10. talvez, talvez

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Um grito agudo e risadas vieram do gramado quando May marcou outro gol. Da cozinha, Alia sorriu ao ouvir Dylan gritar um palavrão e ser quase imediatamente repreendido pelo vozeirão do tio Tom.

O casal, tio Tom e Edward ainda chutavam a bola de um lado para o outro, discutindo sobre jogadas e correndo entre as goleiras improvisadas como crianças. O resto do grupo, cansado pelo jogo, estava sentado à mesa de ferro do jardim, conversando e tomando um copo de suco com Jane, que evitou a partida por conta dos pés machucados.

Alia colocou os copos na bandeja e abriu o armário com uma careta, procurando pelos biscoitos. Lena, a velha senhora que cuidava da cozinha, havia ido ao centro fazer algumas compras, e tão logo os salgadinhos e biscoitos acabaram, Alia se ofereceu para pegar mais.

Através da janela em cima da pia, ela viu o Sr. Henderson rindo com Christine, mãe de May, e Rupert ao redor da mesa. Quando as covinhas dele apareceram, Alia foi incapaz de sorrir. Você realmente fica mais bonito quando sorri.

— Você precisa de alguma ajuda?

Alia quase deixou os copos e salgadinhos caírem ao ouvir a voz delicada de Jane em suas costas. Ela se virou, sem graça pelo pensamento, e sorriu para a modelo.

— Ah, oi. Hã, não, eu...

— Ótimo. — Jane sorriu e um pequeno silêncio, interrompido pelo som distante de risadas, preencheu a cozinha. — Para ser honesta, não vim para ajudar.

Era fruto de sua imaginação ou a voz de Jane retinha uma ameaça velada? Alia enrijeceu os ombros, observando Jane se sentar numa das banquetas com uma careta de dor. Edward havia, realmente, massacrado seus pés. Com um sorriso contido, Jane suspirou.

— Vim... conversar — disse ela, seus olhos cinzentos brilhando com interesse. Mais risadas vieram do gramado. — Para dizer algo a você, na verdade.

Alia engoliu em seco, as mãos agarradas ao balcão. Jane a encarou, esperando por palavras que não vieram. Seus lindos olhos cinzentos se fixaram no fundo da alma de Alia, que aflita por aquela espera maldita, tinha vontade de sacudir a modelo e extrair de uma vez as palavras.

— Não odeio você — disse Jane. Outro silêncio esquisito caiu sobre elas. A modelo sorriu sem graça, dando de ombros. — Sei que devemos odiar uma a outra por causa de... você sabe, mas não odeio você. Longe disso, na verdade. Só queria que você soubesse.

— Eu também não odeio você — respondeu Alia. Os olhos das duas se encontraram por um momento. — Eu nunca a odiaria por causa de... você sabe.

— Sei que a situação é esquisita, mas as meninas precisam ficar unidas, certo? — Jane sorriu de maneira contida após um breve silêncio reflexivo. Alia sorriu de volta. — O que me diz?

— Digo que não poderia concordar mais.

Jane não era tão ruim, apesar de tudo. Mas não é só isso, é? Alia despejou mais salgadinhos na tigela, espiando Jane ocasionalmente. Parada em frente à mulher mais sexy da atualidade, Alia sentiu-se pequena. Jane, ignorante do que se passava em sua cabeça, tamborilava os dedos no balcão, tentando formular alguma frase, ordenar os próprios pensamentos.

— Será um prazer estar na sua primeira passarela, Alia.

Alia abriu a boca, mas nenhum som saiu. Jane Vincent querendo modelar para seus vestidos desenhados com lápis de cor vagabundos não era algo que se ouvia todo dia. A modelo se ergueu da banqueta com dificuldade, estendendo a Alia um pacote de biscoitos. Sem graça, as duas sorriram.

— Obrigada, Jane. Significa muito para...

Dylan gritou outro palavrão, calando Alia. Ambas espiaram o gramado através da janela, e não foi difícil ver Edward e Dylan rolando pelo chão como dois garotos de escola, jogando futebol americano com a bola de futebol redonda. Da mesa, os outros torciam pelos jogadores.

Cláusula de Amor | ✓Where stories live. Discover now