três

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  Faltava exatamente dez minutos para a lanchonete fechar e eu vi o cara do cabelo de algodão doce entrar.

  Ele parecia péssimo. E quando eu digo péssimo, é no sentido mais literal o possível da palavra.

  Ele estava encolhido dentro de um moletom muito maior que seu corpo e eu quase não via seu cabelo rosa chamativo por ele estar coberto pelo capuz da blusa.

  Quando ele chegou perto do balcão, eu atendia uma senhora, ela me pagou e sorriu agradecida, me desejando boa noite e logo indo embora. Ele deveria ser gentil como essa senhora. Quando chegou sua vez ele se apoiou no balcão e se inclinou em minha direção me deixando desconfortável, eu não gosto quando ele fica tão próximo.

  O cheiro de cigarro em suas roupas não era tão forte como o das outras vezes.

—Hoje dois maços. – ele pediu e eu lhe entreguei sem dizer nada. Ele se afastou e abaixou a cabeça soltando uma tosse sôfrega. Mordi minha língua tentando ficar quieto, mas eu não posso perder uma chance de mostrar meu desgosto.

—Eu disse que deveria fumar menos. – as palavras escaparam e assim que eu percebi tampei minha boca. Eu não devia estar me metendo na vida dele. O cabeça de algodão doce riu rouco e voltou a se inclinar sobre o balcão.

—É só uma gripe, docinho. – o encarei com raiva, não gosto que me chamem de docinho. Na verdade, ninguém nunca me chamou assim, mas ele chamou e isso já é motivo o suficiente pra eu não gostar. Ele largou o dinheiro no balcão, mas continuou próximo.

—Você deveria procurar um médico. – sugeri.

—Eu não preciso de um médico pra me indicar remédios pra gripe. – ele debochou.

—Eu estou falando de um psiquiatra. – zombei sorrindo.

—Eu deveria reclamar do seu atrevimento para o gerente. – ele pareceu pensativo e na mesma hora eu congelei, ele não seria capaz de fazer isso, seria? Tudo bem que eu realmente não deveria falar assim com um cliente, mas ele vem me importunando há dias e eu acho que tenho o direito de me defender. – Mas eu gosto. – ele piscou pra mim e pude sentir minha bochechas esquentarem. Ah, merda, acho que eu estou corado.

—A... a fila está aumentando. – murmurei, tentando fazer com que ele saísse logo dali.

—Ah, sim. Claro, me desculpe. Até amanhã, docinho. – ele deu um passo pra trás e virou, indo embora.

Ele está mesmo flertando comigo?

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minha eu do futuro (2023) revisando isso precisa comentar sobre como eu AMO esse cap

Cigarettes - taegi ver.Where stories live. Discover now