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É uma sexta-feira à noite quando minha mãe me liga. Não falo no telefone com ela há mais de duas semanas, apenas trocando mensagens aqui e ali, e, quando ela me liga, estou deitada no colo de Bruno, assistindo TV. Atendo sem pensar muito.

— Oi, mãe! E aí?

Ela me olha, confusa, pela tela do celular, e vira a cabeça, como se tentasse enxergar algo que não estou mostrando.

— Tá onde? — pergunta.

— Em casa, ué. A gente tá vendo TV.

Mostro Bruno para ela, e ele acena.

— Oi, sogrinha.

A confusão no rosto dela, admito, é boa demais. Por um segundo, fico nervosa pensando no que ela vai dizer, enquanto ela parece fazer as contas do que está vendo. Saio do colo de Bruno e me sento no sofá, ajeitando o cabelo.

— Mãe? Tá viva? — brinco.

Ela balança a cabeça.

— Eu não vou nem falar nada.

Reviro os olhos e me levanto, fazendo meu caminho pelas escadas até o quarto, onde vou poder falar com ela sem que ela precise se preocupar com o que Bruno vai ou não ouvir. Não é até eu fechar a porta que digo:

— Vai, pode falar.

Ela ri, e a risada vira um acesso de tosse momentâneo até se transformar em riso de novo.

— Eu sabia! Sabia que isso ia acontecer!

— Isso o quê? — pergunto, me fazendo de desentendida.

— Isso aí! Vocês dois! — ela diz, rindo de novo até ter outro acesso de tosse.

Uma pulguinha começa a dançar atrás da minha orelha.

— Mãe, você tá bem?

— Tô, Sabrina. É só rinite. — ela responde, sem se abalar.

— Tem certeza? Você foi no médico? — insisto, embora a probabilidade de a minha mãe, hipocondríaca veterana, ter alguma coisa e não saber seja próxima de zero. Ela é paranoica demais para isso.

— Não foi você que me deu uma bronca da outra vez por ficar indo no postinho toda hora? — minha mãe diz, perdendo a paciência — Ou é pra eu ir no médico ou não é pra eu ir no médico, Sabrina!

— É pra você ir se você tiver algum sintoma, né?

— É só tosse, Sabrina! Eu nem saio de casa, da onde é que eu vou pegar alguma coisa?

— E o Rodolfo? Ele ainda tá entrando e saindo daí?

— Sabrina, não muda de assunto, não, que agora eu quero saber desde quando que você está dormindo com o seu marido!

É minha vez de rir, e a gargalhada interrompe minhas preocupações. A resposta é um tanto complexa — dormir nós dormimos juntos há meses. Mas dormir, dormir, aí já é outra história. Respiro fundo e solto o ar devagar antes de responder.

— Faz pouco tempo. As coisas só meio que aconteceram.

Aconteceram, é? Você roçou nele por acidente?

— MÃE! — grito, explodindo de tão corada. Ela ri, dessa vez sem tossir, e abana a mão na frente da câmera.

— Ah, vá, Sabrina, eu sei bem como essas coisas funcionam! Vocês dois aí trancados há mais de mês, iam acabar se pegando alguma hora! — ela diz, despreocupada — Só me faz um favor e não engravida dele, tá legal? Você não sabe o que vai acontecer quando isso tudo acabar, se você ainda vai querer isso quando a quarentena acabar.

De mala e cuiaOnde histórias criam vida. Descubra agora