Um misterioso ajudante - parte 1

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Hevan acordou sentindo ardor dos ferimentos no peito e uma dor de cabeça insuportável. Percebeu que estava dentro de uma caverna e havia uma fogueira acesa à sua frente. No outro lado da fogueira estava um homem encapuzado, vestido com uma capa negra e roupas escuras, assando no fogo um pedaço de carne em um espeto feito com um galho de árvore. O elfo não conseguia ver seu rosto por completo, apenas a boca e dentes. Ele ria sarcasticamente.

– O pequeno elfo finalmente despertou de seu sono de beleza! Estou muito curioso para saber o que três aventureiros tão inexperientes como vocês estavam procurando por esses cantos.

Hevan levantou-se depressa e tentou puxar sua espada, mas percebeu que estava sem ela. O homem riu novamente, se esticou um pouco e pegou Mordaz de um canto perto dele.

— É isso que está procurando, pequeno elfo?

— Devolva-me! Essa é a espada de meu pai, e deve permanecer comigo!

— Não chore, criança! Eu lhe devolverei a espada assim que me provar que não tentará me fazer mal. Embora duvide que conseguiria fazê-lo, após ver sua pífia luta contra aqueles escaravelhos!

Hevan já tinha sido muito debochado durante toda a sua vida e, dessa vez, sem Mikelah para lhe apoiar, não iria deixar barato.

— Modere seu linguajar, homem! Não me conhece e não deveria julgar-me de tal forma! Agora me devolva essa espada e me diga onde estão minhas companheiras! — disse ele, ao rapidamente pegar uma das lenhas da fogueira para usar como arma.

No mesmo instante, Sarah e Alana entraram na rasa caverna com galhos e madeira para manter o fogo. A clériga iniciou o diálogo.

— Que bom que acordou, Hevan! Estávamos preocupados. Vejo que já conheceu Dart, o homem que nos salvou dos escaravelhos gigantes.

Dart acenou com um sorriso cínico e esticou a espada para Hevan pegar.

— Tome, rapaz. Não precisa ficar alterado.

O elfo pegou Mordaz e o olhou com grande ar de reprovação.

— Dart...? — perguntou Hevan, dando a entender que esperava ouvir um sobrenome.

— Apenas Dart.

Vendo que a resposta não pareceu o suficiente para Hevan, ele começou a se explicar.

— Sou um andarilho e conheço essa floresta como ninguém. Ao ouvir o som dos ventos, percorro toda ela para aprender o novo caminho. Eis que os encontro, estabanados em meio à uma batalha, e então resolvi ajudar. Posso acompanhá-los até a saída da floresta, se desejarem. Pelo que a clériga disse, parece que estão com pressa.

— Isso seria ótimo! — exclamou Alana. 

Ela mostrava-se empolgada com a presença de Dart, pois sua vestimenta e seu modo de agir lembravam muito os melhores membros dos clãs de ladrões. Hevan obviamente demonstrava insatisfação, mas logo lembrou que, se não fosse sua teimosia, talvez nada daquilo teria acontecido. Ele se aproximou de Sarah, observando Dart com o canto dos olhos.

 Ele se aproximou de Sarah, observando Dart com o canto dos olhos

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Dart, pelos olhos de Hevan

— Sarah, já que possui o poder de visualizar a bondade nas pessoas, o que me diz desse homem? — perguntou em voz baixa.

Como a maioria dos clérigos treinados, Sarah aprendeu com o poder das orações a detectar o mal em pessoas e objetos mágicos. Uma espécie de aura reveste o alvo, indicando sua essência. Tons azulados indicam bondade, enquanto uma aura mais avermelhada ou escura aponta propensão ao mal.

– Assim que acordei já me concentrei para enxergar bondade nele, mas é como se algum tipo de barreira me proibisse de fazê-lo. – Exibiu uma feição de frustração, como se tivesse culpa de não ter sido bem-sucedida. Depois, sorriu. – Contudo, meu coração diz que podemos confiar em Dart!

— Ainda estamos no meio da noite — interrompeu o sombrio andarilho. — Sugiro que comam algo e descansem. Eu ficarei de guarda até o amanhecer.

Alana e Sarah começaram a se servir. Hevan, ainda chateado com a situação, sentou-se num canto da caverna, um pouco mais afastado, e fez algo que costumava fazer quando queria espairecer: olhava para um medalhão que sempre estivera pendurado por um cordão em seu pescoço, imaginando e inventando estórias a respeito de seu significado. Não conhecia sua origem, apenas que estava junto dele, no cesto de vime, quando fora encontrado por Thelma.

A ladra, curiosa e tentando mais uma vez aproximação com o elfo, criou coragem e foi sentar-se perto dele para puxar assunto.

— Bonito medalhão. O que é?

Hevan respirou fundo e decidiu que o melhor no momento era se redimir por ter sido tão frio com Alana anteriormente.

— Não sei ao certo. Como Sarah já lhe contara quando as interrompi, fui encontrado por uma família de Marts à beira do Rio Sul. Mikelah me contou que junto comigo estava esse medalhão. Essa é a única pista que pode dizer quem eu sou e por que fui parar em Marts. Por isso, pedi para que Thelma me fizesse um cordão e, assim, pudesse sempre carregá-lo comigo. Tenho esperanças que isso ainda me traga respostas.

O medalhão media oito por cinco centímetros e tinha a forma de duas luas – uma negra e uma branca – se mesclando em sobreposição, lembrando o formato do número oito na horizontal. A parte alva era áspera e opaca, mas de um branco absoluto, e a negra brilhava como se fosse feita da mais perfeita ônix. Adornos feitos em bronze circundavam a joia por completo.

Alana, percebendo como o amigo estava abatido, ofereceu sua comida. Hevan hesitou, mas acabou aceitando. Durante a rápida refeição, ele contou mais de suas histórias à jovem. Sarah se pôs em oração em outro canto, enquanto Dart saiu da caverna para guardar a entrada. Após um certo tempo, todos caíram num merecido sono.

Os primeiros raios de sol começavam a entrar pela caverna quando foram acordados com Dart os chamando, com pressa.

— Precisamos ir. O dono da caverna está se aproximando!

Sem entender muito bem o que estava acontecendo, os três começaram a arrumar suas coisas para saírem do local, mas logo ouviram um sonoro urro vindo da entrada.

...

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Arlock - um conto de Ellora [Degustação]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora