Capítulo 11 | Sem Calma, Sem Nada, Sem Ar

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Desde jovem, Natália se recriminou por sentir demais, quase além da conta. Amou demais os pais na mesma proporção que se entristecia cada vez que deixavam claro que não aprovavam seus gostos e sua maneira de ser. Amou demais seu irmão gêmeo a ponto de sentir que sua morte prematura quase levou um pedaço de si para o caixão juntamente a ele, mesmo que Bruno tenha ficado ao lado dos pais quando a chamaram de aberração por ser lésbica. Amava com todo seu coração seu irmão mais velho, porém sua partida para morar no exterior para se afastar das cobranças dos pais a fez se sentir desamparada, e sua volta após perderem os pais e Bruno foi o que a não deixou desmoronar. Desde a infância amava intensamente a melhor amiga, a considerava uma irmã de coração, mas odiou quase na mesma proporção por pensar em interromper a gestação de seu sobrinho, que assim que nasceu passou a amar incondicionalmente como se fosse seu próprio filho.

Como se sua intensidade já não bastasse, ainda tinha sua impulsividade que quase tinha vida própria, a fazendo agir de maneira quase sempre inesperada até para si mesma. Foi assim quando subiu no palco para cantar com o guitarrista e vocalista de uma banda cover do The Who. A impulsividade também foi culpada de no auge dos trinta anos comprar um skate para ela e Marcos, na época com dez anos, aprenderem juntos a andar, mas na primeira tentativa de manobra caiu e quebrou o braço.

Em sua vida amorosa acontecia o encontro entre a intensidade e a impulsividade, que inúmeras vezes renderam a Natália relações rápidas e caóticas com mulheres de temperamentos complicados de se lidar. A fotógrafa perdeu as contas de quantas vezes se apaixonou imensamente, mas em pouco tempo o interesse se esvaiu, antes mesmo de a fotógrafa conseguir vislumbrar o amor. Justamente por nunca ter vivido na pele o que era romanticamente amar alguém, ao conhecer Carolina entendeu perfeitamente seu questionamento sobre não saber se o que sentia por Ulisses era o suficiente para querer se casar com ele e antes de pensar direito se propôs a ajudar na tarefa de auto análise da professora.

Conforme ela e Carol se falavam por mensagens e se conheciam cada vez mais, não foi difícil para Natália perceber em si o interesse pela bela mulher de lindos olhos verdes, mas por já estar acostumada a ter sentimentos efêmeros nem se deu ao trabalho de lidar muito com eles. Quando se deu conta de que o que sentia não se parecia com as paixões que conheceu nem ao menos teve tempo de se desesperar, a presença constante de Carolina em sua vida parecia inebriar sua mente e afastar qualquer questionamento que pudesse fazer a si. As piadas que facilmente podiam ser entendidas como flertes praticamente pulava de sua boca sempre que avistava os belos olhos esverdeados, mas sempre eram respondidas à altura, deixando a fotógrafa cada dia mais perdida em seus sentimentos.

Contudo, quanto mais confusa sobre o que sentia mais certa do que era ficava.

– Foi muito difícil para você descobrir o que sente por mim? – Após minutos perdida em pensamentos, Natália perguntou quebrando o silêncio confortável que ela e Carol compartilhavam entre carícias gentis em seus corpos nus entrelaçados.

– Sim e não. – A professora respondeu de pronto. – A primeira coisa que pensei assim que te vi foi "nossa que mulher linda". Mesmo no meio da confusão e de questionamentos que pareciam infinitos sobre casar ou não com o Ulisses nunca tive dúvidas sobre me sentir atraída por você, sabe? Esses braços definidos não me permitiram ter qualquer margem para isso. – Brincou as fazendo rir juntas. – A cada coisa nova que descobria sobre você fez com que me encantasse por cada detalhe da sua personalidade meio maluquinha, mas não nego que na noite em que terminei com o Ulisses fiquei meio receosa? Assustada? Não sei exatamente que palavra usar para definir.

– Aquele dia eu podia ter sido menos direta, não é?

– Podia, mas não seria você mesma. – Beijou rapidamente os lábios bem delineados da fotógrafa. – E não foi isso que me deixou mexida. – Carol fez questão de levantar ligeiramente seu tronco para observar a confusão nos olhos castanhos. – O que me deixou meio abalada foi perceber que desde a primeira piada dúbia que você fez eu facilmente teria caído na sua lábia se tivesse percebido que não era mera brincadeira. Quando começamos a ficar cada toque, palavra de afeto ou olhar que você me direcionava começou a mexer muito comigo, a intensidade nunca havia sido exatamente uma característica muito presente em mim, mas depois de que te beijei senti tudo profundamente virou parte do meu cotidiano. Como se tivessem alterado a saturação de cores do meu mundo e finalmente tivesse encontrado a graça, sabe?

– Fazendo exemplos com detalhes de fotografia, professora?

– Tenho que fazer jus a minha namorada.

– Namorada? Não me lembro de nenhum pedido não. – Disse em um falso tom inocente.

– Não? Achei que falar que te amo após tantas semanas com você praticamente morando comigo estava subentendido. – Carolina sorriu maliciosamente antes de colar seus lábios de Natália em um beijo caloroso enquanto se sentava sobre seu quadril.

– Talvez você esteja certa, mas não sei se estou convencida o suficiente para confirmar que estamos namorando.

– E o que preciso fazer para te convencer, meu amor? – Perguntou espalhando beijos pelo pescoço bronzeado fazendo a fotógrafa arfar.

– Tudo que você quiser desde de que me leve a outro orgasmo, amor. – Gemeu completamente entregue a Carol ao sentir seus lábios descerem por seu colo fazendo sua pele já sensível se arrepiar com o contato.

– Vou adorar realizar esse pedido. – Mordeu de leve o mamilo até então livre. – Deseja mais alguma coisa, Natália?

– Acho que agora meu nome não é o jeito certo de me chamar.

– E qual seria? Meu amor?

– Sim – Disse entre gemidos despudorados sentindo os dedos habilidosos de Carol em contato com sua intimidade.

– Como quiser, meu amor.


Pra quem não sabia contar gotas

'Cê aprendeu a nadar

O mar te cobriu sereno

Planeta marte


Sem ponto, sem virgula, sem meia, descalça

Descascou o medo pra caber coragem

Sem calma, sem nada, sem ar

Psiu | Liniker

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O que acharam?

Obrigada pela leitura ❤️

Até o próximo capítulo

Deixa Eu Ficar Na Tua Vida | NarolOnde histórias criam vida. Descubra agora