02. pé na estrada

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O ar-condicionado da SUV do Sr. Henderson era o único som audível dentro do carro. A brisa silenciosa e fria era relaxante, mas Alia apenas respirou, verdadeiramente aliviada, quando o Sr. Henderson desceu a rua e fez a curva, se distanciando da casa dos pais dela.

O dia estava quente para as 10 horas da manhã. Crianças corriam pelo parque, brincando debaixo das árvores com as mães e as babás, passarinhos cantavam em fontes e músicos de rua tocavam sua melodia alegre pelas esquinas. O dia estava lindo, mas Alia Nazario estava prestes a atear fogo a si mesma.

Alia não conseguia olhar para o rosto dele. Não com aquela marca de batom vermelho ali, a encarando como se fossem cúmplices de um crime. Ela ignorou a bochecha direita do Sr. H., tentando pensar em outra coisa, mas sua mente maligna puxava seus olhos para a maldita marca de batom como um ímã. Tão logo o carro parou no semáforo vermelho, Alia engoliu em seco.

— Sinto muito pela minha mãe — disse ela. A marca de batom ainda brilhava no rosto bem barbeado do Sr. Henderson como um troféu de guerra. Ele lançou uma olhadela confusa a Alia antes de voltar a atenção à rua. — Digo, todos os abraços, beijos e... e perguntas sobre nossos... nossos futuros bebês.

— Sua mãe é uma mulher muito carismática, Alia. E seu pai...

— Sinto muito por ele, também — disse ela, antes que ele continuasse. — Ele é muito... sinto muito.

— Não sinta. Seus pais são incríveis. — Ele sorriu antes de franzir o cenho por um momento. — Apesar de eu ter achado que seu pai estava prestes a me matar quando você me apresentou...

— Ele é um pouco... superprotetor às vezes. Sinto muito. Se não fosse pelo problema de encanamento no meu apartamento não precisaríamos ter de, o senhor sabe, mentir ou... ou falar sobre bebês e casamento. Eu realmente sinto muito, Sr. Henderson.

O encanamento do banheiro dela decidiu dar problema justo na noite anterior, quando tudo o que Alia queria era tomar um banho quente após o longo dia de trabalho e propostas esquisitas. Quando nada além de água fria e escura saiu de seu chuveiro, Alia ligou para os pais — quase chorando — e perguntou se não poderia passar a noite com eles. Como sempre, eles a receberam de braços abertos e com um prato repleto de quipes dominicanos deliciosos.

E quando o Sr. Henderson apareceu na manhã seguinte para buscar Alia, a mãe dela ficou tão feliz em conhecer o novo namorado da filha que o forçou a entrar, tomar uma xícara de café e a responder perguntas insistentes sobre a família dele. O pai, por outro lado, encarava o novo genro com braços cruzados e uma carranca duvidosa. Apesar de o Sr. Henderson ter segurado sua mão o tempo todo, sorrindo e sendo encantador diante de perguntas tão íntimas e constrangedoras, Alia só quis cavar uma cova e morrer.

Principalmente quando a mãe não parou de falar em como Alia nunca havia apresentado um namorado à família antes. Ou como o Sr. Henderson ficaria lindo num smoking, esperando por Alia na outra ponta do altar.

— Tudo bem, Alia. — Ele riu, girando o volante. Com um olhar divertido, o Sr. Henderson deu de ombros. — Estamos namorando há um dia e já conheci seus pais para falar de bebês e casamento. Será que estamos indo rápido demais?

Ela escondeu o rosto nas mãos, mortificada demais para formular qualquer frase. O Sr. Henderson riu, fazendo Alia se sentir pior. Quando pensou que, um dia, seria a piada do próprio chefe? Vivendo e aprendendo.

— Realmente não sei o que dizer. Só que estou muito, muito, muito sem graça.

— Seu pai quase quebrou minha mão quando me cumprimentou, mas me parece um bom homem — disse ele, sorrindo. Os olhos castanhos do Sr. Henderson a miraram de relance. — Ah, e devo dizer que você está...

Cláusula de Amor | ✓Where stories live. Discover now