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Assim que chego na casa grande e vazia subo as escadas em direção ao meu quarto, entro no mesmo inteiramente branco e frio. Jogo minha mochila no chão e me deito na cama verificando meu celular, como sempre não tem nada mas a trouxa aqui insiste em procurar. Não tenho amigos, quem me mandaria mensagens? Meu pai? Até parece né, me poupe. Eu e minha irmã só nos falamos quando é urgente, acho que sou a pessoa mais solitária que existe.
Deixo o celular de lado e vou tomar um banho, sinto a água quente que escorre por meus cabelos relaxando meu corpo tenso. Depois do banho me visto e vou para a cozinha, já é hora do almoço.

- Boa tarde Beatriz - diz a senhora.

- Boa tarde Dóris - respondo a mesma. Dóris é a nossa cozinheira, ela sempre está em casa, eu gosto dela mas não é como se ela fosse uma amiga, ela tem marido e filhos e não é a única cozinheira que aparece por aqui. Ela também é brasileira, a maioria dos que trabalham pro meu pai são brasileiros.

- Está de bom humor hoje? - ela pergunta enquanto coloca as panelas na mesa.

- Como assim? - sento-me na cadeira mais próxima de mim mordendo uma maçã.

- Você nunca me dá boa tarde - ela responde - E largue já essa maçã é hora do almoço - Dóris repreende sem olhar pra mim - Tire os pés da mesa! - ela diz assim que me vê e eu reviro os olhos obedecendo.

- O que tem hoje? - indaguei inclinando meu corpo sobre a mesa.

- Hoje temos bibimbap, kimchi e gochujang, sem falar dos acompanhamentos - a mesma destampou as panelas e saiu.

- Beleza - encaro os alimentos e me sirvo - Almoçando sozinha mais uma vez Beatriz - ironizo.

Mais tarde, enquanto rabisco desenhos aleatórios em meu caderno alguém bate na porta.

- Entra - digo alto e a porta de abre.

- Senhorita - vejo o meu motorista Daniel - Você tem visita - ele anuncia sem entrar no quarto.

- Eu desço em dois minutos - aviso e ele se retira fechando a porta.

Isso não é normal. Primeiro que Daniel não é a pessoa que vem até o meu quarto pra me avisar de visita, ele vem me chamar quando vamos sair e eu acabo me atrasando ou quando eu o chamo. E segundo quem é que me visitaria? Eu já disse que não conheço ninguém, bom, conhecer conheço mas não tenho amizades. Estranho, muito estranho. Olho no espelho e vejo minha feição cansada, dou um jeito no cabelo úmido o prendendo em um rabo de cavalo, vou até o banheiro e lavo o rosto a fim de melhorar a expressão sombria que carrego.
Com as minhas casuais roupas pretas, eu desço as escadas avistando alguns seguranças que cercam o sofá. Assim que chego no último degrau reconheço o garoto de cabelos verdes claros sentado em meu sofá, dou um sinal com a cabeça para os seguranças indicando que o coreano não é uma ameaça e eles se retiram da sala, me deixando sozinha com o garoto. Ele se levanta e em seguida se curva, eu congelo meus olhos olhando através dele sem repetir o ato.

- O que faz aqui? - pergunto sem demonstrar expressão.

- Vim ver você - ele responde no mesmo tom.

- Desde quando você quer me ver Yoongi? - cruzo os braços impaciente.

- Se quer saber, já faz um tempo - ele deu um passo a frente se aproximando pois nos encontrávamos a um metro de distância.

- Eu não tenho motivos para acreditar nas suas palavras - digo ríspida.

- Beatriz você me preocupa - ele falou fazendo uma pausa - Ou você acha que nunca liguei por você agir estranho e nunca deixar eu me aproximar de você? - indagou ainda sem expressão. Ele é profissional nisso.

- Yoongi - eu caminho até ele e digo - Eu não vou me machucar de novo.

- Essa história de novo - ele reclama.

Ok, ele que reclame. Hoje em dia eu não to nem aí pra ninguém, mas quando eu era mais nova eu ligava. Agora eu sou fria e sei me cuidar, mas antes eu queria fazer amigos, tinha medo de ficar sozinha. Só que todas as amizades que eu fiz me decepcionaram, todos me fizeram mal e me deixaram quando eu precisava deles. Nenhuma amizade era sincera, todas falsas. Depois de muito tempo quebrando a cara eu aprendi a não ser boba de ninguém, aprendi que eu não preciso de ninguém.

- Eu estou falando com você - ele agarra meu pulso mas eu o puxo de volta.

- Me deixa Yoongi! - eu subo as escadas correndo enquanto ele grita o meu nome. Por que essa insistência? Eu já disse que não quero amizades, mas ele insiste em se aproximar de mim. Por que?

Min Yoongi foi um dos primeiros garotos que conheci na escola, ele é bem parecido comigo mas isso é o que mais me dá medo de me apegar a ele, não sei se aguentaria mais uma decepção. Entro no meu quarto o deixando sozinho na sala, daqui a pouco ele vai embora. Me deito e pego no sono sem querer. Acordo com batidas na porta, solto um "abre".

- Beatriz? - ouso uma voz familiar mas não consigo reconhecer quem é pois minha visão está embaçada, olho pra cima e reconheço os cabelos verdes.

- Por que ainda está aqui? - digo deitada ainda sonolenta - Eu não quero ser sua amiga.

- Eu não sei porque você pensa assim mas eu quero te ajudar, desde que te vi chegando na escola pela primeira vez senti que deveria fazer alguma coisa - ele disse, seus olhos estavam vermelhos.

- Há quanto tempo está aqui? - digo, sem querer ignorando seu desabafo.

- Algumas horas - falou desapontado.

- Yoongi - me sentei na cama o encarando - Eu já me magoei muito com amizades, não vou deixar isso acontecer de novo - esclareci.

- Eu não vou te magoar Beatriz, por que eu faria isso? - indagou sem entender.

- Eu não sei - começo a cochilar e digo - Volte amanhã, não posso conversar agora.

[...]

Manhã de sexta feira, meu dia preferido da semana. Daniel me leva até a escola onde permaneço imóvel até que o sinal bate para o intervalo, odeio intervalos. Alguém diz "ah mais é a hora de zoar e descansar dos professores chatos", é legal quando você tem amigos pra ficar com você, agora quando não tem você é obrigado a ficar sozinho.

- Oi - ele aparece.

- Oi - digo e me sento na mesa vazia.

- Posso me sentar com você? - ele me pergunta e eu dou de ombros - E aí, como você tá? - ele tenta puxar conversa.

- Como sempre - respondo após alguns segundos.

- E como é o seu "sempre"? - ele diz antes de dar uma mordida em seu sanduíche.

- Eu não tô afim de conversa Yoongi - digo seca e ele bate as mãos a fim de limpar os farelos de pão.

- Ta bom - diz ainda mastigando - A gente se vê depois - ele fala e se levanta da mesa me deixando sozinha novamente.

Por que ele tinha que sair desse jeito? Aff, eu detesto o modo que ele age como eu. Por que temos que ser tão parecidos? Eu não admito mas é, eu preciso dele.


Primeiro capítulo da fic nova,

Espero que não tenha sido uma leitura cansativa..

Comentem o que acharam,

E não esqueçam da estrelinha ;)

Te amo vocês.

» Save Me - Hoseok «Where stories live. Discover now