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-Isobel, coma seu almoço. – digo para ela que mexe no seu prato com a colher, mas não come nada.

-Não estou com fome papai.

-Você precisa comer alguma coisa. Por favor, só tente.

Ela pega a colher e coloca alguns grãos de arroz na boca mastigando lentamente.

Estou ficando a cada dia mais preocupado com ela, desde que voltou está assim, só que a cada dia pior. Ela está quase curada da sua perda de memória, as vezes se esquece de algumas coisas ou de pessoas menos conhecidas mas segundo seus médicos sua recuperação foi rápida. O problema mesmo é que ela está entrando em uma depressão que está afetando tudo o que ela faça.

Isobel está fazendo vários acompanhamentos médicos inclusive psicológicos. Uma vez por semana a levo para consultas com uma psicóloga, inclusive hoje após o almoço iremos a uma. Faço questão de leva-la e acompanha-la. Depois do horror que passamos há algumas semanas não quero me distanciar dela como antes.

-Papai eu não quero ir na psicóloga. Não preciso dela.

-Nós temos que ir querida, é muito importante para você agora. É só mais um tempo.

-Mas...

-Nada de mais, termine de comer e vá se arrumar.

-tá bom. – ela está desanimada, é doloroso a ver assim, ela pega sua colher novamente e começa a comer lentamente o que tem no prato. Acabo minha refeição e fico a observando enquanto termina a sua, porém, deixa metade no prato. Não reclamo, isso já é um avanço.

-Vá se arrumar, Andreia vai te ajudar.- ela se levanta da cadeira e a coloca no lugar.

-Eu sei me trocar pai, Charlotte me ensi... – ela para sua frase – Papai eu acho que não estou... – sem terminar sua frase ela emborca seu corpinho e vomita todo seu almoço no chão.

-Isobel, Meu Deus – me levanto do meu lugar e corro para segura-la, assim que o faço ela já está desmaiando em meus braços.

-Andreia! Andreia!!- levanto Isobel e a carrego em direção a seu quarto.

-Sim senhor. –ela aparece no mesmo segundo.

-Chame o Dr. Alexandre agora! – ela não me responde apenas se vira e sai correndo desengonçada.

Levo Isobel para seu quarto, deito-a em sua cama e sento ao seu lado. Coloco meu cotovelo no joelho e me curvo escondendo meu rosto nas mãos. Não sei mais o que fazer, já tentei tudo que podia. Ver ela se deprimindo e passando mal todos os dias está me corroendo por dentro.

-Não fica triste papai. – me viro para ela, e ela tenta se levantar da cama.

-Não, fica deitada. - vou até seu cômoda e busco uma toalha. –Fica quietinha enquanto o Dr. Alexandre chega. – limpo o vomito do canto da sua boca com a toalha.

-Mais médico? Eu já estou boa, olha! – sorrio da sua tentativa de tentar se livrar do médico.

-Sim, claro que está, mas ele só vai te fazer uma visita e confirmar isso.

-Não acho que precisa.

-Com licença, Dr. Alexandre chega em dez minutos. – Andreia entra no quarto com a voz apressada.

-Ah sim, obrigado.

-E mais uma coisa, chegou um pacote de Nathan que você estava esperando.

-Peça para Jonas deixar no meu escritório.

-Claro, com licença. – ela sai na mesma pressa que entrou.

Dez minutos depois, assim como Andreia disse, Dr. Alexandre chega. Ele examina Isobel detalhadamente e ela reclama milhões de vezes que estava boa e que não precisava ir morar no hospital.

-Ora, não precisa mesmo, mas você pode ficar só mais um pouquinho melhor não é mesmo?- O doutor diz em tom amigável.

-Pode ser.

-Claro que sim, agora descanse um pouco que vou conversar com seu pai. Você parece com muito sono.

-É, estou mesmo. Não vamos mais na psicóloga papai? - ela pergunta e eu dou uma risada abafada.

-Não hoje querida.

-Eba! – ela comemora. – Boa noite então. Ela se vira em sua cama e finge que está dormindo.

-Oh quão rápido ela é- Doutor Alexandre ri- Podemos conversar Senhor Crewe?

-Claro, venha no meu escritório. – saio e ele vem atrás de mim, mas antes peço que Andreia fique com Isobel.

Chegamos em meu escritório, sento em minha cadeira e indico outra para que ele se sente.

-O que ela tem Doutor? - vou direto ao assunto.

-Creio que o problema da Isobel não seja físico e sim mental. Ela passou por muita coisa, essa perda de memória a abalou muito.

-O que o senhor recomenda que eu faça?

-Converse a psicóloga dela, ela sabe certamente como tranquilizar a mente de sua filha, mas se me desculpe a intromissão... creio que o senhor já saiba a resposta.

-É... Eu sei isso há alguns dias.

-Ela não está nada bem, esse não é um comportamento certo para uma criança. Ela pode até melhorar sozinha, entretanto, isso que o senhor presenciou hoje vai se repetir por mais alguns meses. Depressão infantil é algo muito sério.

-Entendo, vou fazer tudo ao meu alcance. Ela não pode piorar. Não vou deixar.

-Sei que vai fazer. Se ela tiver alguma recaída me ligue na hora, agora se me permite tenho uma consulta em alguns minutos, preciso ir.

- Ah sim, muito obrigado Doutor. –me levanto, aperto sua mão e o acompanho até a porta do escritório, a fechando em seguida.

Pego um copo de uísque e o encho, levo-o até minha mesa e me sento.

O pacote que Nathan me mandou está em cima da mesa, como pedi. Ele estava viajando ao exterior, terminou sua investigação lá e me enviou. Mas obviamente demora muito tempo para chegar.

Abro o lacre da transportadora retiro os papeis do pacote. Como imaginei é a vida completa da garota que me trouxe Isobel.

Seu nome realmente é Charlotte, Charlotte Vidal, veio de Sergipe, não tem casa definida, está morando em uma pensão, sem casos de criminalidade. Estranho Nathan não encontrou nenhum parente dela. Tem alguns dados sobre antigos empregos dela, ela já trabalhou em uma loja minha? Fico surpreso. Atualmente trabalha em um pet shop. Que aleatório.

Ela parece só mais uma pessoa normal. Além disso, ela não fez mal algum para Isobel, pelo contrário, pelo que minha filha me contou orgulhosamente sobre ela, Essa tal de Charlotte parece ter a ajudado muito, além de ter sido muito boa para ela. Ela era a única pessoa conhecida no mundo para Isobel, não posso julgá-la.

Mas continuo com o pé atrás com essa garota. Porém, não tenho outra escolha, não suporto ver minha menininha naquele estado.

No final do relatório Natan deixa uma observação, deixando bem claro que Charlotte é apenas uma garota normal sem muita sorte na vida.

-Isso acaba hoje. – penso em voz alta.



Meia Noite e Um - Completo ✔Where stories live. Discover now