais tarde, após vários exercícios de musculação e um banho desconfortável no vestiário, Natália entrou no tão conhecido apartamento sem bater ou tocar a campainha, outro costume que adquiriram com a convivência.

– Oi, querida. – Disse fechando a porta e se assustou ao ver uma loira de curtos cabelos cacheados sentada no sofá junto de Carolina. – Desculpa ir entrando, você não me avisou que teria visita.

– Nem eu sabia que teria. – Carol falou com dificuldade em esconder o incômodo. – Natália esta é a Ester. – Apontou para a mulher mais velha.

– Oi, prazer. – Se levantou, sendo seguida pela professora, indo em direção a fotógrafa sorrindo cheia de simpatia. – Sou a mãe da Carolitoca.

– Prazer. – Estendeu uma das mão para cumprimentar a possível futura sogra com gentileza. – Sou a... – Por instantes Natália sentiu o nervosismo e a insegurança tomar conta de si, mas em uma rápida troca de olhares Carolina entendeu e completou a fala dela.

– A mulher com quem estou saindo. – Abraçou a fotógrafa de lado. – E tem me feito muito bem. – Deu um sorriso brilhante que fez o coração de Cardoso bater descompassado.

– Já que seu date chegou vou deixar vocês aproveitarem seus planos e voltar para meu hotel. – Pegou sua bolsa no sofá, beijou o topo da cabeça de Carol e saiu do apartamento deixando as mulheres atônitas encarando a porta.

– Acho que nunca vi alguém saindo de um lugar com tanta rapidez. – Natália comentou brincalhona, mas assim que se virou para Carol o arrependimento surgiu. Os olhos verde água que a fotógrafa tanto gostava de admirar não estavam com o brilho de praxe.

– Ela é praticamente profissional em sumir, uma hora você acaba acostumando. – Envolveu Natália em um abraço apertado que foi instantaneamente retribuído da mesma forma. – Se eu falar que não estou mais no clima dos nossos planos e nem sei se vou conseguir recuperar você vai ficar chateada? – Carolina perguntou ainda no meio do abraço, com a bochecha repousada no ombro da fotógrafa.

– Claro que não, Carol. – Natália falou sem pensar duas vezes. – Você comentou pouco sobre a Ester, mas não preciso ter uma mente brilhante como a sua para poder entender que sua relação com ela te afeta bastante. – Acariciou os cabelos escuros até Carolina se afastar.

– Infelizmente tudo que tem ligação com ela me abala bastante e fico me sentindo imatura, sabe? – Soltou um suspiro irritado. – Poxa, passei dias trabalhando que nem doida querendo aproveitar um tempo com você, mas agora nem sei mais se sou uma boa companhia.

– Vou adorar te mimar até você se sentir bem novamente, a menos que prefira que eu vá embora, é o que quer?

– Não, Natália. – Respondeu de imediato. – Mas estou me sentindo meio frustrada por não ter mais energia para o que tínhamos pensado para hoje a noite.

– Carol, eu não vim até aqui pensando só em transar, vim para matar a saudade da sua companhia. – A fotógrafa sorriu docemente olhando no fundo dos olhos verdes tentando transmitir toda a segurança que sentia. – Qualquer plano ao seu lado é mais do que bom para mim.

– Mesmo se o plano for assistir algum anime que você provavelmente vai ficar confusa? – Brincou tentando deixar sua chateação de lado.

– Até mesmo assim, mas acho que vou precisar de algum incentivo.

– Que tipo? – Carol enlaçou suavemente a cintura de Natália.

– Nada que um beijinho ou dois não resolva.

– Acho que posso providenciar isso. – Carolina sorriu e uniu seus lábios aos da fotógrafa de maneira carinhosa.


Ela está em todas as coisas

Até no vazio que me dá

Quando vejo a tarde cair

E ela não está


Talvez ela saiba de cor

Tudo que eu preciso sentir

Pedra preciosa de olhar

Ela só precisa existir

Para me completar

Ela Une Todas as Coisas | Jorge Vercillo

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O que achou?

Até o próximo ❤️

Deixa Eu Ficar Na Tua Vida | NarolWhere stories live. Discover now