14. epílogo

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05 MESES DEPOIS


Alia torceu os cantos da boca para o croqui, pegando outro lápis de cor de cima da bancada da cozinha. Sentada na banqueta, deixou os traços azuis preencherem o vestido de verão que surgia na folha. Uma vez terminado o desenho, Alia inclinou a cabeça, observando o croqui com olhos clínicos. Tudo deveria estar perfeito para a próxima estação. E para amanhã. Principalmente para amanhã.

De repente, contrariando o comichão esquisito no estômago, ela sorriu. Da vitrola, as Andrews Sisters cantavam uma melodia alegre, e o cheiro de chá de menta fez Alia fechar os olhos por um segundo. Em cima da bancada, seu celular vibrou com uma mensagem de Nat — Você realmente vai abandonar sua colega de quarto pelo Sr. Sexy hoje à noite?! — que Alia respondeu com um sorriso.

— Não trabalhe demais, amor — ele sussurrou, beijando o topo de sua cabeça e deixando uma xícara de chá de menta em cima da bancada. — Você vai arrasar.

— Não consigo evitar. — Ela pegou a xícara e sorriu quando ele se inclinou para ver os croquis, abraçando-a por trás descansando o rosto bem barbeado em seu ombro. — Você sabe que só vou relaxar amanhã à noite, Colin.

Após cinco meses de encontros, jantares românticos e passar algumas — muitas — noites no apartamento dele, foi quase impossível continuar chamando-o de Sr. Henderson. Usando calças de abrigo e nenhuma camiseta — o que, para ela, era bom demais para ser verdade —, ele sorriu, tomando um gole de chá.

— Não se preocupe. Vai dar tudo certo. — Colin abraçou-a, dando um beijo em sua bochecha. — E se você precisar de ajuda, Will e Zel estarão lá.

Quase sem pensar, Alia sorriu para os croquis em sua frente. O sonho se tornava realidade. Depois de usar lápis de cor baratos, desenhar durante a hora do almoço e entre as reuniões de seu chefe, o sonho finalmente se tornava realidade.

Amanhã à noite, com a benção de seus ídolos, Alia estaria pronta para sua primeira passarela. Seria apenas uma pequena amostra de cinco vestidos de verão — todos feitos por ela — ao final do grande desfile de William Sagger e Zelda Miller, mas seria alguma coisa. Um novo começo para o que, durante muito tempo, foi apenas um sonho impossível.

Você merece isso, a voz sussurrou em sua cabeça e, pela primeira vez, Alia concordou. Tomando um gole de chá, ela se virou para Colin, que a mirava com um sorriso que deixava à mostra suas covinhas.

— O quê?

— Você estava olhando para longe e sorrindo — disse ele. Alia baixou o rosto, sorrindo quando Maria Antonieta se esfregou em seus pés. — Não quis interromper seus pensamentos.

— Só estava pensando sobre tudo — confessou ela, dando de ombros para os croquis. — Tenho medo de acordar e perceber que... que foi tudo um sonho. Que não estou aqui escutando as Andrews Sisters com você, que Sagger e Zelda não têm a menor ideia de quem eu sou e que meus vestidos não estarão na passarela. Sinto muito, eu só... acho que estou sendo um pouco infantil.

Alia baixou o rosto novamente. Colin franziu o cenho antes de rir, descansando uma das mãos em cima da dela.

— Ei, é normal ficar nervosa — disse ele. Alia se levantou e o abraçou, cruzando os braços ao redor de seu pescoço. Colin ergueu as sobrancelhas e sussurrou: — E não se preocupe. Isso não é um sonho. Quer dizer, sim, a noite passada pareceu um sonho, mas...

Ela riu, escondendo o rosto na curva do pescoço dele.

— E amanhã — continuou Colin, abraçando-a com mais força —, quando todos verem Jane Vincent modelando para a nova protégé de William Sagger e Zelda Miller, você será obrigada a cumprimentar centenas de pessoas chatas numa festa lotada, além de responder a dezenas de perguntas exatamente iguais. Isso não é o máximo?

Jane insistiu em usar um dos vestidos de Alia quando o desfile acontecesse, e manteve a promessa. Após todos os tabloides anunciarem que o casal do momento, a modelo mais sexy do mundo e o campeão de Fórmula 1 da temporada, havia desistido da cerimônia, todos os jornalistas comentaram sobre um término que, na verdade, nem de longe ocorreu. Jane e Edward concordaram que seria melhor esperar um pouco antes de oficializar o relacionamento, e fugiram para Bali para nadar com golfinhos, transar na praia e ignorar toda a pressão do casamento.

E quando Jane ouviu que Sagger e Zelda pretendiam apresentar uma nova estilista na passarela daquela estação, ligou pessoalmente para Alia e não aceitou uma negativa como resposta. Como Alia sempre havia suspeitado, Jane era uma ótima pessoa apesar de tudo.

— É, acho que nunca vou ter como agradecer a Jane pela ajuda — disse Alia. Rindo, ela completou: — Mas confesso que vou deixar Nat lidar com a parte da festa.

— Ao contrário de nós dois, a Srta. Jensen sempre soube como se divertir em festas. — Ele sorriu. — E depois disso tudo, podemos... comemorar. Eu e você. Aqui.

Ela achou engraçado como as bochechas dele coraram um pouquinho, apenas o suficiente para que Alia erguesse as sobrancelhas. Maria Antonieta miou, e ela apertou os olhos.

— E como você pretende... comemorar?

— Ah, o usual. Podemos dar as mãos, trocar alguns beijos e dividir o quarto. — Ele sorriu e sussurrou: — Mas dessa vez podemos dividir a cama e os beijos não precisam ser tão inocentes assim. O que me diz?

— Digo para... comemorarmos agora — Alia sussurrou de volta, beijando o queixo dele. — E continuarmos comemorando amanhã, e depois de amanhã, e depois, e...

— Parece ótimo para mim. — Ele riu. Ela sorriu contra os lábios dele antes de puxá-lo, pela mão, para o quarto. Colin, entretanto, não se moveu. O olhar dos dois se encontrou. Ele sorriu, as covinhas aparecendo outra vez. — Você foi a melhor cláusula de todos os contratos que já fechei, Alia. Só para que você saiba.

Ela piscou algumas vezes, os dedos entrelaçados aos dele. As Andrews Sisters cantavam uma de suas poucas músicas românticas, e os chiados do vinil enchiam a sala de estar. As orelhas de Colin estavam vermelhas.

— Às vezes me pergunto se você é... de verdade — confessou ela, sem graça.

— Sou sim. — Ele riu, apertando a mão dela. Colin puxou-a para outro abraço antes de dar de ombros. — Quer dizer, não sou nenhum Sr. Darcy, mas...

— Você é muito melhor do que o Sr. Darcy.

— De um a dez...?

Alia balançou a cabeça, dando um selinho nele. Aproveitando o mistério, ela riu.

— Eu diria que você é um... oito e meio.

— Jesus, será que algum dia vou conseguir um dez?

— Não quero que você fique metido. Isso é pura...

— Ciência — interrompeu ele, revirando os olhos de maneira exagerada. — Por que não estou surpreso?

— Porque você sabe que é verdade. — Ela riu, puxando-o pela mão. — Vem. Vamos... comemorar.

— Veja só quem está fazendo as propostas interessantes agora...

Alia Nazario riu quando Colin Henderson seguiu-a para o quarto, seus braços envolvendo-a num abraço de urso. A música das Andrews Sisters se transformou num ruído de fundo, e Maria Antonieta miou na cozinha logo antes de Colin fechar a porta do quarto. O cheiro de chá de menta dos lençóis inundou o quarto quando os dois caíram na cama, rindo.

Então, encarando os olhos incrivelmente castanhos dele, Alia entendeu que a vida não era como um romance de Jane Austen, mas que tinha seus momentos. E para ser sincera, ela não trocaria nenhum pedacinho desses momentos para viver em Pemberley. Nem por uma chance única de ver e dançar com o Sr. Darcy num baile lotado.

Entretanto, por um certo Sr. Henderson, ela assinaria a linha pontilhada do contrato sem pensar duas vezes.

Cláusula de Amor | ✓Where stories live. Discover now